terça-feira, 21 de maio de 2013

PEÇA REVISADA


Dai lugar, meu coração,
àquela outra visão,
àquela que aprendi
nos tombos e açoites
daquelas tristes noites
que se ferem por aí...
Como gado marcado
cumpri o aprendizado
de ser só racional
e largar essas frescuras
do amor, grande loucura
que faz bem e que faz mal.
Por isso, de ora em diante
coração, és figurante
na minha peça revisada,
um mero personagem
na material viagem
que abraça minha estrada...

CHEGA!


Não me venhas com lorotas,
pesadelos, coisas tortas,. Chega!
Não há mais espaços em meus braços
ou dentro de mim para coisas assim.
É fim de linha, de ladainha,
não se atreva a dar mais um passo,
chega de papo, chega de ti!
Não quero o ontem, saber do hoje
e muito menos, do amanhã,
agora estás fora, eu estou fora,
chegou a hora da razão pagã
que me ilumina, mandar embora
um tal de amor que me fez presa
das incertezas em que vivi,
vindas da espera, da existência,
de que houvesse amor em ti.

NOVOS (ANTIGOS) PENSAMENTOS


a) Por vezes, não basta solucionar, há que condicionar...
b)A boca da noite não boceja.
c) Conjugue pensar em tempo de agir; assim, chegarás à realização de teu objetivo.
d) Estático é o que já foi dinâmico... e parou!
e) Ninguém cala o grito de carnaval, exceto a quarta-feira de cinzas.
f) Sentado, falava raivosamente; quando o mandaram parar, imediatamente se colocou em pé.
g) Beijá-la, eis um segredo que pertence aos meus lábios.
h) Nem só de botões se enchem as casas...
i) A Bíblia tem menos idade do que o pecado.
j) Em determinados casos, não há determinador...
k) O redemoinho do tempo suga a vida; daí se afirmar que viver é morrer a cada instante corresponde a verdade!
l) A ovelha faz streap-tease no verão.
m) A imbecilidade não é contagiosa, mas às vezes...
n) Alguns confundem mentira com habilidade e mentem para si próprios.
o) Conte-me tudo, sou surdo-mudo e, se quiseres, cego. Teus segredos exalam o cheiro do proibido, o que aviva minha condição de pecador.
p) Pior do que o crédulo é o incrédulo; por culpa do último o mundo não conhece paz e, do primeiro, se     alimenta o fanatismo temperado no ódio e nas malversações indigestas.
q) A saudade é o latifúndio do romantismo.
r) A desgraça, apesar de tudo, tem graça no nome.
s) Diante do amanhã o hoje não passa de dois pontos que anunciam etc.. e o ontem já é um ponto apenas.
t) Luxúria é o que minha cabeça realiza enquanto passas vestida de provocação e pecado.
u) Cuidado! A fera mais predadora não é o animal irracional, é o bicho homem.
v) Locar, deixa louco!
w) No dígrafo o constante companheirismo.
x) Ir aquém do que se pretende, também é ir até onde se pode.
y) Parabéns! Por tua causa o mundo não é mais o mesmo; pode estar um pouco pior, ou melhor, muito melhor, mas não é mais o mesmo.
z) O castigo sempre vem tarde...MAS VEM!

SONS


Não pise na cauda do gato
nem atire o pau da história
que a gagueira do mundo repete,
não fira seus tímpanos com miados
ou cordas esticadas de absurdos
ou de todo evitável. Não bata!
O som travestido de notas uniformes,
expressivas quentes, harmônicas,
educará seu ouvido, revestirá sua alma
e o silêncio interior não será pesado.

domingo, 19 de maio de 2013

PELEIA


Dos horizontes que andei, das brigas que me meti,
das sovas que apanhei, das guerras que já venci,
surgiu o homem que sou na vida que sempre canto,
que retempera acalantos dos momentos que passou.
Às vezes acabrunhado pelos tapas, pela inhapa,
troco vil de vil cachaça, pareço estar derrotado
mas, se o tirambaço me apeia levanto-me, sou teimoso,
sacudo o pó orgulhoso, enfrento em pé a peleia.
E, assim, brigo pela vida sem entrega ou destempero
antes sendo uno, inteiro, do que metade perdida
pois p'rá cada desespero sobra esperança vertida.
De peito aberto me exponho sem medo e sem fugir
de mim o melhor eu ponho, no pensar e no agir
e se acaso eu erro ou o pior é o resultado
não me desgasto em berros, murros ou "pobres coitados"
pois entendo, sou humano e como tal tudo é incerto
nem sempre o melhor dos planos é aquele que dará certo
não importa, sem remorso, dou tudo e mais um pouco,
para tanto me esforço no amor e respeito aos outros.

