Sou fatalista por definição
e otimista por natureza.
Creio na morte como o inevitável
dia, hora e forma, marcados
desde a eternidade, que não comando,
da qual sou mero instrumento.
Tenho poucos sentidos, portanto,
e não consigo reter o infinito
nem o entendimento pleno de meu ego
que, vinculado àquele, causa ou conseqüência,
tem uma missão sem conhecer a essência.
Daí, ter-me tornado filósofo
e buscado ao longo dos anos
resposta ao porquê que solidificaria
e transformaria minha incoerência
na coerência feliz dos eleitos,
dono de todos os universos.
Mas enquanto busquei respostas
recolhi novas perguntas, formei falácias
na vã tentativa de ser e interpretar
o poder, a vida e a fome.
Com isso me sobrepujo, sobreponho,
corrôo, ascendo, cresço, convenço, corrompo
e exerço sobre os iguais, ora desiguais,
os grilhões que a passividade da maioria
se encarregou de justificar e aceitar.
Conduzo-me assim, em busca das respostas
de todos e minhas antes de todos
e não desperdício idéias ou ideais,
maximamente desperdiço corpos e oponentes
que exigem individualidade no coletivo.
Não temo a morte, temo, isto sim,
que sua presença não me traga respostas
e a ambição de viver mais e mais
e, de qualquer maneira, viver,
faça-me cego e desaponte meu ego
retirando-me a derradeira chance
de conhecer-me e ser dono do meu todo.
No fundo e por mais egoísta que seja
quero deter a vida como na infância
de minha trajetória, simples, sutil,
sem pretensões maiores que ver o dia,
sentir o sol, amar e ser amado,
descobrir a via láctea de um sorriso
e o infinito mistério de uma noite;
olhar a vida como oferta imerecida
pela minha carne, inércia e virtude,
vasculhar-me e ter tempo para mim,
homem de todos os tempos que,
perdido na voragem do desconhecido
passeia a tempestade de seu ego
na irracionalidade de sua dor.
A vida e a morte, o bem e o mal,
tantas perguntas sem respostas...
E se os porquês que busco fora,
onde o gelo não derrete e queima
e o fogo não arde e nem gera calor,
estiverem dentro do meu próprio eu?
No homem que não percebeu ou sentiu
em séculos de história e erros repetidos
que inexistem incógnitas superiores
à maior incógnita que continua sendo...
Todas as respostas e todos os milagres
estão no universo chamado ser humano.
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