sábado, 30 de abril de 2022

80 ANOS - ETERNO PELÉ

Em 23 de outubro de 1968, em pleno Robertão (Torneio Rio-São Paulo, chamado Roberto Gomes Pedroza que fora ampliado tornando-se o precursor do atual Campeonato Nacional de Futebol), jogaram Grêmio e Santos, à noite, no Estádio Olímpico. Aquele foi meu último dia como empregado da Sociedade Anônima Moinhos Riograndenses – SAMRIG, do grupo Bunge&Born, onde trabalhei no escritório central (Rua da Conceição, 195, 3º andar POA; a empresa ocupava do 3º ao 6º andar), no Setor de Vendas chefiado pelo Sr. Agustin Lopes, argentino de boa cepa e ao deixá-la, por volta das 18:00h daquele dia, dirigi-me ao Estádio Olímpico para assistir Grêmio versus Santos, dos craques Gilmar, Dalmo, Calvet, Formiga e, em especial, daquele ataque de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. O Grêmio também tinha lá seus craques como o goleiro Alberto, o quarteto defensivo Altemir, o grande Ayrton Pavilhão, Áureo e Ortunho, os meio campistas Elton e Milton, à frente Joãozinho, Alcindo e o incansável Vieira. Na época, em vista de ser o Estádio Olímpico, do Grêmio maior do que o Estádio dos Eucaliptos, do Internacional e, este ser, então, o clube de maior torcida no estado, realizaram um acordo que denominaram “Caixa Único” onde todos os jogos daquele Torneio Nacional, exceto eventual Gre-Nal, passaram a ser disputados no Olímpico, sendo franqueado aos associados do Internacional o acesso às sociais do Grêmio e, nessa condição lá estava eu, me desculpando por “ter” de torcer pelo Santos, contra o time gaúcho, por causa e em honra ao meu amigo José Nilto Mutti Guirland cujo “time de botão”, poderoso, era denominado “Santos” e duelava com o meu, também poderoso, o Palmeiras, no maior clássico de “Times de Botões”da Uruguaiana dos nossos tempos de guris. ///// ///// Após o ingresso das equipes em campo e antes do início, Pelé foi homenageado com um imenso bolo postado por sobre a marca do meio-campoonde se inicia o jogo, tendo a torcida presente, entoado entusiasmado canto parabenizando ao ínclito e cerebral aniversariante; dito bolo era do tamanho de Pelé e a vela a ser apagada era de uns 50,00cm incluída a chama que não foi apagada por Pelé, nem poderia, por mais fôlego que o mesmo tivesse, e tinha. De qualquer forma foi uma bela homenagem, todavia não impediu Pelé, especialmente, e todos os demais jogadores santistas, de esbanjarem categoria em performance extraordinária (ou ordinária eis que normalmente faziam aquilo e de tal sorte que parecia a todos ser tão fácil jogar futebol e a azeitada equipe era como se fosse uma sinfonia harmoniosa, todavia fatal). ////////// Sucediam-se jogadas fabulosas, monumentais, tendo o Grêmio e sua equipe, também participado não apenas com valentia, também com performance de alto grau técnico, especialmente considerando-se as atuações de Airton e Alcindo (perigosíssimo e consagrado centroavante), sustentados pelos partícipes e concentrados Joãozinho, Vieira e os meio-campistas Elton e Milton (o Formiguinha). ////////// Para ilustrar o nível, a jogada mais marcante até ali realizada, foi quando, Formiga lança Pelé e Airton, chegando antes dele alcançar a bola, nela, com o pé direito dá uma “cavadinha”, fazendo-a percorrer todo o corpo, tórax, rosto e até os cabelos de Pelé, aplicando-lhe um “lençol”, mas “lençol” mesmo; ao impulso dado sem que a bola fosse ao início alcançada para evitar a consumação da obra de arte de Airton, no movimento acelerado de passagem e paradoxalmente quase inerte a uma resposta imediata, Pelé, que era Pelé ora, com a bola agora percorrendo suas costas utilizou o calcanhar do pé direito para devolver ao surpreendido Airton o “lençol” que recebera e, mais fez na sequência, mantendo a ímpar velocidade imprimida, com o pé esquerdo levantou a bola à cabeça de Coutinho (fenomenal centroavante e parceiro das famosas “tabelinha” Pelé/Coutinho/Coutinho/Pelé...) que a devolveu e a recebeu de volta e a devolveu, e a recebeu, deixando atônita e totalmente perdida a defesa do Grêmio, Altemir, Áureo, até Ortunho que era temido pelas “firmes e duras” entradas para desarmar os adversários; no caso como desarmá-los? Se a bola estava com um e já não estava mais, estava com o outro