NÉVOA


Baixas, profundas, curvas,
altas velas celulares
passeiam cravando lares
na armadilha das ilhas
que o conteúdo baliza
distantes e solitárias.
Há um pouco disso tudo
e mais, no algo mais da tarde
desnudada, oferecida
ao sol de toda a verdade.
E mesmo quando indormida
manhã, órfã de plurais,
baixas, curvas, naturais
noites partejam andares
filtro de estrelas polares
no alvo alvas vicejam rimas.
E a dentadura postiça
a inverdade re-acerta
é morte feito cortiça
veda e vive - morre e veda -
no arco e em suas flechas.
Baixas nuvens, velas curvas
do lusco-fusco das horas
vai embora, vem-s'embora,
passagens de águas turvas
que o hoje se encarrega
de levar, ponte e espaço,
por entre o céu e a terra
dos inteiros aos pedaços!

MUTAÇÕES


Depois do grito, a espera,
no eco não dobram sinos
nem se volta ao que já era,
como somos pequeninos...!
O caminho é sempre em frente,
o rumo que é invertido
para o ontem e para o sempre
paradoxo dos sentidos.
Pouco ou muito importam fases
que passas em teus andares,
em cada uma a mensagem
moral da fábula que fazes,
nela a presença do tempo,
na mutabilidade dos ares,
abriga a tua passagem
mutável deste milagre.
Degustas tuas angústias,
teus medos, anseios, flores
e aprende a esperar, paciente
quem precisa do presente
na razão do merecido
é o futuro adormecido
nas dobras do tudo adiante...

... E o que foi plantado outrora
colherás chegada a hora!

CETICISMO


Não há mais potes de ouro
lá no fim do arco-iris,
nem Chapeuzinhos-vermelhos
ou florestas encantadas;
que fim levou Cinderela
casou ou foi raptada?
e a Bela Adormecida
não é sono, foi drogada...

Há um deserto fatal
no pote das ilusões
o mal do Lobo-bobo
não é de faz-de-contas, não,
vive aqui, mora aqui dentro
deste mundo bem real
poluindo corações
cardiopatia geral...

A vida não passa ontem
nem existe no horizonte
que a esperança delineia;
ela está aqui, à mão cheia
neste agora que se passa
no individual das massas
- mosca presa em uma teia
de um só destino sem graça.

Do era uma vez, desatinos,
vícios, bombas nucleares
a Bruxa soltou seus filhos
p'rá explodir a humanidade...

ESPERA AÍ, TCHÊ!


'Pera', 'pera', 'pera' aí, companheiro
p'rá que desse andar ligeiro
se o rumo é sempre passagem.
Apeia da pressa e te acalma
e sorve o doce da alma
do verde destas paragens.
Correndo assim, contra o tempo
além dos mil contratempos
não levas qualquer vantagem,
pior, a vida passa e não vives
a placidez do arco-iris
gastando alpedo a viagem.
Por isso, pára e me escutas
a maior de todas as lutas
não vale mais que a coragem
de se admitir um vivente
milagre do Onipotente
que nos criou a Sua imagem.

CHUVARADA


Êta chuva baguala
aos pagos regala
mantos de céu
que descem das nuvens
desfeita em carinho
engordando caminhos
de nossos açudes.

Apressa, desanda
o choro da vida,
a vez renascida
da grama, da planta,
saciando no jorro
de vida que estampa
a seca da pampa.

Tal como tu,
dos olhos, da fala,
de minhas entranhas
meu riso, tristezas,
de perdas e ganhas
partejam certezas
de andanças e sangas.

TUDO


Dos teus carinhos torrenciais
sou ressonância,
instância!
E de teus encantos naturais,
a audiência!

Do infinito deste amor
quero a fragrância,
constância
e substância!

E do olimpo de teu corpo,
coração, alma e poros
a essência!

NUANCES


Teus lábios pintados
de vermelho assanhado
arrasam, devastam
minha imaginação.

Onde andarão
os beijos anunciados,
os beijos não dados
que meus já não são?

