terça-feira, 19 de junho de 2012

MILAGRES

(Um poema guardado por minha amiga Ione Kusnecoff, escrito em 30/12/1988):

Caminha por sobre os perigos
Seguindo as luzes do amor,
Em volta estão os amigos
Adiante aquilo o que for.
Destranca dos lábios o sorriso
A vida é milagre, é amor,
Apreenda de seus improvisos
Ou o sumo daquilo que for.
E siga a estrada do sempre,
Limites não há para dois,
Acenda o infinito no ventre
Do antes, durante e depois.
É o sonho que acende a manhã
Do hoje, do sim, do que for,
Creia, há sempre uma canaã
Basta viver para o amor.
Mantenha os olhos abertos
Pois são tantas as armadilhas
Que o mal, o fácil, põem perto
Nas encruzilhadas da trilha.
Levanta após cada queda,
A dor também é bendita,
É pedra que junto a outras pedras
Forma a escultura da vida.
E quando não sobrar caminhos
E o sol esconder-se por fim
Lembra ainda terá passarinhos,
Lírios no campo e a mim.
Caminha por sobre as guerras,
Nas mãos a oliveira da paz
Expulsa o terror que se encerra
No ódio doentio que ela traz.
E quando morrer de cansaço,
De dor, de não ser assim,
Venha colher dos meus braços
Tudo o que reste de mim.
Caminha no sonho dos livres
A vida é milagre, é amor,
Aprenda ela é o que se vive
Antes, durante e o que for...

domingo, 17 de junho de 2012

AMOR DE ADOLESCENTE


Nuvenzinha travessa que meu sonho leve
buscou de longe, de outro amanhecer,
alva e gelada quanto um floco de neve
bela e distante, te tenho a não ter.

És carícia perdida da brisa do mar
tens n'alma oculto dos olhos o perdão
e teu lindo corpo pela vida a passar
dá ao amor materialista nova dimensão.

És, isto penso, a própria austeridade
e nos ritos pagãos de minha puberdade
muito pouco eu sei de real ou de dor.

Contudo, em minha particular realidade
nós somos iguais em tudo, na idade
e ainda que não ossa, te chamo: amor.

sábado, 16 de junho de 2012

PASSAGEIRO


Um rio desgarrado de seu leito
Inundou o meu não sei na oração que não rezei
Em meu peito o turbilhão das perdas e ganhos
Impulsionou as águas da insensatez,
Doce veneno que usei através de estranhos
Sons perdidos no talvez que virá do quem sabe...
E se me dei mais do que devia no durante
Ao partejar de arrebóis antes que o dia acabe
Desaguado no nunca mais desse nada adiante
As noites parirão outros sóis, outras vertentes
baixando águas, secando barros e mais
trazendo gente e gente à deriva do meu cais...

Tantas sombras, desenganos nestes rumos que venci
Pouca luz, o que me assombra é ter chegado até aqui
E o sol em meio à tarde, às vezes ao amanhecer,
Mágico, ilusionista, iluminando o sem tempo
A destempo faz-se pálido, sem jamais permanecer
E afugenta só por instantes as sombras deste silêncio,
Deixando-me só com a noite, herança desse sofrer
Sem luar, com a indiferença do nada com desdém...
E a claridade já era, não há nós, há medo e ninguém
Na espera de um novo amanhecer que nunca vem,..
Geme o cobertor do sempre sem distância percorrida
N'um nunca chamado morte, n'um breve chamado vida...