terça-feira, 8 de abril de 2014

PÓS-GUERRA


Desejo reinventar o amor
embora acreditasse tê-lo morto
e faz tão pouco tempo...
Desejo o riso que esqueci
nos tortuosos caminhos de tantas bocas;
desejo a paz que joguei fora,
no mito de minha crença, sem fé;
desejo soprar as cinzas que me sujam
e catar ilusões e sonhos que quis
e não consegui, apesar de tudo, expulsar.
...
Estou calmo, passou a tempestade
e a gargalhada da metralhadora
ou o troar do canhão assassino
não mais são minha extensão;
até meu ódio adormeceu, banido
pelo desejo de dialogar contigo,
com o mundo e comigo mesmo.
Amadureci, creio!
...
Sei, será difícil despir-me do egoísmo
enriquecido durante todo este tempo
em que fiz da antítese, minha tese
e compliquei a síntese de minha dialética.
Será difícil descer do pedestal
em que me coloquei quando fui justiça
e minha verdade era a única, verdadeira.
Será difícil esquecer minha ânsia doida
de conter em mim a posse da razão pagã...
foi o que nos separou e quase me destruiu!
Foi essa pretensão que me fez inimigo de ti,
do ser humano e o próximo meu inimigo,
quão louco eu estava...
...
Desejo esquecer tudo isso, afinal
compreendi que a razão de ser
está simplesmente em ser, apenas.
Entendo teu medo de tentar novamente
mas quero que entendas minha audácia:
a guerra que vivemos negou nosso valor,
entumecida de ódio regozijou-se no horror
e ascendeu nossa descrença,
fez-nos eremitas carregados de receios
pelo futuro e remorsos pelo passado.
Essa guerra diante de nosso assombro
pareceu-nos justa quando em verdade
fez-nos vítimas de nossas próprias vinganças.
...
Esquecer? sim desejo esquecer!
Comparadas com a solidão, a dor
e todas as tolices que nos afastaram,
sórdidas urdiduras de cérebros dementes,
não valem a pena de serem reprisadas.
O caminho escuro percorrido foi longo
matou e se fez morto, doloridamente,
diante de nossa própria estratificação.
...
Desejo tentar o início de outra caminhada,
desejo voltar a me sentir gente, vivo,
desejo a fé, o amor, comungar a estrada,
comungar o resto de mim contigo, no embate
a enfrentar nesta arena, no risco de ser apenas
o único ser interessado. Talvez, em ser me baste!

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