Estarão os tons naturais
dos lábios sensuais,
das faces rosadas,
sob o rouge e o batom?

Assim como os beijos
que meus já não são,
os dados são beijos
que teus já não são!

GOL


No peito do pé do atacante
a bola esfuziante
explode indefesa,
em curvas inconstantes
morre acesa
no sonho do gol.
Que instante, que glória
fugaz e completa
vive o atacante...
Nada além da proeza
daquela conquista,
na corrida, nos olhos,
nos braços, no corpo,
a vitória se agita.

Enquanto isso, o goleiro,
coitado, na poeira
soluça a desdita,
nos olhos a imagem
do bólido que dorme
no fundo das redes
arrastando-se o recolhe
com raiva e tortura.
N'outras ocasiões o teve
pleno de ternura
embalado aos ritos
das grandes defesas,
agora os caprichos
dos deuses do estádio...

A dor e a alegria
distantes na rota
têm a mesma origem;
enquanto um festeja
em plena euforia
o outro solfeja
na derrota a agonia
e a bola chutada,
prensada, esfolada,
ansiada, querida,
como, enfim, é a vida,
refaz trajetórias,
derrotas e glórias,
eternidades fugidias...

HIATO


Fala-me de felicidade
com se ela existisse
perenemente. Não é assim!
A felicidade é um sonho,
um grande sonho de cujo total
retiramos pedaços desiguais
e o contrapomos à realidade.
É sopro revigorante
dos pulmões da esperança
que nos mantém ativos,
adiante o hiato que passamos... vivos.
Ah, momentos felizes
que a saudade repete
espancando cicatrizes
e a dor em nós permanece.
Enquanto isso a vida passa
morna, por entre os dedos
e a brisa tênue da graça
acaricia o arvoredo
no hiato em que somos a prece.

UM SOM QUE CHEGA DO ONTEM


Entoava uma música, nem bem conhecida,
falava da vida, não esta de agora,
de um tempo perdido jogado p'rá fora
do tempo sem tempo, medida ou saída.
E o cicio me chegava rebatendo o vazio
do rio de lembranças já quase apagadas
como brasa jogada na carne ferida
rebentando amarras qual vaga indomada.

Chegava-me a música algo diluída,
dolorida, estrelada, na noite instalada
no abandono, no espinho, nas queixas
no sonho desfeito, no vazio temerário
caído da gente, dele perdulários...
De lá,eu criança, sem medo, assim
remontando peças do quebra-cabeça
de antigas histórias de ti e de mim...

POETA


Poeta da vida que canta o agora
ou chora o passado, sonhos desbotados
que vertem do nada das noites insones
 - Poeta da vida, poeta sem nome -

Poeta da vida de toda esperança
nos versos consomes amores vividos
no futuro escondido que ainda alcanças
- Poeta da vida, poeta criança-

Poeta da vida são cinzas, são fogos
teus versos são jogos, universo e medida
das mil maravilhas, das maravilhas
- Poeta da vida, poeta maravilha -

Final de domingo


Há um clima de tristeza
no domingo à tardinha
algo assim de fim de festa
nostalgia que começa
invadir devagarinho...
Na verdade, no domingo
a semana se inicia
e por isso o choramingo
da tardinha denuncia
horizontes não vividos.
Desce a noite e o amanhã
logo cedo tráz à luta
mas no agora a tarde sã
morre calma, sem disputa,
n'um silêncio repousado.
E o domingo, já passado,
anunciado às sextas-feira
deixa como suas herdeiras
a tristeza que emana
e esperanças p'rá semana.

SOM QUERÊNCIA


Em livre arpejo muito frio e pouco quente
corre indomável, vento minuano
vindo do ventre do continente
inumerável, ano após ano.
Penteia a Pampa, agita às águas,
resfria mágoas, beija coxilhas
floreando sempre sua melodia.
Música tema que o homem ouviu
e pode imitá-la no assovio,
depois em guitarras e bandoneons
e transformá-la, sem mais delongas,
no som querência, rainha milonga.
Hoje, aramados separam homens
o que era livre foi enjaulado
e repartido aos privilegiados
enquanto muito repartem a fome.
Ainda assim, lá dos confins
do continente, ano após ano,
sopra o minuano, inconquistável
por sobre a Pampa, inumerável,
frutos maduros de companhia
que arranhados pelo aramado
mantém a linha, o som, bailado
do som-querência, milonga-rainha.

