Bhalthazar, disfarçado como
esperto papagaio de D. Heloah (assim mesmo, com dois agás, como era
dos usos e costumes daquele planeta daquela distante galáxia),
motivava cobiças por sua camaleônica forma e pretenso saber, em
diferentes segmentos daquela sociedade nem bem social e muito mais
dissocial ou anti-social por extemporânea vocação. Ali estava ele,
naquela casa de esquina, em intempestiva e improdutiva meditação no
“puleiro” a si destinado que abrigava não apenas suas patas em
macio piso como, pelo formato deste, se transformava, com um toque
sutil e objetivo de seu bico, em confortável cama, quando três
“gatunos”, certamente por encomenda de terceiros, dele se
apossaram com “puleiro” e tudo, fugindo pela porta e rua lateral
do imóvel, num possante veículo SimcaGalático de combustível
hélio + carbono + nitrogênio + elipses + “um poderoso abstrato
desconhecido” que era o supra-sumo da potência.
O vizinho, Sr. Shuthriphe,
inadvertidamente viu a cena e compreendeu o que ocorria, tentou
impedir o furto, roubo, rapto ou seqüestro (não importa o nome que
lá davam para aquele delito intentado e praticado) do Bhalthazar,
mas não conseguiu, pior que isso, foi forçado a ficar inerte sob
pena de ser “transferido via éter” para a “Eternidade ou Zona
H” nome que davam ao limbo deles, guardado por feras inomináveis
que mantinham os infelizes que lá chegavam como escravos sem saída
ou opção de lazer e onde tudo era um fim de mundo mais profundo que
a pior das depressões que conhecemos e ninguém quer ter. Ainda
assim, buscou via telepática, imediato contato com as autoridades do
delito em curso, os denominados “Vigias Classe Hs” que a tudo
monitoravam pretensamente sob comando do “H Maiúsculo” o
dirigente máximo da galáxia, munidos de tirocínio e velocidade “da
luz” em seus deslocamentos e investigações, que logo, logo,
saíram à busca dos delituosos, prendendo-os adiante, com veículo e
tudo, em cadeia psicossomática de envergadura disforme e descolorida
em local que denominavam limbo, ali ficando à espera do julgamento
supersônico que não tardaria para ser feito dentro do padrão
escorreito e concernente às escrituras legais que a tudo
disciplinava e comandava, dela nada escapando, até mesmo uma
cuspida, se mal dada, nela encontrava a predeterminação aplicável.
Tanto quanto a lei, também a Comtista e Positivista mensagem “Ordem
e Progresso” signo e chave de abertura de portas palacianas, devia
ser seguida ao pé da letra, sem jeitinhos, embora não houvesse
outro jeito que não o jeitinho, até mesmo para transformar em
vítima o delituoso e culpar os Vigias Hs pelos delitos.
Enquanto isso, parece que foi por
obra e graça do mau humor de Bhalthazar, agora despido do disfarce e
lutando pela própria sobrevivência depois da briga que teve com o
Sr. Shuthriphe, os vários céus da galáxia se encheram de nuvens
nimbus pesadas, prenhes de muito terror e raios, anunciando
temporais carregados de cadáveres e esqueletos de aves já sem asas,
vindas da “Eternidade ou Zona H”. Em meio a tudo aquilo, como se
fosse um sopro de ilusão, uma criança lindíssima chamada Cohngtho
ganhou um bolo e nele, escondido, reinava um jacarezinho muito bravo,
que rosnava rilhando seus dentes afiados trazendo por sobre sua parte
anterior (ou seriam suas costas?) várias larvas ou óvulos ali
depositados que pululavam sem se saber como, porque ou por quem. Os
mais variados personagens dessa galáxia tentaram de todas as formas
e conseguiram libertar a criança, mas não mataram sequer uma larva
ou óvulo que fugiram em violento pé de vento que, tampouco se
soube, se pé direito ou pé esquerdo pois na verdade e por mais
inverossímil que seja, aquele vento não tinha pernas e muito menos
pés.
