quarta-feira, 23 de maio de 2018

CONSCIÊNCIA


Sei, não serei reconhecido no que digo
mas meus escritos sobreviverão contigo,
o que tenho dito, bobagens, trivialidade
façam ou não façam sentido, as verdades
do que tem sido, o sim, o não, o omitido,
os meus achados, os meus perdidos, assim
...Enfim, embora morto estarei mais vivo
em ti e na saudade que levarei comigo
restando provado não existir despedida.
E tantas são as vidas passadas, futuras,
que esta, encerrada, nada mais é ou será,
réstia de sol, sal, sombra, eterna jura
do inescrutável reverso das partidas.
E, como em outras agruras, disso brotará
lá adiante (quando, penso só eu estabeleço
proporcional à espera e ao que mereço)
um novo rumo, mel e luz, uma nova vida,
nova cantiga, novo começo, um novo fim
sem mais meus sonhos, outras despedidas
e, de novo, tudo será... Não mais em mim!

segunda-feira, 21 de maio de 2018

DECADÊNCIA


No que seria eu se no tudo dito
comigo convivem verdugo e presa,
o bendito confrontando o maldito,
comum e surpresa no butim, à mesa
incrível e invulgar pressa do acaso.
Enquanto rasga o dia o sutil se espanta
ao roçar no nada de seu próprio ocaso
e, dentro de teus olhos, esbugalhados,
pressente-se o oblíquo dos pecados!
O tudo chora, o tudo canta e encanta,
todos os erros se repetem nas esquinas
escondidas, dentro do tempo passado
nada mais são do que névoas, neblinas
do insuspeitável consciente adulterado.
Por isso carrego fardos do antigo antes
pesando em mim o medo do amargo durante
deste agora, preso em minha desvalia,
vestido de noite sem nunca ter sido dia.

SÚPLICA


Senhor Deus, valei-me
em sonhos, risos, quimeras,
lancei linhas de espera
no turvo rio do momento.
São meus os mananciais
das curvas dos pensamentos
que a cada riso ou lamento
explodem nos vícios meus,
no viço que se perdeu
no chão das iniquidades,
nas perdas e ganhos da idade,
põe de joelhos filhos Teus
que manquitolam agonias
na rudeza do concreto
embriagados de elegias
pela posse do secreto
...E se morro no abstrato
repintando noite em dia
desnudo todo contrato
que me faz ver fantasia,
binário surreal de falácias
que bailam dentro de mim,
tanino extraído das hemácias
do princípio, meio e fim.
E, quando posta, reverto
a ponta da espada no peito,
como causa me converto
em simples e mero efeito...
Rios de amores, ódios, nada,
das entranhas da jornada
e rosa do ventos, um norte,
desagua vida em nossa morte!

DA VIDA


Leve, pelas caronas do ressonar imberbe,
flutuava solto por sobre os problemas
dilemas do esperar que a si não serve
e como proclamava e dizia, breve,
nada era mais importante ou salutar
do que a vida que ao viver convida
ainda que, e sempre tem um ainda,
com nada se conte e nada se espere
além da força do escorregadio dia
que nos espanca com febres e utopias
desses amanhãs que o hoje sugere!