quarta-feira, 15 de janeiro de 2020
O APRENDIZ DE OFÍCIOS
O pai do moleque tinha por meta e adágio preferido e sempre repetido para seus filhos e amigos que “quem tem um ofício nunca passa fome” ou “não morre de fome”; por isso, priorizava o aprendizado de uma profissão e o trabalho, ensinava, muito além de ser OBRIGAÇÃO (assim escrito em letras versais para dar pequena amostra da qualificação, dimensão linguística e sonora, que emprestava ao adjetivo posto) também, pelo prazer de realizar as tarefas dele decorrentes, era uma sadia diversão, tudo isso enobrecendo o ser humano, inexistindo escalas de importância entre as profissões, todas elas dignas ocupantes de nível máximo no panteão das virtudes humanas.
E por entender assim a importância do trabalho, do seu entendimento e desenvolvimento ainda que precoce desde tenra idade, proporcionou aos seus filhos o exercício de trabalhos produtivos com correspondência em ganhos pecuniários, módicos até, todavia sob guarda, uso e fruição do filho e com isso, na prática dando ao mesmo pequena todavia fundamental lição consagrando os princípios da filosofia e fundamentos da responsabilidade, que exercia a respeito e divulgava. Paralelo a tudo isso, não retirou dos filhos, jamais, o livre exercício dos folguedos e brincadeiras infantis, tampouco deixou-lhes livres o suficiente para o exercício do aprendizado escolar, exercendo sobre o mesmo total e pertinente cobrança, zelo e acompanhamento, fundado sempre no axioma praticado de que “...trabalhos, estudos, aprendizados, brincadeiras, etc...” embora diferentes entre si podem ser complementares e, mesmo que exercidos um de cada vez e no tempo certo destinado para cada um, ainda assim, interagiriam favoravelmente a uma melhor formação do futuro adulto que por isso tornar-se-ia mais responsável do que poderia ser acaso não praticassem os ensinamentos que entendia correto oferecer.
Assim, o moleque começou cedo exercendo lides trabalhistas; ao início, por volta dos sete anos de idade, foi aprender a ser o “engraxate” da Barbearia de seu pai do que não se saiu muito mal não, porquanto em pouco tempo até “sambinhas” batucava enquanto célere passava o pano de pelúcia para abrir o brilho da “graxa” ou “pasta de sapateiro” a ser polida, antes colocada sobre o couro do sapato de clientes da barbearia que estavam entregues aos cuidados do barbeiro, cortando ou “aparando” cabelos, bigodes e/ou barba. Em meio a isso, o pai iniciou-lhe na profissão que exercia e na qual era reconhecido como profissional de qualidade ímpar. Desta vez, porém, o dito popular de que “filho de tigre com listras sai” não funcionou; o moleque se perdia “chairando” a navalha, abrindo “caminhos de ratos” na cabeça dos infelizes que aceitavam o desafio de se submeter à imperícia do aprendiz, tendo o barbeiro pai, em todas as vezes, trabalhado dobrado para dar um mínimo de regularidade à tragédia (ou comédia) proporcionada pelo “corte” (literalmente, torto, assimétrico, irregular, etc, etc). De nada adiantaram as chances dadas ao moleque, péssimo aprendiz, um fracasso, sem o menor talento para exercer a honrosa profissão do pai.
Durante esse périplo, o ilustre e respeitado Consul do Uruguai, Don Juan Miguel Sotto, assíduo frequentador da barbearia, ofereceu emprego ao moleque, para, no Consulado de Uruguaiana, exercer a função de “Mandalete” (hoje, pomposamente, denominada de “Office Boy”); o pai do moleque, deixou-lhe tomar decisão sobre a oferta, sem interferir, quem sabe até, aliviado por ter ciência e consciência da inabilidade do mesmo pelo menos quanto a profissão de barbeiro na qual certamente contrariaria os axiomas que difundia (... não morre ou nunca passa, fome).