TÊMPERA FARRAPA


Quantos sonhos confiscados
pela ambição cretina
quanto, jazem abandonados
n'um limbo que chamam sina.

Desacreditar na vida,
nos caminhos da esperança,
ver a terra ressequida
no desterro da lembrança.

Já vergaram o teu corpo,
descalçaram as tuas botas
esfarraparam o teu poncho,
tuas bombachas, tuas costas...

Continente, não és ilha
que se encilha de aluvião
não esqueças, és farroupilha,
têmpera de redomão.

É preciso, de verdade
suar justiça e direito
trabalhar na liberdade
de ser da ação o sujeito.

É preciso crer de novo
no valor do que se faz
com o amor, parte do povo,
vestido de guerra e paz!

ESPIRAIS


Sempre me olhes com este olhar de pode ser
que me diz coisas muito além do meu saber,
nas reticencias o mistério, o sensual
que me fascina, o mergulho em espiral...

E nesta arena, movimentos delicados,
passos de dança, nossos corpos abraçados
não há sinal de parada à nossa frente
pista molhada, derrapadas de amor somente.

E tantos véus que ressaltam tua beleza
caindo impunes, sem pudor, diante da presa
oferecendo,  n'um bouquet, a realidade
do despertar, do se encontrar, felicidade.

Assim continues com este olhar de pode ser
me antecipando o infinito, nosso prazer,
eis que o amor fará o tudo, o mais também,
sonhar-viver, viver-sonhar, ir sempre além...

MINÚCIAS


Para te descrever
desnudo a tua imagem
tudo! o teu ser... a paisagem!
E vou assim, de poro em poro,
minuciosamente, a d o r o,
enquanto, suavemente
deixo-me inundar
pelo mel dos teus olhos...

Tem mais que reticencias
no linguajar das estrelas
e tua imagem ao retê-las,
faz-se mistério, presença
filtrada dessas essências.
E teu perfil e matizes
desfilam na transparência
do tudo que tu me dizes...

CADA


Cada degrau que se sobe
é um degrau que se deixa,
cada degrau que se desce
é uma escada de queixas

Cada rua que se passa
não passa na mesma rua
é passagem que repassa
sem jamais sair da sua.

Cada qual, qual é o cada
qual da cocada queimada
e se tudo for estrada
não terá mais caminhada.

Pois a estrada é caminho
do andar nós e sózinho
fui salvo pelo teu carinho
muito mais do que um ninho...

ADOLESCENTE


Nem conforme ou revolucionária
entretinha-se por sobre o andar da vida
que de agitos e espasmos morria.
Mal sabia  da manipulação dos ventos
mesmo inútil, mesmo perdulária,
somos todos contratempos
colocados em fileira
às vezes desordenada
uns indo sem eira ou beira
outros, de melhor sorte, nababos
pulando de um sonho acordado
para outro, sempre inacabado.
Nem conforme e tanto basta
revolucionária, nem tanto,
na vida gastando encantos
da carne que assim se gasta..
Passando rumo a poeira
do tempo que jamais passa...
E o mundo de brincadeira
ficou perdido na praça!

... E SE ACASO TIVERDES ... (Ao filho adolescente)


... E se acaso tiverdes que me esperar na esquina de teus problemas, não temas eis que não te faltarei... como não me faltaste quando fui buscar-te no infinito em que andavas e chegaste como a alvorada, transformando meu mundo e me dando o supremo privilégio de ser PAI...

... E se acaso tiverdes antigas e novas dúvidas, não hesites em colocá-la perante mim: A dúvida é própria dos humanos. A diferença de tê-las e resolvê-las está na FÉ e no AMOR. Isto aprendemos reciprocamente.. O teu amor e o meu amor e vice-versa, assim como a fé, são nossos caminhos e deles retiramos a essência de valores pelos quais nos conduzimos perante nós mesmos, nossos semelhantes e Deus...

... E se acaso divergires, não temas a divergência, desde que ela tenha esse cunho de buscar a verdade acima da hipocrisia e do egoismo... ao fim e ao cabo, a VERDADE da VIDA se impõe pelo AMOR e, portanto, estarão conosco, AMBOS,como também a PALAVRA DE DEUS...

