sábado, 30 de abril de 2022

80 ANOS - ETERNO PELÉ

Em 23 de outubro de 1968, em pleno Robertão (Torneio Rio-São Paulo, chamado Roberto Gomes Pedroza que fora ampliado tornando-se o precursor do atual Campeonato Nacional de Futebol), jogaram Grêmio e Santos, à noite, no Estádio Olímpico. Aquele foi meu último dia como empregado da Sociedade Anônima Moinhos Riograndenses – SAMRIG, do grupo Bunge&Born, onde trabalhei no escritório central (Rua da Conceição, 195, 3º andar POA; a empresa ocupava do 3º ao 6º andar), no Setor de Vendas chefiado pelo Sr. Agustin Lopes, argentino de boa cepa e ao deixá-la, por volta das 18:00h daquele dia, dirigi-me ao Estádio Olímpico para assistir Grêmio versus Santos, dos craques Gilmar, Dalmo, Calvet, Formiga e, em especial, daquele ataque de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. O Grêmio também tinha lá seus craques como o goleiro Alberto, o quarteto defensivo Altemir, o grande Ayrton Pavilhão, Áureo e Ortunho, os meio campistas Elton e Milton, à frente Joãozinho, Alcindo e o incansável Vieira. Na época, em vista de ser o Estádio Olímpico, do Grêmio maior do que o Estádio dos Eucaliptos, do Internacional e, este ser, então, o clube de maior torcida no estado, realizaram um acordo que denominaram “Caixa Único” onde todos os jogos daquele Torneio Nacional, exceto eventual Gre-Nal, passaram a ser disputados no Olímpico, sendo franqueado aos associados do Internacional o acesso às sociais do Grêmio e, nessa condição lá estava eu, me desculpando por “ter” de torcer pelo Santos, contra o time gaúcho, por causa e em honra ao meu amigo José Nilto Mutti Guirland cujo “time de botão”, poderoso, era denominado “Santos” e duelava com o meu, também poderoso, o Palmeiras, no maior clássico de “Times de Botões”da Uruguaiana dos nossos tempos de guris. ///// ///// Após o ingresso das equipes em campo e antes do início, Pelé foi homenageado com um imenso bolo postado por sobre a marca do meio-campoonde se inicia o jogo, tendo a torcida presente, entoado entusiasmado canto parabenizando ao ínclito e cerebral aniversariante; dito bolo era do tamanho de Pelé e a vela a ser apagada era de uns 50,00cm incluída a chama que não foi apagada por Pelé, nem poderia, por mais fôlego que o mesmo tivesse, e tinha. De qualquer forma foi uma bela homenagem, todavia não impediu Pelé, especialmente, e todos os demais jogadores santistas, de esbanjarem categoria em performance extraordinária (ou ordinária eis que normalmente faziam aquilo e de tal sorte que parecia a todos ser tão fácil jogar futebol e a azeitada equipe era como se fosse uma sinfonia harmoniosa, todavia fatal). ////////// Sucediam-se jogadas fabulosas, monumentais, tendo o Grêmio e sua equipe, também participado não apenas com valentia, também com performance de alto grau técnico, especialmente considerando-se as atuações de Airton e Alcindo (perigosíssimo e consagrado centroavante), sustentados pelos partícipes e concentrados Joãozinho, Vieira e os meio-campistas Elton e Milton (o Formiguinha). ////////// Para ilustrar o nível, a jogada mais marcante até ali realizada, foi quando, Formiga lança Pelé e Airton, chegando antes dele alcançar a bola, nela, com o pé direito dá uma “cavadinha”, fazendo-a percorrer todo o corpo, tórax, rosto e até os cabelos de Pelé, aplicando-lhe um “lençol”, mas “lençol” mesmo; ao impulso dado sem que a bola fosse ao início alcançada para evitar a consumação da obra de arte de Airton, no movimento acelerado de passagem e paradoxalmente quase inerte a uma resposta imediata, Pelé, que era Pelé ora, com a bola agora percorrendo suas costas utilizou o calcanhar do pé direito para devolver ao surpreendido Airton o “lençol” que recebera e, mais fez na sequência, mantendo a ímpar velocidade imprimida, com o pé esquerdo levantou a bola à cabeça de Coutinho (fenomenal centroavante e parceiro das famosas “tabelinha” Pelé/Coutinho/Coutinho/Pelé...) que a devolveu e a recebeu de volta e a devolveu, e a recebeu, deixando atônita e totalmente perdida a defesa do Grêmio, Altemir, Áureo, até Ortunho que era temido pelas “firmes e duras” entradas para desarmar os adversários; no caso como desarmá-los? Se a bola estava com um e já não estava mais, estava com o outro