segunda-feira, 23 de abril de 2018

ALZHEIMER


Registram os vazios de tua memória
Ausências e estopins, cansadas liças
Vez em quando vem luz à tua história
Ressurgida de tuas areias movediças
Teu cérebro, então, como menino leve
Traz a vida antiga para este agora cego
E te refaz, na paz desse espasmo breve,
Em sons e imagens que eu não enxergo.
Consulto o médico, a minha e a tua vida
Não têm respostas, mesmo no improviso
Do teu silêncio a doença enlouquecida
Gera mais escuridão ao nada, sem aviso.
Já não és sombra da pessoa que existia
No fundo de tua alma, um desconhecido
Embaralha e dita as cartas do teu dia a dia
Apagando rastros do que já tenhas sido.
A doença que sentes, sei e sequer conheces
Com a mesma intensidade me sangra, abate
Matando não apenas a ti, o amor que destes,
Também a mim, tão impotente para curar-te...

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