... E se acaso estiverdes perdido, no limbo do nada da descrença, na escuridão dos aflitos, no nada do nada, lembra-te que eu te amo agora, antes e sempre, e que tal AMOR tudo pode, tudo sabe, tudo perdoa, eis que provém de uma pessoa que foi abençoada por DEUS ao ter e ser na pessoa que tu és.

... E se acaso ... todas as palavras que te poderia dizer entretanto, não espelhariam ou demonstrariam, com a fidelidade, extensão e grandeza, o exercício puro e divino do AMOR que detenho e te dedico e sei, também tens, ou um dia descobrirás que tens, com relação a mim.

                           (Mensagem escrita para meu filho Ricardo Alfonso Perrone, à época de sua adolescência)

MODERNOSO


Agarrou ritos modernos do social despindo-se da natureza
outras belezas preencheram seu visual, outros assuntos, outras certezas.
Maneou as patas da liberdade individual na sutileza da etiqueta
Neste andar bem comportado de colarinhos e canetas
trocou os braços e o cérebro, domados pela máquina infernal.
Agora, respira lendas no eco-sistema material
dentro do esquema, sorrindo à toa
lembrança boa do que não foi e nem será jamais.
Escravo dessa vaidade, dessas modernidades
vive agarrado ao veneno que o desfigura e mata
no vício que lhe arrebata como um mate de amargura
em meio a ilha deserta, infeliz e incerta
de muito sós sem o nós da perfumada coxilha
do ventre, da sua raiz esquecida nesta agrura
de solitária subida e do iminente tombo
à altura do nada, do que se há de dizer.
Tenta ser remansoso e o mundo todo fazer,
pealo de realidade no xucro de uma saudade
que acaba no podia ser... E tudo vira assombro...

ENTREVERADO


Do entrevero* das esquinas
de mais uma campereada**,
das tantas da minha sina***,
bombiei**** a mulher amada.
Meus olhos que não esquivo
ao fitar o lenitivo,
resposta de tantas preces,
pestanejaram emoções
e assim como quem aquece
a charla***** junto ao braseiro
de modo manso e faceiro
ginetearam****** às ilusões;
não deu outra, companheiro,
que o encaixe das metades
logo formando o inteiro,
o que hoje é a realidade.
No rendimento dos juros
o inteiro deu os seus frutos
que o sonho viu duplicar-se
na família, neste enlace
de vidas que somam vidas.


Glossário:
* = confusão
** = busca
*** = destino, sorte
**** = olhar, ver, enxergar
***** = conversa, comentário
****** = cavalgaram, domaram

PARA SEMPRE


E quando finalmente sucumbimos
aos apelos do amor, aí descobrimos
o quanto idiotas e cegos temos sido.
Eramos, desde o sempre, destinados
um para o outro, o ser do ser amado
e o próprio amor assim reconhecido.

Mas, em crianças e aparentemente
não podíamos amar perdidamente
e os adultos então nos separaram.
Mais tarde, ainda em tempo, moços
vestimos os enganos e nos outros
perdemos o amor que nos negararm.

E vieram os pesadelos sem alegorias,
o quem sabe bem perto da luz do dia
o enganoso fogo fátuo das ausências.
Um sem o outro era um dia morto
de luz, sem amanhã, ao desconforto
de se saber o amor e a indiferença.

A partir de agora fica decretado
nada mais, futuro ou passado,
nos fará distantes ou indiferentes,
nem a morte, tantas vezes pedida,
impedirá que o amor nos faça vida
desde o agora até o eternamente!

NO RIMAR DOS TEMPOS


Perdoem-me, amigos e inimigos
as forças faltaram
e o basta se fez definitivo...
Permitam-me rogar, no derradeiro alento,
não lembrem tão somente deste instante
- antes, lembrem-se daqueles bons momentos
em que fui em cada um,
pelo supremo prazer de ser nenhum...

... E retirem de minha parca história
o legado que, vaidoso, penso vos deixo:
É o amor o infinito e a trajetória
fluindo para o sempre e para os outros,
esse amor que exercitamos tão pouco
nada nos custa e não tem medidas
é o passaporte à verdadeira vida,
é a vida eterna no rimar dos tempos!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

SUSTO


Um tiro na madrugada
o cão ladra na calçada
som de correria, gritaria
depois o silêncio negra calmaria...
E tudo passa em fração de segundos
E tudo fica, solto no mundo
que a reticência desdobra
mais espanto, mais sobra,
na noite escura que não dorme
em meio ao seu vulto disforme.

terça-feira, 14 de maio de 2013

HERANÇAS


Tenho a dor da espera e vê-la
encravada em meus devaneios
quisera eu mais vencê-la
para além dos fins, dos meios
antes que a vida se perca
na encruzilhada desta fera
que teima em se deixar, acerca
da perfeição da esfera.