Ora,
ora, as tais larvas ou óvulos, do jacarezinho do mal, se
transformaram em peste invisível e performática e do rabo do
jacarezinho e atacaram o bolo maior chamado mundo ou universo ou,
como queiram, toda a galáxia que não os esperava e muito menos
estava preparada para recebê-los ou enfrentá-los. Entre as formas
dessa peste atacar, uma era pelo contato entre os habitantes, porém,
a mais comum era pelo ar que os habitantes para sobreviver
respiravam, por isso com o respiradouro que chamamos de nariz voltado
para cima (o que tornava difícil sair à chuva sem guarda-chuva) a
defesa desse ataque se tornou quase impossível. Os muitos
contaminados contaminavam outros tantos e assim por diante, formando
o que foi chamado de “pangaláxiamia” (o que conhecemos como
pandemia) que transformou para pior a vida dos habitantes. E foi um
“salve-se quem puder” para todos, com ou sem eira ou beira,
embora alguns ainda professassem sentimentos esquecidos desde tempos
imemoriais, todavia escondidos em suas entranhas agora expostas às
intempéries e vicissitudes; estes, iniciaram campanhas de
arrecadação de bens à sobrevivência criando uma corrente de
solidariedade que se pretendia houvesse sempre existido e jamais
existira de fato porquanto sempre tinha cascas de bananas por trás
delas. Enquanto isso os entendidos, cientistas claro, antes tão
desconsiderados, em franca e agora respeitável atividade saíram à
busca de armas para enfrentamento do inimigo com chances de êxito
para vencê-los. A partir daí e só a partir daí aqueles antes
ditos idiotas e campeões na perda de tempo, em estudos non
sense,
foram reconhecidos como os salvadores da Pátria ou melhor, da vida,
pela grande maioria dos galaxianos (uma minoria de idiotas, metidos a
heróis de frascos e comprimidos, acreditavam em mil e um tratamento
precoce ineficaz).
E
Bhalthazar, por onde andaria Bhalthazar? Pois bem, com toda sua fama,
capacidade e pretenso saber, após o incidente de que foi vítima,
voltou ao seu “Puleiro” e se aquietou, um tanto quanto livre das
tralhas que o amordaçavam ou melhor, que só lhe deixavam repetir o
que a insanidade do grupo lhe repassava e, assim calado, virou um
grande poeta de silêncio inalcançável, alheio a tudo quanto não
fosse se conservar integrante do “Puleiro Mor”, o qual jamais
pensara ter e que agora o tendo fazia qualquer coisa para manter, até
peremptoriamente calar a boca se preciso fosse. Saliente-se que
silenciosamente rezava pedindo aos céus que ajudassem Lhulbhabha, a
quem acreditava fosse o antônimo de si que, embora idiota, jamais
cometera qualquer furto ou roubo, para voltar do merecido limbo a que
fora enviado por galaxianos honestos (e que por serem, exatamente
isso, honestos, agora caíram em desgraça vitimados por sorrateiros
golpes dos poderosos que não suportaram viverem longe das “mamatas”
que os tornavam mais ricos e poderosos) e viesse concorrer consigo,
entendendo como única chance que tinha de sucesso para continuar no
comando da “Galáxia H”, usando e usufruindo do pomposo e nada
abstrato título de “H Maiúsculo” sendo a única, ainda que
péssima, alternativa àquele (que todos sabiam, como se fosse
possível e era, bem mais péssimo do que ele).
A galáxia, apesar
de tudo segue viva porquanto seu solo é rico enquanto que seus
habitantes, em sua grande maioria, são ricos apenas de imaginação,
jeito, trejeito, curvas e métodos ortodoxos derivados da lei do
menor esforço, sem educação ou conhecimento cultural suficiente
para igualaram-se ao solo que habitam e preguiçosos, néscio,
preferem mitificar absurdos, elegerem pretensos heróis de bravata
para lhes repartir o bolo (que ficam com os maiores e melhores
pedaços) e, impassíveis eis que se repetem “n” vezes, em vez de
fatias se contentam com migalhas... A tal “Galáxia H” parece,
nem tão distante assim de nós, nem Bhalthazar ou Lhulbhabha, como
se sabe, o são...