e não estava com nenhum, percorrendo a distância entre ambos, céu e inferno, onde? com quem? Como?... Esse bailado e show só acabou depois de uma eternidad de tempo para os defensores assim envolvidos, pela intervenção, pelo alto, do grande goleiro Alberto que saiu e “esmurrou” a bola mandando-a para bem longe da área e daqueles diabinhos peraltas que infernizaram a todos desde o meio-campo (onde estivera colocado o bolo gigante) até a pequena área (maravilhando, diga-se indistintamente, aos torcedores que a assistiram). ////////// À jogada descrita, só a veria repetida pelos grandes craques, do Inter, Falcão (Paulo Roberto) e Escurinho (Luiz Carlos Machado), na semifinal do Campeonato Nacional de Futebol de 1976 (quando o Inter conquistou o bi-campeonato), em jogo contra o Atlético Mineiro, em pleno Beira-Rio e, novamente, tendo-me como espectador, ao vivo. Por incrível que pareça, a jogada iniciou pelo tosco e insuperável centroavante “matador” Dario, o Dadá Maravilha (aquele que dizia que só ele, o beija-flor e o helicóptero conseguiam parar no ar... e parecia que era verdade; Dadá foi um grande autor de frases inesquecíveis como “Com Dadá em campo, não tem placar em branco”); Dario, desengonçado com o pé direito passa a bola pelo alto para Falcão (Paulo Roberto) que, de cabeça a passa para Escurinho (Luiz Carlos Machado), que a devolve para Falcão, que a devolve para Escurinho, que a devolve para Falcão já ingressando na pequena área e tendo à frente, saindo à interceptação, o goleiro argentino do Galo Mineiro, Ortiz, enquanto Falcão, com a ponta do pé direito a desvia às redes virando o jogo, que começara com gol do Galo e o empate viera com o gol de Batista (centromédio do Inter) em certeiro chute de fora da área. ////////// Voltemos, porém a Pelé e ao privilégio de quem como eu, embora por poucas vezes ao vivo, acompanhou sua carreira, inigualável, insuperável, fantástica, parecendo que, ao jogar futebol não era um ser humano de tão fenomenal, inacreditável que foi. E, como todo ser humano, apesar ou por isso, também teve suas falhas, todavia, como jogador de futebol, virtuose, encantou a todos a ponto de parar uma guerra como a história conta e comprova ou de, ao ser expulso em jogo na Colômbia (ou teria sido na Venezuela?), ter revertida sua expulsão e quem foi expulso, por exigência da torcida ao fim e ao cabo, foi o árbitro, que exigiu a volta de Pelé para o jogo continuar! E isso não é conversa fiada ou fábula, não, é narrativa verdadeira de fatos que ocorreram. ////////// Finalize-se enaltecendo Pelé não apenas por ter sido um fenômeno com talento inimaginável que o revestia, também por ser um atleta na acepção mais perfeita do termo (coisa que poucos eram, então), por sua elevada postura pessoal, como ser humano, representando o Brasil e seu povo, de forma plena, digna em todos os cantos do mundo, levando a todos uma mensagem positiva do maior de todos os brasileiros, grande e único "estadista" que até hoje tivemos, que usou simples chuteiras e uniformes esportivos mantendo altivez, dignidade, suando até sangue para merecer as loas, reverência, respeito e admiração com que lhe ornamentam. ////////// Salve Pelé, quem dera um dia o Brasil, como Nação, venha ter o privilégio de ser dirigido por Pessoas portadores de tua grandeza, honra e idoneidade (o que até hoje infelizmente. creio, não tivemos). ////////// Logo adiante me ocuparei, com tanto prazer quanto agora, de outro fabuloso jogador de futebol, o nosso Mané Garrincha, a Alegria do Povo... também com histórias extracampos com a participação da grande cantora/sambista Elza Soares e casos como o da compra e venda, paga em dólares, feita ainda na Suécia, durante a Copa do Mundo de 1958, por Garrincha, de um rádio “último tipo” que, para seu desespero, acreditou, “... só falava sueco...”; por isso, Garrincha entendeu que fez ótimo negócio revendendo o aparelho sonoro ao seu “compadre” Nilton Santos (lateral-esquerdo, craque e virtuose de tal grandeza que merecidamente, era chamado de “Enciclopédia do Futebol”) por preço não superior a 10% do valor da aquisição e que deveria ser pago, em Cruzeiros (moeda brasileira da época), somente quando da volta da Seleção Campeã do Mundo, ao Brasil...

