segunda-feira, 25 de maio de 2020
VIRA-LATA
Vira-lata da vida, ao desamparo
Criado solto, sem dono ou preparo
Um real e desvalido Huckleberry Finn (*)
De todos tormentos da aflição sem fim.
Nasceu pobre, cresceu pobre, de tudo
Exceto da Graça de Deus que, Mudo,
O manteve milagre de vida sem trave
Com fome, sim, mas sem doença grave.
Na torturante trajetória solo
Pouco ou nada sabe de mãe ou colo
E menos ainda sobre lar ou teto.
Sofrendo intempéries no deserto
E amarga incógnita em seu dia a dia
De aventuras que a desventura esfria.
No oscilante rumo da trajetória
É o caos a bússola dessa história.
O tesouro pode estar naquela esquina
Que se faz encontro, que se faz rima,
Que se debruça por sobre a calçada
Na lata de lixo não visitada,
No fundo de um baú que ninguém tem,
Aqui, acolá, pouco mais do que além,
Fazendo casa nos sonhos, por onde
Se colore a vida de esconde-escondes.
Enquanto passa da cancela ao pátio
Sem pedir licença, um tanto errático
Na dança das sombras ao clarão da lua
Revisa o alforje preenchido nas ruas
Nele encontrando a sua própria janta
Que neste agora é o regozijo à "pança".
Após, se recolhe no esconderijo de palha
Aquecido pelo calor que o galpão espalha.
Não pediu ou queria isso, era o que tinha
Amanhã quem sabe, ao dia, sua fada madrinha
A varinha mágica, algo assim de abracadabra,
Fará com que o céu seja a porta que se abra
E finalmente lhe entregue o abraço esperado
Que lhe conforte, lhe faça se sentir amado
Como nunca o foi por ninguém, senão por pena
Boa chama que, perto do amor, é tão pequena...
(*) Personagem de livros de Mark Twain (pseudônimo de Samel Langhorne Clermens, escritor norte-americano): principal no livro “Huckleberry Finn” e coadjuvante no livro “As aventuras de Tom Sawyer”.
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