e não estava com nenhum, percorrendo a distância entre ambos, céu e inferno, onde? com quem? Como?... Esse bailado e show só acabou depois de uma eternidad de tempo para os defensores assim envolvidos, pela intervenção, pelo alto, do grande goleiro Alberto que saiu e “esmurrou” a bola mandando-a para bem longe da área e daqueles diabinhos peraltas que infernizaram a todos desde o meio-campo (onde estivera colocado o bolo gigante) até a pequena área (maravilhando, diga-se indistintamente, aos torcedores que a assistiram). ////////// À jogada descrita, só a veria repetida pelos grandes craques, do Inter, Falcão (Paulo Roberto) e Escurinho (Luiz Carlos Machado), na semifinal do Campeonato Nacional de Futebol de 1976 (quando o Inter conquistou o bi-campeonato), em jogo contra o Atlético Mineiro, em pleno Beira-Rio e, novamente, tendo-me como espectador, ao vivo. Por incrível que pareça, a jogada iniciou pelo tosco e insuperável centroavante “matador” Dario, o Dadá Maravilha (aquele que dizia que só ele, o beija-flor e o helicóptero conseguiam parar no ar... e parecia que era verdade; Dadá foi um grande autor de frases inesquecíveis como “Com Dadá em campo, não tem placar em branco”); Dario, desengonçado com o pé direito passa a bola pelo alto para Falcão (Paulo Roberto) que, de cabeça a passa para Escurinho (Luiz Carlos Machado), que a devolve para Falcão, que a devolve para Escurinho, que a devolve para Falcão já ingressando na pequena área e tendo à frente, saindo à interceptação, o goleiro argentino do Galo Mineiro, Ortiz, enquanto Falcão, com a ponta do pé direito a desvia às redes virando o jogo, que começara com gol do Galo e o empate viera com o gol de Batista (centromédio do Inter) em certeiro chute de fora da área. ////////// Voltemos, porém a Pelé e ao privilégio de quem como eu, embora por poucas vezes ao vivo, acompanhou sua carreira, inigualável, insuperável, fantástica, parecendo que, ao jogar futebol não era um ser humano de tão fenomenal, inacreditável que foi. E, como todo ser humano, apesar ou por isso, também teve suas falhas, todavia, como jogador de futebol, virtuose, encantou a todos a ponto de parar uma guerra como a história conta e comprova ou de, ao ser expulso em jogo na Colômbia (ou teria sido na Venezuela?), ter revertida sua expulsão e quem foi expulso, por exigência da torcida ao fim e ao cabo, foi o árbitro, que exigiu a volta de Pelé para o jogo continuar! E isso não é conversa fiada ou fábula, não, é narrativa verdadeira de fatos que ocorreram. ////////// Finalize-se enaltecendo Pelé não apenas por ter sido um fenômeno com talento inimaginável que o revestia, também por ser um atleta na acepção mais perfeita do termo (coisa que poucos eram, então), por sua elevada postura pessoal, como ser humano, representando o Brasil e seu povo, de forma plena, digna em todos os cantos do mundo, levando a todos uma mensagem positiva do maior de todos os brasileiros, grande e único "estadista" que até hoje tivemos, que usou simples chuteiras e uniformes esportivos mantendo altivez, dignidade, suando até sangue para merecer as loas, reverência, respeito e admiração com que lhe ornamentam. ////////// Salve Pelé, quem dera um dia o Brasil, como Nação, venha ter o privilégio de ser dirigido por Pessoas portadores de tua grandeza, honra e idoneidade (o que até hoje infelizmente. creio, não tivemos). ////////// Logo adiante me ocuparei, com tanto prazer quanto agora, de outro fabuloso jogador de futebol, o nosso Mané Garrincha, a Alegria do Povo... também com histórias extracampos com a participação da grande cantora/sambista Elza Soares e casos como o da compra e venda, paga em dólares, feita ainda na Suécia, durante a Copa do Mundo de 1958, por Garrincha, de um rádio “último tipo” que, para seu desespero, acreditou, “... só falava sueco...”; por isso, Garrincha entendeu que fez ótimo negócio revendendo o aparelho sonoro ao seu “compadre” Nilton Santos (lateral-esquerdo, craque e virtuose de tal grandeza que merecidamente, era chamado de “Enciclopédia do Futebol”) por preço não superior a 10% do valor da aquisição e que deveria ser pago, em Cruzeiros (moeda brasileira da época), somente quando da volta da Seleção Campeã do Mundo, ao Brasil...