Lá se foi o moleque exercer a nobre função, ganhando o salário de Cr$ 2,00/mês (equivalente ao preço de um sapato novo, na época), com prestação de serviços de segundas às sextas-feiras, em horário matutino (porque o vespertino era ocupado pelo colégio). Graças a sua desenvoltura verbal, logo encontrou respaldo e afeto na Sra. Consulesa, D. Helena que desde o andar superior do prédio onde funcionava o consulado, residência do casal, atendia os afazeres domésticos e, dado a proximidade entre o lar e a parte digamos administrativa facilitando convívio, exercia acesso direto a tudo o mais, a ponto de, talvez por ser o moleque muito magro, sempre fazê-lo tomar lauto café da manhã, almoço e lanches nas oportunidades em que voltou ao trabalho, após ter ido à escola. Em suma, alimentava-o na tentativa de o tornar livre da subnutrição que, imaginava, ele possuir.
Também gostava do moleque, a secretária do Consulado, D. Maria, exímia datilógrafa que vendo o encanto dele perante a máquina de escrever, obteve, juntamente e com o entusiasmado auxílio de D. Marília, ilustre professora de desenho e secretária do nobre Colégio Estadual D. Hermeto onde o moleque recém ingressara cursando a primeira série ginasial, junto a D. Nair de Castro, proprietária da Natro - Escola de Datilografia de Uruguaiana, uma bolsa de estudos para que o mesmo, gratuitamente, aprendesse os caminhos e mistérios da datilografia.
O moleque foi apresentado ao “Manual de datilografia: Mecanografia, datilografia, princípios de correspondência comercial / de Ernani Macedo de Carvalho”, da Editora Globo S.A., edição de 1940, que simplificava o aprendizado pelo “Método Manet”, sob o qual, aos dez anos de idade, ele apreendeu a datilografar com todos os dedos das mãos (talvez tenha sido a de datilógrafo, a melhor e de mais qualidade das profissões que exerceria no curso de sua vida). Em pouco tempo, pelo domínio adquirido, o moleque arranjou um “bico” e, sempre que a mestra e dona da escola, D. Nair de Castro necessitava de substituto se socorria dele para representá-la mediante pequena quantia que o moleque não cobrava mas sempre recebia de bom grado e, claro, agradecia.
O próprio Consul Juan Miguel demonstrava muito afeto e paciência para com o moleque que falhava no cumprimento de horários, principalmente chegando sempre atrasado pela manhã. Para correção dessa falha, o Sr. Consul determinou ao moleque que, antes de chegar ao Consulado, visitasse às Casa de Câmbio de Uruguaiana, anotando as cotações das moedas Dólares, Pesos (uruguaio e argentino), com relação à moeda nacional, o Cruzeiro, além de, no mínimo duas vezes por semana, adquirir “botejas” do whisky “White Horse” (Cavalinho Branco) ou, na falta deste, que viesse o não menos famoso “Jack Daniel” (qualidade decantada no belíssimo filme “Perfume de Mulher”); também, levava o moleque em viagens pela Argentina e Uruguai, sempre comentando seu desejo, junto com D. Helena, de um dia proporcionar-lhe os estudos em classes avançadas, inclusive universitária, em Montevideo. A proximidade e o tratamento carinhoso dado ao moleque pelo casal o fazia se sentir em casa, podendo inquirir o Consul sobre seu costume de tomar água gelada logo após ingerir um “tecito caliente” (cafezinho bem quente); a sucinta explicação não deixava dúvidas, era de que a temperatura do café condizia com a temperatura interna do corpo e a ingestão da água gelada aumentava geometricamente o apetitoso gosto do café, sem impor sequenciais choques de temperaturas prejudiciais ao corpo, mais especificamente ao aparelho digestivo, mormente esôfago e estômago.
Infelizmente, o que o moleque não sabia, era de que o Sr. Juan Miguel, então, já estava acometido pelo câncer que consumia seu aparelho digestivo e viria causar seu falecimento quando em tratamento médico, no Rio de Janeiro (ressalte-se que, à época, o câncer era considerado mortal flagelo e castigo dos céus). Ao falecimento daquele amigo sobreveio à substituição dele com um novo Consul, rígido, agindo contra o moleque com severidade e rispidez e dele recebendo desaforos em instante de rebeldia e volta as origens de quem tinha língua solta e um dicionário de nomes feios bilingüe, em espanhol e português, expressos como se fosse uma saraivada de metralhadora; não deu outra, o moleque foi despedido.
