domingo, 14 de junho de 2020

REABASTECIMENTO


Às vezes necessito esconder-me nos bastidores
Para, escondido e de uma só vez, chorar as dores
Que como em todo o ser humano em mim desabam
Esmagando vaidades que em meu eu germinam
Como inço (*), aos outros aparecendo lúcido, tão forte,
Dono de impossível vivência de sempre saber meu norte...
Ali, caem máscara, pano e sou eu de novo pleno e fraco,
Estranhamente um nada em meio ao imensurável charco.
Daí, desse meio, mais frágil, só e em completo abandono
Defrontado comigo, com minha própria finitude, retomo
A certeza que está nos outros aquela fonte encantada,
Fértil moinho de forças e fé que acreditara esgotada.
Desse esconderijo descubro mais e muito mais descubro,
Não fui nem jamais serei só, embora tantos dias turvos
É nos outros que vivo cozendo trajetórias e contratos
Que marcam vidas para além da eternidade do abstrato...


(*)Inço s.m. RS Conjunto de ervas daninhas que infestam áreas cultivadas. (Dic. Enciclopédico Ilustr. Veja Larousse, Vol 12, 1ª Ed. Brasileira, Editora Abril, 2006, São Paulo).

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