segunda-feira, 25 de abril de 2022

PARA MUITO ALÉM DE MIM

Enfim e como desculpa, última desculpa, // Tento me vender como vítima, sem culpa // Da iniquidade de me pensar estar vivo. // // Enquanto morro pouco a pouco, sigo // Buscando alento e força no mistério // De me saber um todo frágil, forte, sério // Na captura de fatos, gozos e sentidos. // // // Seguindo assim ora solto, ora cativo, // Na “manha” de vicejar palavras, sorrisos // Em viagens de “eus” em mim escondidos. // De olhos abertos, sonhos que proponho, // Encontro fantasias e vivencio realizações. // // // // Do pretenso tudo que sou e quero e espero // Misturando-se aos teus mistérios e razões, // Formando esta simbiose deste todo nosso, // Alvíssaras de encantos que tenho e posso // Distribuir apenas para ti e consagrar em ti // Para além do céu, para muito além de mim. //

terça-feira, 22 de março de 2022

MEUS "NUNCA MAIS"

Quanto mais velho fico, mais "nunca mais" tenho, / restam poucos amigos de infância, de aulas tais, / colégios, faculdade, trabalho, para além do cenho / e o que sei desse restante é o mesmo "nunca mais" / do durante, do depois e, certamente, do desenho / da própria vida em seus rabiscos desiguais. //// Enquanto esconderijos e curvas derrapantes / teimam em brincar com meu próprio ceticismo, / cinzentas nuvens teimam em brincar de céu / que muito mais agora, muito mais que antes, / desabam-se em gelo e neve no meu realismo, / destruindo os últimos sonhos deixados ao léu. //// E no baile da idade provecta, quase final verso, / canções antigas tentam ressuscitar perdidos / idos que egoísmo e erros deixaram na estrada / mas outros "nunca mais" e bem mais perversos, / açoitam às lembranças do que poderia ter sido / como chicotes de "nunca mais" dizendo-me: És Nada!

sábado, 5 de março de 2022

UMA BRINCADEIRA DE ANJOS

No céu, anjos meninos e anjos meninas, // sem medo ou culpa, em pueril traquina // usando as asas nos pés, calçaram patins // e foram dançar-patinar em nuvens de gelo. // Realizando serelepes, moleques enfim, // arco-íris e manobras de arrepiar cabelos. // Divertiram-se tanto, sendo só sorrisos... // // Enquanto isso, na terra caía granizo.

TRANSMUTAÇÃO

Olhei o sol através de uma gota d'água // e ele se vestiu de sonhos, pétalas de flor, // tornou-se mais belo pela gota d'água // que, incrível, tão pequenina, incolor, // mesmo assim o transmutou aos meus olhos.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

PROPOSTA

Por favor, deixe-me ser como sou ou penso / Não retire de mim a chama de fé ou senso, / Nem ridicularize o piegas que me abastece; / Antes, beba o néctar que, acredito, ofereço / Embriague-se disso e mais que desconheço / Nesse andar pleno no sobressalto que acontece. / E, bem assim, de olhos bem abertos, suponho, / No encontro dessa realidade com os sonhos / Seremos o bem que chega e não se despede / Firmes no curso desse todo que em nós reparte / O insuspeitável requinte de uma obra de arte, / Deixando indeléveis marcas do nosso adrede. /

PAIXÕES PRECOCES

O que dizer que apaixonara o moleque, / nem dez anos, num bem-mal-me-quer / pela meiguice, graça, leveza serelepe / além da clara beleza, daquela mulher / fascinante chamada Ingrid Bergmann / olhos, boca, pernas, seios, hálito romã, / fisicamente desenhados à perfeição? / Em especial, é claro quando ela revê Rick / na sua birosca, pede a Sam tocar a canção / “Us time Goes by” e bebendo um drink, / olhando o vazio da vida deles, da espera, / Casablanca, Paris, tanto faz, tudo é guerra. // O que dizer, do mesmo moleque, volúvel, / como um beija-flor entre uma e outra flor, / nelas buscando encontrar néctar insolúvel / delas, sem saber se era paixão, se era amor, / ao quedar-se em supremo êxtase, encantado, / diante d'olhos violeta levemente esverdeados / únicos, celestial brilho de um não sei quê / de paraíso, cheio de talvez, cheio de porquês, / nos filmes, “Assim caminha a Humanidade”, / mais ainda, “Cleópatra”, além da história, / presente a mulher rainha, honra e glória, / Elizabeth Taylor, Flor de Liz à eternidade. // Em “Imaginação” idealizou mulher serena, / luz diáfana de sol e lua misturados, plena / na imensurável graça e, disso hipnotizado, / mal sabendo que existia e, adiante, saberia / ao encontrá-la linda, naquela fotografia / de um filme, em algum lugar do passado! / Jane Seymour, toda ternura, sublime, pura, / em seu olhar, rosto, mãos, sua formosura, / é bem maior que toda a imaginação do poeta / quando buscou paisagens nos jardins do céu / soune desde seu irreversível, ilimitado léu que nem em sonhos a descreveria completa! // Não muito adiante, em tempo adolescente, / sua farta estampa destilava encantos, tudo, / Sophia Loren, invadia sonhos de tanta gente / no esplendor de olhos, seios, lábios carnudos. / Bem mais amena, porém, não menos bela, / outra italiana arrebatava tantos Quasímodos / destilando a inebriante sensualidade dela, / Gina Lollobrigida, volúpia pelo corpo todo. / Paixões por Marilin Monroe, a deusa loira, / Rita Hayworth, imortalizada para além de Gilda, / Catherine Deneuve, a bela da tarde, tão linda, / Brigitte Bardot, tanto quanto ou mais ainda... // Todas paixões precoces que duram vida a fora, / continuam vivas, sem jamais se irem embora / e, delas a que, fosse possível, é a mais perene / se fez Branca, paixão de Zequinha de Abreu, / em Tônia Carrero, constelação de sonhos ateus, / atiçando o proibido, desequilibrando gêneses. / Amenizando lascívia, turbilhão, desassossego / não era só beleza física a encantar o moleque, / o invulgar talento de Fernanda Montenegro / a fazia maior, encantadora gema rara, confete / bastando-lhe apenas um olhar, pequeno gesto / e tudo o mais, certo ou não, se tornava certo!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