Ao agora encerrado ciclo da profissão “Mandalete”, sobreveio a busca de outras tentativas para cumprir o fado desenhado pelo pai de que, “...quem tem um ofício...”. Então veio a possibilidade de se fazer aprendiz de sapateiro na Oficina da Casa Mutti do tio do amigo Nilto Mutti Guirland que o moleque abraçou até com um certo entusiasmo desde que lá eram produzidas chuteiras para futebol de uma qualidade que, segundo diziam, rivalizava com as nacionalmente famosas Chuteiras Gaetas, usadas pelos astros do futebol nacional, dos clubes Palmeiras, Santos, Corinthians, São Paulo, Portuguesa de Desportos, Botafogo, Vasco da Gama, Fluminense, Flamengo, Bangu e América. Talvez, trabalhando lá, ele pudesse comprar aquela chuteira, genérica das Gaetas, porque não?...
E lá se foi o moleque para uma terceira ou quarta tentativa de “dar certo” na visão do pai e do sempre repetido jargão dos ofícios... Tinha sido engraxate de relativa competência, péssimo aprendiz de barbeiro, atestado pelas “barbeiragens” praticadas na cabeça de terceiros e, como “Mandalete”, fora assim, assim. Revelara-se com rara habilidade no manejo da máquina de escrever, apto inclusive a produzir correspondências não apenas comercial como as de outros objetivos, como as de meros cumprimentos ou votos. Pelo menos, isso...
Na fábrica/oficina se entrosou com renomados oficiais de sapateiros como Domício, Victor Hugo, Pepe “Aparador”, Murcilião, Djalma e sua esposa, Lourdes, balconista junto com D. Célia (esposa de Evaristo Mutti, patrões, donos da Casa) e outros, assim iniciando o aprendizado na profissão de sapateiro junto com outro aprendiz, o Virgílio (filho da D. Amélia, irmão da Dulce que depois casaria como Adão Camurra). Começou realizando o que já sabia, isto é, engraxando, dando brilho aos sapatos e botas, recém fabricados, produtos que logo ali estariam sendo vendidos na loja situada à frente da fábrica/oficina. Pouco tempo depois, adquiriu certa habilidade no manejo da “ponteadeira”, um tipo de máquina própria para perfurar couro e sola, ponteando pequenos orifícios, de tamanho, profundidade e distância regulares entre si, dando condições para que se efetuasse costura entre um e outro, com barbante previamente “encerado” (o que o tornava mais resistente e impermeável) servindo de linha; a costura era feita manualmente com o barbante preso à grossa agulha metálica. Dito método de produzir calçado era especialmente usado à produção de chuteiras de futebol que, por isso, podiam ser “torcidas”, dobradas, pela insuperável maleabilidade que possuíam, adequadas aos pés de jogadores de futebol que com elas praticavam o esporte bretão.
O moleque estava evoluindo e lhe foi apresentada a afiada faca de sapateiro com a recomendação de tomar muito cuidado ao usá-la; alguns dias depois, já com um certo traquejo e tendo cortado couros, inclusive de solas, palmilhas, etc., aconteceu o descuido com a faca que ao cortar couro assentado sobre uma forma (peça de madeira com o feitio de um pé usada na fabricação de sapatos) acompanhando o desenho da curva da forma (parte interna do pé), a faca encontrou resistência no couro exigindo mais força para realização do contorno respectivo, escapulindo do entrave, alojando-se direto na parte externa do polegar esquerdo do moleque, rasgando a pele, cravando-se diretamente no osso onde ficou alojada.
