sábado, 4 de abril de 2020

QUARENTENA


Ontem, enquanto sentia o cair da neve
Eu escrevia o que nem sempre se escreve.
Que neve? Perguntou-me alguém, que neve?
A que se despenca na alma, não percebes?
Respondi sem me deter mais que o suficiente
Para não perder o fio do transe, do apelo
Do continuar escrevendo, freneticamente,
Tentando ganhar calor, derreter o gelo
Acumulado que me enregela o sonho
De acordar verão na paixão que ponho
Para além do café frio da indiferença,

No esbulho vindo da minha descrença.
Enquanto isso a neve faz de mim inverno
Detendo-me além do não me saber quem
Como tua ausência, causa deste inferno,
Colocou-me no polo frio do teu desdém.
Agora encaro em quarentena a solidão
Tento passar ao largo do sentir-me só
Pelo escape tresloucado da ilusão
De não ter havido temporal por sobre nós.

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