MAIS QUE UMA PRECE

Senhor Deus valei-me / Em sonhos, risos e quimeras, / Ao lançar linhas de espera / No turvo rio do momento. / São meus os mananciais / De curvas dos pensamentos / Que a cada riso ou lamento / Explodem nos vícios meus, / No viço que se perdeu, / No chão das iniquidades, / Nas perdas e ganhos da idade / Pondo de joelhos o filho Teu / Que manquitola agonias / Na rudeza do concreto / Embriagado de elegias / Pela posse do secreto / ...E se morro no abstrato / Repintando noite em dia / Desnudo todo contrato / Que me faz ver fantasia, / Binário surreal de falácias / Que bailam dentro de mim, / Tanino extraídos de hemácias / Do princípio, meio e fim. / E, quando posta, reverto / A ponta da espada no peito, / Como causa, me converto / Em simples e mero efeito. / Rios de amores, ódios, nada, / Das entranhas da jornada, / Na rosa dos ventos um norte / Desagua a vida em minha morte... /

POTRO AMARELO

Bem que queria encontrar, montar o Potro Amarelo de quando guri / Que ao galope de sonhos me levava aos potes de ouro do arco-iris / Mas me fugiu ao longo dos anos, dedos e medos que, enfim, perdi! / Lenda, verdade, mito, mentira, alegre ou triste, o feio e o belo, / Mistura fina, Potro Amarelo, sonho encantado do meu tesouro / A prata, o ouro, metais, matizes, mesmo ilusões, jamais esqueci. // Onde te escondes Potro Amarelo, onde te escondes? Pelas entranhas / Das sesmarias da pampa eterna, coxilhas, vales, grutas ou furnas / Em estrebarias, nestas fuligens de sonhos antigos, desencarnados / Mortos de esperas, atropelados pelo trem sem freio da realidade / No tropel das horas, no tropel das dores que não se quis / Na pilcha concreta da ansiedade, buçal e rédeas do infeliz... // Onde te escondes Potro Amarelo, onde te escondes? Dentro de mim? / Na fantasia dos meus desejos, Potro Amarelo, te vejo força motriz, / Mola encantada que falta me faz nas galopadas que nunca fiz... / Procuro os potes do arco íris e colho espinhos e cicatrizes / Percorro estradas de chão batido, lua sem brilho, infeliz / No sol emprestado de um cotidiano amordaçado, perto do fim... // Preso de enganos, longe do início, longe do meio, longe do ido / Potro Amarelo, onde te escondes, Potro Amarelo? não há futuro / Neste guri, talvez continues e não te procuro, dentro de mim. / Pudera agora, na peça vida o último ato, interpretado, resumido / Naquele alento antes vivido, naquele enfim de lá dos confins / Onde a brisa, Potro Amarelo, expulsava névoas e medos de escuro! /

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

SEM BORBOLETAS

Soprou cinzas tentando reavivar antigas, apagadas brasas / No recomeço, ranzinza, de quem perdeu a raiz, sua casa; / Ah! o progresso, o fracasso, o cair do cavalo, a estrada, / Os tiros de laço à toa jogados, por entre bretes, canhadas. / / Maneado no orgulho besta, não comeu e arrotou flor, / Levitando pedregulhos, fantasias, charla de vencedor, / Retornou, mãos vazias sem o mínimo do que buscou./ Doído de nostalgias, sem sonhos que o vento levou. / / Ao trote de marandovás perdeu-se em meio às taperas, / Em meio às bocas de lobos encilhou bocas de espera, / Nem quis ser qualquer santo, muito menos pecador / E menos ainda, por encanto, deste mundo o salvador. / / Quis apenas ter pra si, pros seus, quem mais viesse / O que chamou melhor futuro, tudo o quanto pudesse. / Deu errado, no escuro que a ausência do sol deixou, / Sobreviveram sombras e nenhuma réstia de luz ficou. /