Todos correram para socorrer o aprendiz, enquanto Domício buscava um “remédio” chamado álcool puro, Murcilião o segurava e Victor Hugo retirava a faca e Pepe “Aparador” já estava junto com Domício com as mãos cheias de papel de embrulho; Murcilião então agarrou mais forte o moleque, imobilizando-o, Victor Hugo pegou a mão e o dedo ensanguentados e reabriu o ferimento, Domícilio nele derramou quase um litro de álcool, Pepe literalmente embrulhou o polegar, junto com toda mão. O pão-duro Djalma, deu ao moleque Cr$ 5,00 (cinco Cruzeiros), hoje equivalentes a quarenta ou cinquenta Reais e, todos, o mandaram passar na farmácia ali perto, comprar um band-aid, ir para casa lavar o ferimento e colocar o band-aid, devendo voltar somente na outra semana. Tudo isso fez o moleque, chegando em casa, sua avó colheu e macerou n'água, folhas de cinamomo enquanto outras colocou a secar na chapa quente do fogão; feito isso, veio a parte pior, ou seja mais dor para o moleque, pois a avó, sem dó nem piedade e dizendo-lhe que por ser homem não devia chorar (“homem só chora quando a mulher vai embora”) reabriu a ferida dando um forte puxão àquele maço de papel que envolvia dedo polegar e mão esquerda e mantendo o ferimento aberto pacientemente o lavou com a verde água onde macerara as folhas de cinamomo. Depois disso, ainda mantendo o ferimento exposto, sobre o mesmo espargiu o pó gerado pelas folhas de cinamomo secadas na chapa quente do fogão; finalmente, após o suplício, pegou o band-aid, não sem um ar de enfado, e o utilizou, dizendo que devia servir pelo menos para proteger o ferimento. Registre-se, o corte não foi suturado e ao cabo de quatro dias o ferimento estava cicatrizado.
A “outra semana...”, nunca veio, a afiada faca de sapateiro não apenas cortara o polegar esquerdo do moleque, como somada ao tratamento do ferimento, arrefeceu nele qualquer entusiasmo que quem sabe chegou a ter sobre a profissão. Sequer adiantou as cantilenas do Murcilião ou do Domício de que não fora maldade deles ao derramar aquele litro de álcool no ferimento, apenas que assim sabiam com certeza que eliminariam o veneno inoculado no couro quando da curtição (o que realmente existe) sendo o maior perigo à infecção que jamais haveria ou houve... Para a avó do moleque, o que resolvera a questão toda foram as folhas de cinamomo... o moleque por sua vez hoje sabe que não foram apenas as folhas e tudo o mais dito e repetido, também o afeto daqueles ilustres profissionais sapateiros, e, principalmente, o conhecimento e amor nunca negado por sua amada avó … foi tudo isso, mas ... sapateiro ... nunca mais!
O moleque de novo foi ser aprendiz de outro ofício. Ocorre que seu amigo e cunhado, Gelci, esposo da amada mana Oca, era o brilhante Mestre Padeiro da Padaria Rosa, ofertou-lhe a oportunidade de ser aprendiz de Padeiro... Embora a profissão tenha até agradado ao moleque, os horários é que não fechavam muito com ele. Enquanto passar a noite, como sábado para domingo, não era problema para ele, acordar e levantar cedo, muito cedo aliás, durante a semana, por volta das cinco horas, isso sim era um enorme e insuperável problema. Conseguiu ir driblando por algum tempo, especialmente porque na madrugada de domingo tinha algo que o atraía pela quase ou total, sabe-se lá, safadeza...
Principalmente aos sábados, por volta das 22:30 ou 23:00H, os padeiros iniciavam o preparo da massa do pão nosso de cada dia que, pela manhã bem cedinho, era procurado pelos madrugadores clientes da Padaria. Em maioria de vezes as massas (pão francês, vovó sentada, biscoitos, etc, para cada um tipo, a massa respectiva tinha uma forma e corte, uma receita e um ponto de cozimento, dentre outros cuidados profissionais), eram preparadas em tempo quase recorde, no máximo em três horas (para o pão “francês”, por exemplo, sair moreninho, crocante, quentinho. recém saído do forno para alegria e comoção dos clientes madrugadores) entravam no forno em tempos distintos, todavia não antes das 05:00H da manhã.
