sábado, 22 de fevereiro de 2014

FACHO DE LUZ


Essa luz, tirem essa luz de cima de mim,
ela me cega, essa luz, tirem, tirem de mim...

E novamente o torpor, a cadência do nada
invadia aquela vida que na madrugada
diante da luz, dessa luz que a atormentava,
se precipitara na loucura da escuridão.

Essa luz, dizia baixinho, essa luz...

Murmurava o que ninguém suspeitava
ou ouvira jamais. Dormia e chorava,
morria e nascia para morrer outra vez...

O médico sonolento da pequena cidade
tentava fazê-la voltar à consciência.
Para que despertá-la - se perguntava -
e retirar de seus olhos essa luz que a cega,
que minutos atrás a mergulhou no abismo?

Como dizer para a pobre mulher
que marido e filhos, a sua família,
há pouco sorrindo, a pouco tão viva,
fora além do abismo, para a eternidade? ...

Essa luz, a duzentos por hora, em cima de mim,
essa luz, devagar, a curva, cuidado... meu Deus,
essa luz, tirem essa luz de cima de mim...

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