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

DOS CADERNOS TEMÁTICOS .......... POETA ITAGIBA JOSÉ - (PARTE II) .......... POEMAS DUROS -OU QUASE- (I) ....................................................................................................................... ............................................................................................................................................. (1) EU E A GUERRA A batalha seguia enquanto homens matavam homens, ....................... Homens irmãos! .............................. A morte sorria enquanto a guerra cantava, .............................. Cantava o canhão! .................... Ali eu estava com aquela arma cuspindo morte, .................... Morte na mão! .................... No fragor da procela, o instinto me guiava: .................... Auto-conservação! ........................ Olhos crispados, cabelos revoltos, desvarios, .................... Lutando feito um cão! ..................................................................................... Estava eu tremendo com a carta na mão, .................... Na mão inocente, ...................... Fora convocado, diante disso, me perguntaram: ................... “É medo o que sentes?” ........................... Então, papai disse: “A morte não escolhe o lugar, ............... Nem o cliente, ..................... sentir medo dela, do mundo, dos homens, da guerra ............... É ser nada, somente ...” ................ Meu pai, respondi, só a guerra me assusta ................ Pois transforma a gente ....................... E faz com o que forte e o fraco, o bom e o mau, ............ Matem legalmente ................ E se agora tremo não é pelo medo de dores, da morte .............. Que terei de enfrentar .................... Porém papai, seu filho inocente, puro e amigo ............. Terá que pecar! ........................ E mesmo que volte coberto de louros, um herói, ............ Herói por lutar, ...................... E mesmo que a história enalteça suas glórias .............. Terá que acusar: ............... Este homem foi um grande guerreiro, um grande, ............ Viveu a guerrear, .................... Perde-se no tempo as batalhas e quantos (irmãos) .......... Conseguiu matar. ............................ ........................................................................................... E aqui estou eu, de arma em punho, matando... ............. Matar ou morrer! .............. O inimigo tem alma, rosto, família e também ............... Deseja viver; ................... Sua causa é contrária, mas a luta é igual, ................ Igual é o dever! ..................... Que fenômeno é esse que vidas consome e ao diálogo ........ Põem a correr? .................... Cadê o raciocínio que ao instinto supera??? ... ........... Não consigo entender ... ................. Pois vença quem vença, em se tratando de guerra ........... Todos irão perder!!! .................................................................................................. ............................................ (2) STRESS ......................................................... Correu célere em busca do amanhã ................................... Na doida certeza que o alcançaria. ................................. Sem tempo a perder e tudo a fazer ................. Preocupou-se e ganhou uma úlcera .................. Fechou-se em si mesmo dobrando o ritmo ................ Cultivando a volúpia do poder. ........................ Duro foi despertar sem identidade ......... Naquele hospital que desconhecia. ......... Um corpo cansado, uma mente abalada, ...... Um nada ao quadrado. ...................... Enquanto corria rumo ao amanhã ................ Não se deixava viver o presente ........................... Nem ser ou fazer alguém feliz! ................ Recuperado, não buscou o amanhã antecipado ........ E viveu em cada segundo sua eternidade ............ Compreendendo que a vida ou a felicidade .............. É o instante que fica, embora passado, ................ É o instante que passa, embora presente, .............. É o instante que vem pelo inesperado! ............................................................................. ........................... (3) PÓS – GUERRA .................................... Desejo reinventar o amor .......... Embora acredite tê-lo morto ....... E faz tão pouco tempo! ........... Desejo o riso que esqueci ........ Nos tortuosos caminhos de tantas bocas. ........ Desejo a paz que joguei fora ........... No mito de minha crença, sem fé. ........ Desejo soprar as cinzas que me sujam ........ E catar ilusões e sonhos que quis .......... E não consegui, apesar de tudo, expulsar. ....... Estou calmo, passou a tempestade; .......... A gargalhada da metralhadora .......... Ou o troar do canhão assassino ........ Não são mais a minha extensão, ........ Até meu ódio adormeceu, banido ........ Pelo desejo de dialogar com você, ...... Com o mundo, comigo mesmo. ............ Amadureci, creio, amadureci! .......... Sei, será difícil despir-me do egoísmo ...... Enriquecido durante todo este tempo ........ Em que fiz da antítese minha tese ............ E compliquei a síntese de minha dialética. ...... Será difícil descer do pedestal .......... Em que me coloquei quando fui a justiça ........ E minha verdade era a única, verdadeira! ....... Será difícil esquecer a ânsia doida ............ De deter a posse da razão pagã... ............. Foi o que nos separou e quase nos destruiu! .... Foi essa soberba que me fez inimigo ............ De um ser humano e o próximo .............. Meu inimigo ... Quão louco eu estava ... ....... ....................................................................................................................... .................... (4) VELHICE (LENTAMENTE) Lentamente, as lembranças ........ Amarelam pelo chão ........ Como folhas de outono... ......... Lá se vão sonhos crianças, ....... Entre alma e coração ............. Passageiros no que fomos... ...... Lentamente, toda saudade ......... Toma conta do viver .............. Como seiva que se esgota... ...... Enquanto toda ansiedade .......... Nocauteia o bem querer ........... De se ir ao antes sem volta ... ........ Lentamente a vela acesa, ............... Em estertores, a iluminar .............. Projeta sombras do passado ............. Nelas, todas as incertezas ............. Do adiante, a nos matar ................ No nada sei revisitado ... ------------- ........................................----------------------............................................................................... (5) CANTOS DE SEREIAS ................. Muitos ou todos diziam, certos, ----------- que eras além do demais para mim ---------- e diante de tua beleza, por certo, -------- por mais bonito que eu fosse e nem assim -------- que nunca fui, nem perto, enfim,----------- também eu sabia que eras demais para mim. ------- Porém, parece, somente nós sabíamos, decerto ---- O que um e outro era ou seria, sempre, para si. ------ No entanto, para nosso desencanto, o canto ------- dessas urbanas sereias presas nas areias --------- da ampulheta chamada destino, fez-se ouvido ------ resultando na dispersão de sonhos intumescidos ------- desenvolvidos n'outros caminhos e acenos ------------- enquanto se dissolvia nossa trigonometria ------------ não apenas em repetidos senos e co-senos, ------------ para fora e além do infinito de nossa simetria. ------ E fomos de gole em gole do azedo embriagados, -------- Sem mais o doce do vivido e jamais esquecido --------- Que teimosamente permaneceu ali, ao nosso lado ------- Como dolorido espinho espetando os desatinos. -------- E foste embora, sem jamais ter ido em mim ------------ Que conservo teu aroma no amor inenarrável, ---------- Em meio ao imensurável da saudade e suas teias ------- Para muito além dos falsos cantos de sereias. ------------------ ---(6) PREDESTINAÇÃO --------------------------------- Nem bem começara a tarde, nem a tradicional sesta, ------------- o temporal anunciado em nuvens escuras no céu plúmbeo ---------- desabou por sobre infelizes vítimas, prenhe de aleivosias; ----- daí em diante nada se sabe do que ou quando, tudo é festa, ----- do que ou quando se estancará toda água desse plenilúnio ------- forjado em grossas gotas ou flechas grávidas de ventanias. ----- Arrisque-se a sair de casa expondo-se como um fio terra -------- pensando não ser imã suficiente para atrair poderosos raios ---- que, quase certo terá à frente, um caindo em sua cabeça -------- e o seu nada atestará que raios não poupam quem se ferra ------- pensando ser maior por ter coragem de enfrentar desafios ------- pouco importando a importância do resultado que ofereça. ------- A vida é simples como um início de tarde, uma simples sesta ---- a aproveite e sugue o sumo próprio de quem sabe vivê-la -------- mesmo sem ter, mais do que tudo seja, amando, sendo amado ------ e o seu ser atestará que em si se basta, sendo orgia e festa ---- em inesgotável plenilúnio de luzes e sonhos, sem represas ------ para o qual todos, sem ressalvas enfim, foram predestinados. ---- ---(7) GARATUJAS -------- Manhã de calor, sol intenso, céu límpido --------- Pintado de garatujas brancas, muito brilho, ------ Que trazem à memória aquelas, do olimpo -------- Da infância de crianças, dos meus filhos ------- Pintando paredes da casa e fugindo ------------- Para o abrigo do pai, com a mãe rugindo. ------- Agora, nesta quadra da existência às repenso, ------ Minha memória, nem tão manhã ou sol intenso, ------- Nem tão céu, pintada de garatujas acumuladas ------- Nem tão brancas, já sem brilho, repousadas --------- Na parede do passado onde busco meu refúgio -------- Na contramão do ontem, no abrigo dos meus filhos. ---------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ (8) ALZHEIMER ----------- Registram os vazios de tua memória --------- Ausências e estopins, cansadas liças ------- Vez em quando vem luz à tua história ------- Ressurgida de tuas areias movediças. ------- Teu cérebro, então, como menino leve ------- Traz a vida antiga para este agora cego ---- E te refaz, na paz desse espasmo breve, ---- Em sons e imagens que eu não enxergo. ------ Consulto o médico, a minha e a tua vida ---- Não têm respostas, mesmo no improviso ------ Do teu silêncio a doença enlouquecida ------ Gera mais escuridão ao nada, sem