Parece que a noite finda
mas o dia não amanhece
e a dor que sinto esquece
a hora de ir-se, saindo,
embora tenha eu a crença
n'um persistir que convença
até o indefinido, se definindo
nessa inconsistência infinda.

Pois virá o que se mereça,
nada além nem muito menos
do que se planta se colhe,
nos ciclos que todos temos.
E das correntes escorre
o elo do que foi presença.

Aos trancos


No tanto que falta, ao quanto que se gasta
escondem-se o pouco e o muito irado
e assim o tudo que no tudo se basta
enquanto se engravida de caso encerrado...

Em toda a situação assim, mal resolvida,
sem queixas se madrasta foi a sorte,
pior seria se madrasta fosse a morte
que me torna um nada sem a vida.

Nem só de sonhos fiz minha trajetória
Ah! pudera... teria sido outra história
sem arroubos fúteis ou solavancos,
lições úteis, dos trancos aos avanços.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Abordagem do eu sozinho


Quando tento abordar
este tema, o singular,
não dá prazer
e vem passagens tais
que me fazem dor e mais
do que  meu próprio ser.

É quando o verbo estar
confunde-se com ficar,
conjugando-se de após
no trauma desse ir e vir,
presa fácil, sem sorrir,
na ausência desse nós...

MOTO PERPÉTUO


De ti, todos os meus versos,
teses, antíteses, sínteses,
universo...

Por ti, todos os meus sonhos
onde o mel do sim
eu colho...

Em ti, todas as minhas vidas,
espaços, meio, fim, vindas,
idas...

Sem ti nada sei de ser ou ter
exceto um não que mata
por viver...

E se passam os anos, loucos
mas deste amor eu não mudo!
Não por ser muito, ou pouco,
mas, por ser simplesmente tudo!

FALÁCIA


Prender o inconstante
de todos os meus instantes
na carne que germina
o etéreo que ilumina
meu espaço sideral.
Partir do antes do zero
para explodir o meu quero
no rumo da surpresa
sem mais ser a represa
da magia sem real.
Transitar nestes passos
de todos os abraços,
de todas as dimensões,
rebatendo as tensões
do não e do anormal,
badalar todos os sinos
voltando a ser menino
sem pompa, sem alarde
e descobrir o tarde
em algum ponto final.
Correr, voar, liberto
dos certos ou do incertos,
sem regras ou artimanhas,
sem mar, céu ou montanha
sem formar ou ser total.
Partidas e chegadas,
rua, degrau ou escada,
o muito e o somenos
do aceno obsceno
do sinuoso espiral
dos olhos e da vertente
de saber-se e ser gente
infinita e material,
movendo-se no impossível
do tudo quanto possível,
da aurora e o arrebol
refulgindo-se de sol,
o bem vencendo o mal.

QUEDA LIVRE

Quando dei por conta, a glória
das conquistas e as vitórias
retiraram-se do meu lado.
O negro de minhas misérias
voltava de suas férias
para cobrar o atrasado...

E daí, vencer os dias
de prisão sem alforria,
sem mais sol, sem presente,
das urtigas do caminho,
pedregulho do eu sozinho
fez-se o rumo à frente...

N'um gesto insuspeitado
descobri-me uma semente
sem dar fruto, desprezado
na loucura de ser gente.
Foi-se o reino e o reinado,
a caçamba e a corrente...

De apanhar embrutecido
pelas dobras do perdido
feito sobra da comparsa,
a derrota mais pungente
fez-se plena, inteiramente,
mistura de real e farsa...

E com réstia de coragem
venho seguindo a viagem
na curva da trajetória
deste antes tão distante
deste agora, sem adiante,
cumprindo a minha história...

E das brumas do antigo
nada resta, nem um amigo
p'rá acalentar minha sina...
Varre a dor meu infinito
nas ventosas deste grito
desta vida que termina...

Do inventário resta pouco
nos desvarios deste louco
um quase nada sem começo...
Urge passar, pular pesadelos
de céus que formam modelos
que agora sei, não mereço...