sábado, 10 de outubro de 2015

NO ESPELHO


Tu que me falas desse modo
com a autoridade da aparência
e, na essência, te manténs indiferente
nesta estampa que deténs: Nada és!
E me informas: Nada sou também!
Do espelho, essa imagem me provoca
e desloca à estampa envelhecida,
os pesares que os anos a cercaram.
E assim, muda, falas e me espanta
dançando impune na frieza do aço
escancarando essências transparentes.
Tu, oposto e aparente, percorres o fio
da existência que passa ao largo
em vicissitudes que os fulcros mostram.
Tu em mudança, o eu que está agora,
o eu chegado do que tu demonstras,
aparentemente, em verdade, aparentemente...

ELIPSES


E assim a força centrífuga me atinge e o mundo roda
E a roda sou... Em nada sei e penso...
Embora o receio e a curva,
Sigo empurrado e sacudido por sonhos
E o sonho sou... Em tudo, sei, o escuro...
E o remoinho dos passantes e certezas
Aderem-se ao menino
E menino sou, de espirais incertos...
E, perplexo, alcanço o nada e o tudo
Inventando a vida
E a vida sou, desfolhando cinzas.
E rodo a curva, o tempo corre
E movo o novo do infinito hoje
E o hoje sou, em amanhãs que tenho...
E o mundo m eu se chama enigma
E rasga o antes e o depois
E o antes e depois sou, em mim o espaço,
Como o tempero de todos os meus tempos
Que este tempo urde
A curva próxima espera-me em seu todo
De recriar mistérios ao menino moço...

"EUS"

“EUS”
Itagiba José
... E assim se apresentam,
eu e os outros “eus”
que em mim habitam
e são muitos, muitos outros,
dos serenos aos afoitos,
dos néscios aos que criam...
...Às vezes sou a pedra,
outras vezes, a atiradeira,
n’outro momento, a vidraça,
o ocaso da cremalheira
do tempo, do “eu” que passa
nas incertezas do passo,
nas incertezas do espaço...
Com todos os “eus” juntos
em uma só vez, me acho,
misturando o cada qual
n’um singular conjunto
sendo, ainda ali, um plural
como o pedúnculo e seu cacho...