aviso. ---- Já não és sombra da pessoa que existia ----- No fundo de tua alma, um desconhecido ------ Embaralha e dita as cartas do teu dia a dia ------ Apagando rastros do que já tenhas sido. ---------- A doença que sentes, sei e sequer conheces ------- Com a mesma intensidade me sangra, abate, --------- Matando não apenas a ti, o amor que destes, ------ Também a mim, tão impotente para curar-te... -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- (9) NÁUFRAGO -------------------------- Venho e me coloco vestido de argumentos ----------- Tu, despida, faz-me espanto no contraponto -------- Dos acalantos que de há muito se afastaram -------- Até dos pensamentos; se de nada sei, desconto, ---- No pranto que te banha, as pequenas gotículas ----- Que se multiplicam em cachoeira de lágrimas ------- Distribuindo forças ao gaguejar das vírgulas. ----- Diante disso a lógica se desfaz em reticências ---- Nas essências de corpóreas e imateriais curvas ---- E o sol brilha diante do insuspeitável etéreo ----- Trazendo mais que luz aos meus olhos e raios ------ Rasgando o entardecer dos meus mistérios ---------- Como se fosse refúgio ao meu final naufrágio. ------------------------------------------------------------------------- --------------- (10) PASSAGEIROS ------------------ Tudo passa, repassa, exceto o tempo, -------------- Ela passou e a dor de sua ausência ---------------- Também passará, como contratempos! ---------------- Os mil momentos dos sonhos, à essência ------------ Dela e meus, balançam, indo e voltando ------------ Em meu eu, enquanto sigo passando... -------------- Passa, passará, passou, não temos escolhas -------- No repassar de águas, sóis ou sombras! -------------------------------------------------------------------------------- ------ (11)GIRANDO ----------- Vez que outra, calmaria, ----- adiante noites e dias -------- seguindo rumos e teias ------- onde anjos e demônios -------- dominam cenas e areias ------- às orgias desenfreadas ------- da explosão dos hormônios, --- logo ali a encruzilhada. ----- E tudo que passa agora ------- e tudo já foi embora --------- como ogivas nucleares -------- entre minha sorte ou azares ------ corroídas em meu nada -------- que já foi ou é morada ------- de antigas falhas, pesares, ------ desses seguidos andares, ----- até que a morte os pare, ----- na vida que assim estanca ---- por entre acasos, barrancas, ----- em fim de caso, não raro ----- à noite do meu desamparo. ---- (12)DOWN ------------------------------ Ah! Sou um todo poderoso de araque ---- Herói de gibi, de almanaque, ---------- Que se perde em suas próprias entranhas ----- Sem se dar conta que recontadas façanhas ---- São mentiras que sua ilusão, sua vaidade ---- Inventaram às vestindo de verdade. ---------- Ah! Sou um nada à esquerda do nada ---------- Inflado de frivolidade, conversa fiada ------ Batizadas no vácuo da inexistência ---------- Vazia forma de vestir a consciência --------- No traje roto, no traje desbotado, ---------- Do inseto amorfo no inseto despojado! --------------------------------------------------------------------------------- ----------------------- (13) OCASO -------------------- Onde anda teu sorriso ----------------------- Que transcendia minha ilusão? --------------- Onde anda o olhar --------------------------- Que incendiava meus átomos? ----------------- A eletricidade que fustigava meu ciúme, ----- Onde anda? Onde está? ----------------------- Teu sorriso está morto como o orvalho ------- Em presença do sol. ------------------------- De tristezas e amarguras teus olhos --------- Sem brilho, me falam e falam ... ------------ Tua eletricidade deixou de existir, --------- Não mais aciona a alavanca --------- De tantos desejos, mistérios e medos -------- Que, um dia, em mim habitaram! -------------- O que foi que te fez perder, ---------------- Na voragem da vida, a fé, ------------------- A esperança, que hoje alquebradas ----------- De tanto testadas, não vejo em ti? ---------- Que martírios impusestes ---------- A teu corpo e espírito, ----------- Cujos horrores passados ----------- Retornam alternados --------------- E os fazem fremir? ... ------------ Já não crês em nada, -------------- Que pena, morreste tão cedo ------- E nem o amor guardado no medo ----- Fará reviver centelhas de céu ... ------- É tarde! O sol já baixou no horizonte --- E a noite sem lua -------------- Que foi não só a tua ----------- Mas, também minha vida, -------- Aí está, a nos envolver! ---------------------------------------------------------------------------------------------- ------(14) PODER NEGRO -------------- Desloco um bloco inteiro de dor -------- Levanto e canto cantigas de amor ------- Não calo e falo de beijo, de flor, ----- Da vida querida sou o cantor. ---------- Escuto e luto por algo melhor, --------- O peito, o respeito, marca maior ------- Saudade, maldade, conheço de cor, ------ Alegria é dia que antecede o pior. ----- Na régua sem trégua vai o andor, ------- Segue no milagre de andar sem temor ---- Rezando e amando sem ver um menor. ----- Agita a infinita bandeira sem cor ------ De raça, humanos todos têm valor. ------ Fortes na morte, da vida amo e