Solitário, passeio em meio a desordem do mundo
varando madrugadas, bebendo ilusões e infortúnios
no cálice dos aflitos, dos que têm pressa e fome
mas não se entregam, nem o medo os consome.
O nectar desse amanhã que ainda não existe
impregna o ar, umedece minha pele e goteja
formando alva e tangível a geada do crer
que a febre da decepção se encarrega de dissolver.
Doce andar por sobre a prata do luar cheio
que brinca de criar sombras fugidias que espantam
nada se compara, nem abala, esta silcenciosa ida
da dor marcada pela resignação do curar ferida.
Não há que aquietar-se ante dúvidas ou consolos
é preciso encontrar em meio a fadiga e o denodo,
o hiato do tempo certo, entre a espera a realização,
pois o hoje e o adiante, trarão o ontem, desbotado,
na retrospectiva ineficaz do inventariar passado.
E o mundo regorgita de mistérios, nuances de paixão
enquanto varo a própria madrugada no improviso
de me sentir inteiro, quem sabe pouco além de vivo
para ofertar ao exterioro o sol que penso ter e tenho
como todo mundo e minha insensatez esconde.
Andar e brincar com a vida, mãos e pés esfolados
pelos talvez dos deserdados e mal traçados rumos
sobre úmidos e escorregadios seixos transitados
em busca daquelas manhãs que sequer consumo
pelas franjas do meu agora que não vem nem passa.
Sinuosos e repetidos cíclos que a morte espanca
com o inevitável epilogo desta vida que a graça
de um Ser Divino nos brindou e por fim estanca
na desordem do mundo material onde tudo perece
na infinita e presente surpresa que nos desvanece.
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