terça-feira, 27 de maio de 2014

ESPERA


Enquanto não chegaste
e longe andavas,
tua presença em mim estava
e na ansiedade desse instante,
vencida a espera, fez-se a vida...

Derradeira das  ilusões sentidas
trouxeste luz à minha estrada,
sem mais dores ou despedidas,
refletida no céu de tua chegada.

E mortal que sou, deusa e mulher,
ponho no olhar, em tudo ponho,
bem além do antes e do que vier
o amor inteiro vivendo o sonho.

Do mísero que sou ao pródigo até,
em êxtase espero o que sei, virá
lá, do infinito do que tu és,
n'alma e glória que tu me dás.


PROSSEGUIR SENDO O QUE VOCÊ É...


É esse o vento da desilusão
que lhe esfacela de encontro à canção
e lhe executa ao som e voragem
de toda a dor e retira a coragem
de prosseguir sendo o que você é...

É esse o estado pungente que fala
de um amor que passou e que cala
lá dentro da alma feito um espinho
que se desloca, interrompe caminhos
de prosseguir sendo o que você é...

É esse momento de eterno regresso
que se faz tempo de espera, recesso
contaminados de fel e rancor
na asfixia do amor sem o amor
de prosseguir sendo o que você é...

É essa noite, tristeza que assume
o corpo inteiro da ausência e resume
a dor maior da saudade inocente
que se faz mar, céu, se faz gente
e prosseguir sendo o que você é!

DESVÃOS


Guardo comigo aquele momento, pleno!
em que teu corpo enluarado, sereno,
repousou no meu, exangue, entontecido!
Não há visão mais bela que mais eu encene
rever teu rosto, a cor neon, os olhos claros,
brilhando ao êxtase do tanto vivenciado.
Ainda sinto em mim, e como, embevecido,
o infinito desse tanto jamais esquecido...
Assalta-me a saudade em transe ameno
e volto à febre do caminho percorrido
no tanto tido que se deposita entorpecido
nos desvãos do pode ser e do somenos...

PRETENSÃO


Anda!
levantas esse tempo caído no chão,
liberta essa vida presa em tua mão
e em cujos mistérios eu me envolverei.

Parte!
meu mundo te espera lá fora, no espaço
abre tua guarda, para abrir esses braços
em cujos mistérios eu me envolverei.

Pinta!
com cores de vida todos os teus momentos
segura em teus átomos todos os alentos
do amor maravilha que contigo farei.

Fique!
se junto aos teus pés fixou-se tua mente
e em teu infinito germinou a semente
do amor maravilha que contigo farei.

SEM RUMO

E caminhara sob a neblina
vencendo ruas, dobrando esquinas
com as mãos nuas e sem mistérios
fez-se de fonte, formando impérios.

Agora se dera conta que o cedo
cedera ao tarde todos os medos
e ao ir tão longe batendo asas
ganhara o sempre, perdera a casa.

E caminhara incertas luas e fontes
transando ruas em horizontes,
becos fechados, sem arco-iris,
em sonhos furtados aos infelizes

E se consumira na lava quente
do egoísmo de tanta gente.
Assim é a vida, disseram todos
em repeteco, ciclos e coros...

E o amanhã, que não existe,
sempre virá, eis que persiste
a magia do sempre  no momento,
no ontem, no hoje , no pensamento.

Por isso segue, está é a ordem,
busca no fundo de tua desordem
o ponto chave que te alavanca
para a verdade que se destranca
de toda dor que ensina e purifica
e que, da vida, é a parte mais rica.

INSETOS


A formiga carrega a folha
cujo peso excede de cem ao seu
enquanto a pulga se desfolha
em pulos que alcançam o céu.
E o inacreditável se perpetua
no cotidiano dos insetos
enquanto a simplicidade nua
desvenda o certo do incerto.

E o homem, ah, este ser
complexo, em seu universo
desmantela-se em só ter
o nada que é seu anverso
e pelas areia se move
escoando-se, tempo apressado,
presa que é do estar verde
a colheita do passado.

Quem sabe fosse a formiga
ou a pulga, que nada sabem,
fosse mais na história antiga
realmente o homo sapiens
e aí, carregando a fibra
do amor eterno, semente
se elevasse, em maravilha,
sendo simplesmente gente!

Porque se sabe, em verdade,
o que de insetos nem somos
na grandeza e eternidade
do universo que não fomos.