Das 23:30, ou 24:00 às 04:00H era folga, alguns ou quase todos iam dormir mas sofriam o perigo de serem acordados pelo “mosquitinho” que funcionava assim: um gaiato acendia um palito de fósforo deixando-o queimar até ficar no carvãozinho que aguardava esfriar rapidamente e, com todo o cuidado, colocava na testa do dorminhoco; antes disso, durante ou depois, com ou sem a ajuda de um outro colega, amarrava uma das mãos da vítima imobilizando-a e a outra, que era deixada livre, amarrava o tamanco usado na “quadra” que é como chamam o local da padaria onde se faz o pão e estão o maquinário e forno; feito tudo isso, enquanto dormia a vítima, acontecia a parte final que era reacender o palito e ficar esperando que o filete de fogo chegasse ao poro base do carvãozinho... era tiro e queda, a vítima, com a mão livre “matava” o mosquito na testa, acordando depois na tamancada, enraivecido claro, entanto sem reagir pois “amanhã será outro dia...”. A brincadeira ficou tão corriqueira que ninguém dormia na folga...
Até que alguém, lembrando que perto dali tinha uma “bailanta”, teve a ideia de que todos podiam aproveitarem a folga dando uma escapadinha até a “Bailanta do Pedro Laçaço”, pelo menos até 03:00, 04:00H; ideia posta, ideia aceita, com o Mestre padeiro falando com o cunhado aprendiz, se tudo podia ficar entre eles... claro que podia! Assim as noites de sábado eram as melhores noites da semana, todos ao Pedro Laçaço, também o encantado moleque. Em uma daquelas idas, o moleque foi surpreendido por uma das bailarina, A Mosa, lavadeira de roupas “para fora” que algumas vezes fazia ditos serviços à mãe do moleque; Mosa, também era mãe de três filhos (Afonso, Francisco e Beta) que estavam sendo, como foram, criados como filhos pelos pais do moleque, que por sinal, generosos que sempre foram, criaram outras tantas crianças, quase uma dúzia, além dos oito filhos biológicos que tiveram.
No outro dia, não deu outra, Mosa foi direto à mãe do moleque relatando o que considerou como grave falta, inclusive e principalmente do Gelci. A mãe, com prudência e sensatez, não contou para a filha Oca, o que acontecera, livrando o genro daquela, porém, determinou encerrado o aprendizado do moleque da profissão de padeiro. O moleque não ficou contente com isso, mas nada podia fazer. Duas ou três semanas depois, em um sábado, Mosa fez uma entrega de roupa lavada e passada na casa do moleque; ele a convenceu de que tinha um creme facial contra rugas e suores, com espetacular perfume que aflorava após um bom tempo depois da massagem que o fazia desaparecer na cútis. Mosa adorou quando ele lhe disse que quem sabe ela podia usar naquela noite se é que iria na Bailanta e passasse lá para fazer tal “maquilagem”, tendo ele como maquilador; Mosa garantiu que iria fazer exatamente como ele prescrevera, deixaria ele massagear sua cútis até o desaparecimento do creme. Pouco depois do anoitecer, ele, com o mágico creme - o famoso Creme de Barbear Bozzano, o que ela não sabia - começou o processo, massageando o rosto todo da Mosa, incluindo queixo, nariz e testa, também orelhas e toda volta do pescoço...Mosa achou estranho mas foi convencida de que tudo servia a uniformidade performática requerida à maquilagem, coisa moderna, exigências do perfume que afloraria do creme...
No outro dia, nova queixa contra o moleque...Mosa, desta vez, dizia ter sido enganada por ele, com um tal de creme que ele passara em quase toda cabeça dela e até em toda a volta do pescoço mas que devia estar estragado pois, após alguns rodopios no salão de danças, o suor de seu rosto e tudo o mais por onde fora untada de creme, começou a formar pequenas bolhas de sabão, pior parecendo ser sabão mesmo...
De verdade o melhor dos aprendizados tinha sido a datilografia que aprendera e lhe renderia, adiante, empregos na condição de auxiliar de escritório, antes disso, entretanto, ao chegar em Porto Alegre, vindo para nela ficar, foi o primeiro empregado da Cooperativa dos Empregados de Forjas Taurus S.A., mas isso é outra história ocorrida aos primórdios de sua adolescência ou puberdade em que acreditou ter superado a condição ou estágio de moleque - será? … até hoje não saberia dizer com certeza... - o que tem plena certeza é que não aprendeu nenhuma das demais nobres profissões que tentou aprender com denodo fruto dos axiomas propalados e ardorosamente defendidos pelo seu pai que, aliás, tinha razão em tudo!
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