segunda-feira, 25 de abril de 2022

PARA MUITO ALÉM DE MIM

Enfim e como desculpa, última desculpa, // Tento me vender como vítima, sem culpa // Da iniquidade de me pensar estar vivo. // // Enquanto morro pouco a pouco, sigo // Buscando alento e força no mistério // De me saber um todo frágil, forte, sério // Na captura de fatos, gozos e sentidos. // // // Seguindo assim ora solto, ora cativo, // Na “manha” de vicejar palavras, sorrisos // Em viagens de “eus” em mim escondidos. // De olhos abertos, sonhos que proponho, // Encontro fantasias e vivencio realizações. // // // // Do pretenso tudo que sou e quero e espero // Misturando-se aos teus mistérios e razões, // Formando esta simbiose deste todo nosso, // Alvíssaras de encantos que tenho e posso // Distribuir apenas para ti e consagrar em ti // Para além do céu, para muito além de mim. //

terça-feira, 22 de março de 2022

MEUS "NUNCA MAIS"

Quanto mais velho fico, mais "nunca mais" tenho, / restam poucos amigos de infância, de aulas tais, / colégios, faculdade, trabalho, para além do cenho / e o que sei desse restante é o mesmo "nunca mais" / do durante, do depois e, certamente, do desenho / da própria vida em seus rabiscos desiguais. //// Enquanto esconderijos e curvas derrapantes / teimam em brincar com meu próprio ceticismo, / cinzentas nuvens teimam em brincar de céu / que muito mais agora, muito mais que antes, / desabam-se em gelo e neve no meu realismo, / destruindo os últimos sonhos deixados ao léu. //// E no baile da idade provecta, quase final verso, / canções antigas tentam ressuscitar perdidos / idos que egoísmo e erros deixaram na estrada / mas outros "nunca mais" e bem mais perversos, / açoitam às lembranças do que poderia ter sido / como chicotes de "nunca mais" dizendo-me: És Nada!

sábado, 5 de março de 2022

UMA BRINCADEIRA DE ANJOS

No céu, anjos meninos e anjos meninas, // sem medo ou culpa, em pueril traquina // usando as asas nos pés, calçaram patins // e foram dançar-patinar em nuvens de gelo. // Realizando serelepes, moleques enfim, // arco-íris e manobras de arrepiar cabelos. // Divertiram-se tanto, sendo só sorrisos... // // Enquanto isso, na terra caía granizo.

