sábado, 5 de julho de 2014

SONETO DE PAZ


Paz para você que vem tão só
após cruzar tantos caminhos áridos
do inóspito trazendo feito pó
o que restou de tantos sonhos idos.

Paz para você cuja saudade íngreme
arrasta-o às lembranças esparsas
e o sacode enquanto o peito freme
de dor, na ânsia de fuga a farsa.

Paz ao mundo, aos homens queixosos,
de suas lutas interiores conscientes,
em suas buscas da felicidade ausente.

Paz para você, dentre os amorosos,
o mais perdido, o mais vazio, demente
de sonhos e de lágrimas, decadente...

TRIÂNGULO


Belisca João o pé de José que bate na bola;
Belisca João o pé de André que bate na cara de João;
João não reflete, se perde, reage e bate em André;
José se intromete, atrapalha, separa João e André;
Uma bala, uma faca, a pedra, é o fim de José.
É João, é André, é a fuga, é o medo, a noite, a morte!
Quem matou?... Quem morreu?... João?... André?...
Oh, José!
Quem fugiu?... Quem morreu?... João?... André?...
Oh, José!

João e André, três anos depois, é a condicional;
Já não é o João, já não é o André, são fantasmas
Libertos das grades de ferro da penitenciária,
Prisioneiros das grades chamadas lembranças
Que beliscam João, que beliscam André,
Se intrometem, atrapalham, separam João e André,
Como outros josé que trazem José...

Belisca João o pé de André que lhe bate na cara;
João não reflete, se perde, reage e bate em André;
Uma bala, uma faca, duas pedras, é o fim de João
Uma bala, uma faca, duas pedras, é o fim de André...
E José?... Morre agora, José!

ALERTAS

E quando ocorrer de ouvirdes sussurros do ontem
por entre as frestas do agora,
não te detenhas, mais que o necessário,
colhendo deles a suavidade do sim.

A brisa sopra por sobres momentos
sem importar-se em ser coadjuvante
ou castigar-se por não ser notada.

E quando ocorrer de ouvirdes brados do ontem
por entre as frestas do agora,
deves parar,até além do necessário,
colhendo deles o sumo da experiência.

O furacão sopra impondo o caos
sem importar-se, senão, com sua força,
ou castigar-se pelo mal que causa.

SUTIL


Não pise na cauda do gato
nem atire pau na história
que a gagueira do mundo repete.

Não fira seus tímpanos
com miados do absurdo
ou do evitável. Não bata!

O som travestido de notas uniformes,
expressivas, quentes, harmônicas,
educará seu ouvido, revestirá sua alma.
E o silêncio interior não será pesado!