sábado, 25 de janeiro de 2020

OUTRA DO MOLEQUE - FORÇAS DA NATUREZA

OUTRA DO MOLEQUE – FORÇAS DA NATUREZA
(Itagiba José)

Dona Buby (apelido de Maria José Pysaco) foi a grande referência do moleque como professora e uma das pessoas que ele mais amou; ela era muito adiante de seu tempo como mestra daqueles travessos integrantes da turma a qual dava aula no antigo Grupo Escolar Municipal Maria Moritz, que a adoravam. Ao início da aula lia textos, trazia novidades, colocações, arguições, exclamações, etc, sempre instigando-os a lerem, contarem histórias, opinarem até e permanecerem atentos aos dias que viviam, aproveitando essa fase, a infância, que ela reputava como a mais importante à formação de boas pessoas, logo adiante, adultas.

Em um desses dias de aula, quase ao final do período letivo em novembro, ela dissertava sobre forças, físicas e mentais, quando de supetão e, se veria depois, por ordem alfabética, perguntou ao Arlindo, um guri calmo e bem educado se em algum momento ele se perguntara sobre que “força física” ele gostaria de possuir e se encontrada a resposta, qual seria tal força; Arlindo não demorou muito para responder dizendo que queria ter a força do “Capitão Marvel”; logo foi a vez de Augusto que, seguindo a linha iniciada por Arlindo, declarou que queria ter a força do SuperHomem; outro declarou seu desejo indicando a força do BatMan, seguido por outro que queria ter a força do escudo do Capitão América, outro a força do Zorro, etc... Algumas gurias consultadas declararam desejos de terem a força da Mulher Maravilha ou, dentre outras tantas e reais heroínas, a força, poder e liderança de Joanna D'Arc, de Anita Garibaldi, da Rainha Isabel de Castella, etc...

Quando chegou a vez do moleque responder, já haviam sido esgotados todas as forças conhecidas, incluindo grandes heróis gaúchos, como os caudilhos Honório Lemos – o Leão do Caverá, Leonel da Rocha, Gumercindo Saraiva, Flores da Cunha, etc., não restando para ele, nenhum dos poderosos super-heróis então conhecidos. Antecipadamente salientando-se que não saberia o moleque dizer se a espontânea resposta dada era de sua lavra ou se de autoria de terceiros escritas em algum dos livros por ele lidos, certo é que, sem querer repetir qualquer dos nomes daquelas alternativas antes utilizadas pelos demais colegas, declarou, sem pestanejar, solenemente, que a força que queria ter era a do espirro. Em meio ao burburinho que se seguiu, provocado pelas risadas e galhofas dos demais colegas, alteou-se a voz da mestra dizendo em um misto de pergunta e exclamação “Espirro??!!!”... “ - Sim, espirro(*), a Sra. conhece alguém que resista a um bom espirro?... se eu tivesse essa força, seria irresistível, certo?...” A grande e amada professora, rendeu-se ao axiomático argumento tão certo como dois e dois são quatro (e não cinco como anos depois cantaria Caetano Veloso para perfumar e abrandar a solidão).

A respeito do espirro cuja definição dada pelo dicionário oferecemos ao final, saliente-se que, segundo os entendidos, o ar nele expelido atinge velocidade superior a 120km/h (cento e vinte quilômetros por hora), dando para entender porque não se consegue resistir a um bom espirro...
Ao final da tarde daquele dia, uma extensa nuvem, cúmulo-nimbo (**) formou um “paredão escuro” lá para os lados dos quartéis (8º Regimento de Cavalaria, popularmente conhecido como Oitavo e o 4º GCA 75 CAV, o popular Grupo e, ainda, da Linha de Tiro, perto do Cemitério Municipal, local de instruções dos militares do QG da 2ª Divisão de Cavalaria). Aquela formação da natureza em pouquíssimo tempo de forma inopinada, vertiginosa, com ventos de brutal velocidade, derramou-se em tempestade de raios e trovões sobre Uruguaiana e, apesar de sua pouca duração, cinco ou dez minutos, fez um daqueles respeitáveis estragos em suas ocorrência e passagem. E, por mera comparação decorrente da perquirição da professora e resposta dada na aula daquele dia, pareceu ao moleque ser aquele um grande espirro da natureza aliás, igual aos espirros que acometem ou submetem os seres humanos, estes também produtos da natureza e que produzem coisas naturais como o irresistível e indomado espirro.

Ao final e infelizmente, mais tarde acrescentaria às conclusões infantis expendidas, o fato de que os seres humanos não dão o devido valor ou mensuração às forças da natureza que sempre vencem e, mais do que isso, lhes impõe inesgotáveis e inestimáveis lições que eles teimam em não aprender, brincando de serem aprendizes de deuses, frustrando sua real destinação, desde tempos imemoriais pois, ao se acreditar na Biblia, desprezando as lições trazidas por sábios seres humanos luminares, como Darwin, Adão e Eva foram expulsos do paraíso eis que seguiram os aconselhamentos de uma serpente, contrariando ordens Divinas, com isso condenando a todos e quem sabe eternamente, viverem neste “vale de lágrimas” de todos os dias... ou, se acaso tenha Darwin razão, ainda penamos e continuaremos penando por um largo tempo, em evolução lerda e plena de contrastes, sofismas, falácias e espertezas de falsos ídolos, exceto pelos ensinamentos de seres especiais como Jesus, este na condição de homem, sem a divindade verdadeira que lhe atribuímos ou como eu, acreditamos possuir, também, de Buda (Siddharta Gautama), Maomé, Ghandi, e alguns outros, etc., que a maioria teima em não seguir.

Saudemos o espirrro como um inigualável atestado de que a grande e real força de todas as coisas está localizada no simples e no amor... Vivam eles! Vivam a Vida, o mais sublime e grato de todos os presentes, realizando-a pelo amor e pelo simples, assim encontrando a plenitude do que é realmente VIVER!...


Glossário:
(*) Espirro, s.m. (fisiol.) Movimento súbito e convulsivo dos músculos da respiração, produzido por excitação da membrana pituitária, e seguido de ruído estrepitoso do ar expirado violentamente...”(Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa” Ed. RBS/Jornal -Zero Hora, 1994.

(**) CÚMULO-NIMBO, s.m., MET, Nuvem geralmente escura e carrregada, prenúncio de trovoadas e tempestades, em forma de torreões superpostos e densos, a não ser pelo topo de aparência fibrosa, devido à presença de cristais de gelo; ...” (Dicionário Enciclopédico Ilustrado Veja Larousse, vol 7, pág. 779, 1ª edição brasileira, 2006, Editora Abril, São Paulo, SP).

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