Mas era cedo e sabiam ainda daria tempo para jogar fora uns bons dez minutos; entretanto o calor era tanto que qualquer brincadeira lhes tiraria o fôlego além de produzir tanto suor desaconselhável segundo diziam para quem não tinha qualquer líquido, ali, para beber e nem dinheiro para comprar sequer uma Crush ou Cirilinha (a primeira, sabor de uva, a segunda de laranja e, pelo seu tamanho, conhecida como laranjinha). O que fazer que pudesse proporcionar algum divertimento? ...
De repente Guirland estancou o passo e se quedou como uma estaca em meio à calçada, olhando fixamente para um ponto perdido no escaldante céu daquela tarde! Vendo isso, o moleque também elevou o olhar até onde pensou estar o amigo olhando e, meio embasbacado, ficou procurando sem saber o que, num nada absoluto daquele céu tão claro de nuvens tão altas. Ambos, assim, pareciam possuídos de uma paralisia contagiante feito àquela proveniente do “trato” “paralisa” ou “mandraque”, com Guirland “parecendo” enxergar alguma coisa e o moleque “buscando” enxergar essa tal de alguma coisa...
Saliente-se que esse tipo de procedimento adotado por Guirland certamente não era original e já devia ter sido intentado por outros personagens e nem deveria ter tido o impacto que teve então, pois, a partir dele não só o moleque estancou e olhou para o céu, logo em seguida outros transeuntes e, logo seguir e aos “borbotões”, também estancaram o passo e começaram a olhar para o céu em busca dessa inatingível imagem que se acreditava estivesse Guirland olhando fixamente.
Então o moleque, aleatoriamente e, como tudo o mais daquela ocorrência inocorrente, sem nenhum sentido, disse que o que saía do rabo daquela imagem, que parecia um foguete em fuga, parecia ser uma espécie de “bosta” de cabrito ou de ovelha incandescente e que se aquilo atingisse a terra tudo ficaria uma bela porcaria e pior seria se atingisse apenas o Rio Uruguai e, em qualquer hipótese tudo estaria emporcalhado... Guirland, ainda parecendo absorto, abduzido pela imagem inexistente que sequer vira, ponderou sobre a salvação da lavoura eis que, segundo diziam, merda era o melhor adubo que existia, com o que concordou o moleque, afinal, até mesmo disso e quem sabe somente depois disso, em qualquer circunstância, episódio, ou evento o renascer parece que vinha cheio de luz, em maioria de vezes pelo menos, como ensina a história das “n” merdas que o povo se repete em produzir até que, um dia, daquele lodaçal surgia a flor que poderia ser a de lis (Taylor de preferência) ou, mais humildemente, de maricá ou uma rosa cor de rosa ou vermelha, ou branca, ou amarela que se juntaria a cor preta e se fixaria na camiseta jalde-negra do Esporte Clube Uruguaiana, onde aliás não deveria demorar para iniciar o treino, o primeiro treino de ambos que e ainda, estavam um tanto quanto longe da Baixada e era uma “puxadinha” para chegar lá desde a Praça Barão do Rio Branco.
Foi o que bastou, tal lembrança, para retirá-los daquele transe sem se darem conta de que por um momento, um momentinho insignificante, pararam o centro de Uruguaiana, ou melhor e menos exagerado, alguns transeuntes da Bento Martins, e até, talvez, do entorno da Praça e sobre o que então lhes pareceu bobagem, nunca mais falaram ou registraram, sequer para Juarez que já impaciente lhes esperava um pouco mais adiante...
De verdade, nem mesmo o moleque jamais perguntou ao seu amigo o que ele teria visto, se é que teria visto alguma coisa, nem este perguntou ao moleque se teria visto, de verdade, nave espacial sobrevoando o céu de Uruguaiana e de Passo de Los Libres eis que pela elevada distância o alvo poderia ser tudo aquilo ou só o Rio Uruguai, tendo como combustível bosta de cabrito ou de ovelha com isso tudo comprovado por rastro deixado pela merda incandescente, adubo de inferior qualidade se comparado ao que tem origem, base e núcleo em titicas de galinha.
Tudo isso não quer dizer que a fértil Pampa necessitasse de adubo, porém nunca é demais repetir que não se sabe se disso tudo, além das gramíneas que a adornam, surgissem inumeráveis plantações e colheitas de arroz e outras tantas leguminosas, ombreando com a pecuária ovina, equina e vacum que destacam e preenchem à querida Pampa e suas coxilhas.
Mas, vamos apenas considerar que tudo não passou de um daqueles transes que a mormacenta tarde de um inclemente verão, como quase todos típicos de Uruguaiana, produzira nos sentidos de dois moleques nada diferentes de outros tantos que, independentemente dos tempos, por lá e ainda proliferam!
Enquanto isso, o esperado treino da gurizada no Esporte Clube Uruguaiana, no grandioso, majestoso estádio da Baixada (o iluminado Felisberto Fagundes Filho, quer pelas feéricas luzes de seus refletores, quer pela incandescente luz originária dos raios de sul refletidos pelo amado espelho do Mar de Água Doce, o tão pertinho, Rio Uruguai) sequer começara e, para aqueles moleques, JAMAIS findaria, vivo que se estabeleceu eterno na lembrança e saudade de cada um deles.
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