TRANSMUTAÇÃO

Olhei o sol através de uma gota d'água // e ele se vestiu de sonhos, pétalas de flor, // tornou-se mais belo pela gota d'água // que, incrível, tão pequenina, incolor, // mesmo assim o transmutou aos meus olhos.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

PROPOSTA

Por favor, deixe-me ser como sou ou penso / Não retire de mim a chama de fé ou senso, / Nem ridicularize o piegas que me abastece; / Antes, beba o néctar que, acredito, ofereço / Embriague-se disso e mais que desconheço / Nesse andar pleno no sobressalto que acontece. / E, bem assim, de olhos bem abertos, suponho, / No encontro dessa realidade com os sonhos / Seremos o bem que chega e não se despede / Firmes no curso desse todo que em nós reparte / O insuspeitável requinte de uma obra de arte, / Deixando indeléveis marcas do nosso adrede. /

PAIXÕES PRECOCES

O que dizer que apaixonara o moleque, / nem dez anos, num bem-mal-me-quer / pela meiguice, graça, leveza serelepe / além da clara beleza, daquela mulher / fascinante chamada Ingrid Bergmann / olhos, boca, pernas, seios, hálito romã, / fisicamente desenhados à perfeição? / Em especial, é claro quando ela revê Rick / na sua birosca, pede a Sam tocar a canção / “Us time Goes by” e bebendo um drink, / olhando o vazio da vida deles, da espera, / Casablanca, Paris, tanto faz, tudo é guerra. // O que dizer, do mesmo moleque, volúvel, / como um beija-flor entre uma e outra flor, / nelas buscando encontrar néctar insolúvel / delas, sem saber se era paixão, se era amor, / ao quedar-se em supremo êxtase, encantado, / diante d'olhos violeta levemente esverdeados / únicos, celestial brilho de um não sei quê / de paraíso, cheio de talvez, cheio de porquês, / nos filmes, “Assim caminha a Humanidade”, / mais ainda, “Cleópatra”, além da história, / presente a mulher rainha, honra e glória, / Elizabeth Taylor, Flor de Liz à eternidade. // Em “Imaginação” idealizou mulher serena, / luz diáfana de sol e lua misturados, plena / na imensurável graça e, disso hipnotizado, / mal sabendo que existia e, adiante, saberia / ao encontrá-la linda, naquela fotografia / de um filme, em algum lugar do passado! / Jane Seymour, toda ternura, sublime, pura, / em seu olhar, rosto, mãos, sua formosura, / é bem maior que toda a imaginação do poeta / quando buscou paisagens nos jardins do céu / soune desde seu irreversível, ilimitado léu que nem em sonhos a descreveria completa! // Não muito adiante, em tempo adolescente, / sua farta estampa destilava encantos, tudo, / Sophia Loren, invadia sonhos de tanta gente / no esplendor de olhos, seios, lábios carnudos. / Bem mais amena, porém, não menos bela, / outra italiana arrebatava tantos Quasímodos / destilando a inebriante sensualidade dela, / Gina Lollobrigida, volúpia pelo corpo todo. / Paixões por Marilin Monroe, a deusa loira, / Rita Hayworth, imortalizada para além de Gilda, / Catherine Deneuve, a bela da tarde, tão linda, / Brigitte Bardot, tanto quanto ou mais ainda... // Todas paixões precoces que duram vida a fora, / continuam vivas, sem jamais se irem embora / e, delas a que, fosse possível, é a mais perene / se fez Branca, paixão de Zequinha de Abreu, / em Tônia Carrero, constelação de sonhos ateus, / atiçando o proibido, desequilibrando gêneses. / Amenizando lascívia, turbilhão, desassossego / não era só beleza física a encantar o moleque, / o invulgar talento de Fernanda Montenegro / a fazia maior, encantadora gema rara, confete / bastando-lhe apenas um olhar, pequeno gesto / e tudo o mais, certo ou não, se tornava certo!