senhor. ---------------------------------------------------------------------- (15)DIAS DE DERROTA ------------------------------ Abateu-se sobre mim a tempestade ----------------- E me prostrou. Sinto-me um quase nada. ----------- Enquanto meu coração bate automaticamente -------- Minha alma morreu, meu corpo fenece. ------------- Sou lavrador que perdeu sua colheita ------------- E no desespero nem a prece é lenitivo ------------ Nem o sono ou o sonho é refúgio. ----------------- Subi a montanha para olhar o mundo --------------- E caí, agora é ele quem olha para mim. ----------- A dúvida é cruel quando não se acredita ---------- Nem mesmo na esperança. -------------------- São dias de derrota, dias de tristezas, ---- O cinza habita minhas entranhas, ----------- Estranha a vida, praticamente de incertezas ------ Que me fazem morrer a cada instante. ------- Sinto-me só, terrivelmente só, ------------- Com meu fracasso. ------------- A vida se renova, sei bem disso ------------ E quando retornar a antiga claridade ------- E sonhos bons se vestirem de realidade, ---- Serei novamente eu, serei sorriso, --------- Minha face regozijar-se-á em Deus ---------- E minha alma ressuscitará de céu! ------------------------------------------------------------------------------------- ---------(16)LOUCURA ---------------- Parei, olhei essa distância -------------- Que o separava de mim. As grades --------- Da cela o mantinham afastado ------------- Do tempo, alienado, sujo, irreverente. --- Sem compreender a realidade, --------- Nem seu destino, não opinava --------- E introspectivo, parecia triste. ----- Olhou-me, devastando minha sanidade ------ E em um lampejo de sarcasmo e lucidez sã ---- Cuspiu-me sua desgraça: --------- “Joga-me quatro bananas, -------- Joga-me quatro bananas” repetiu a ordem -------- Diante de minha surpresa e constrangimento. ---- Por um momento o meu silêncio e sua ira se defrontaram. ---------- À explosão de escárnio sobreveio a frase que o mantinha vivo: ---- “Vou matar todos vocês, vou matar, um dia!” ------------ Por que tanta agressividade? perguntei-lhe ------------ “Agressividade, agressividade? ----------------- É que tu não sabes o que é ser louco!” --------- Escondi-me na pretensa sanidade que detenho ---- Com medo de meu egoísmo ressaltar meu ego, ----- Porque, quem sabe, louco tenha sido desde sempre. --------------------------------------------------------------------- ------ (17)DESEPERO --------------------- Sim, sim eu estou morto ------------------- E quando nascer, libertando --------------- Minh’alma do corpo deformado, ------------- Que nem é corpo, é túmulo, ---------------- Estarei Livre! ------------ Livre para poder andar --------- Junto ao crepúsculo, ----------- Embriagar-me com as cores ------ Da alvorada, subir montanhas, ---- Nadar em rios, gargalhar, -------- Galopar ao vento, ---------------- Livre para ser um visionário... ------ Sim, sim as chagas que me cobrem ----- Dilaceram meu peito, ----------- Mas o arrogante espírito ---------- Não sucumbe a podridão da vida. ------ Vida? Que vida? ------------------- Se ficar preso a esta cadeira ----- E estender a mão para recolher míseros trocados ------ Enquanto a face ruboriza ----------------- Pelo sentimento de se sentir um inútil; --- Se apesar da constante ----- Companhia da multidão ------ Na esquina movimentada, ---- Estar-se sempre só e vazio; ---- Se se depender, depender, depender ----- E sempre depender, de tudo ------ E de todos, não importando ------- A mágoa de não ser um todo ------- E sim, um resto, ----------------- Se isso é viver, não quero viver, ------------ Não quero viver!!! ---------------------------------------------------------------------------------------------------- ---- (18)IDENTIDADE ----------------- Mantenho diante do que vejo e sinto ---------------- Esta postura antropofágica como defesa ------------ E se não tenho o porte de herói ou guerreiro ------- É porque me contento em ser covarde ---------------- Ou, pelo menos ser normal como todos os outros. ------ Procuro manter coerência em meus momentos ---------- Para que no gênese de meus pensamentos --------- Possa reter a ordem que o cotidiano retira ---------- E assim construir dois mundos, -------------- O que pode parecer quase inadmissível; ------ Enquanto do lado de fora da muralha --------- Porto-me como gladiador embrutecido --------- Lá dentro deixo os pássaros cantarem -------- E jorrar a cascata da imaginação ------------ Não tenho a pretensão de mostrar-me, -------- Abrir-me, ser retalhado não é exatamente ---- O que desejo; nem tenho coragem para tanto ---- E reconheço que se aparência e verdade ------ Puderem ser mantidas sem atropelos, --------- Passarei pela realidade imposta pelo meio ----- Sem prejudicá-la ou combatê-la, ------------- Afinal a inércia e a aceitação passiva ------ Fazem parte do arsenal da humanidade -------- E, só e fraco, não tenho forças para vergá-las. ------ Todos transferiram a agressividade para todos -------- E guardaram dentro de si e para si o melhor que têm. ---- Não sou exceção, pudera!

domingo, 2 de janeiro de 2022

MENSAGEM BOAS FESTAS À VIDA

EXCERTOS DE ENSAIO SOBRE O VIVER (publicado no facebook em 5 Capitulos - entre 17 e 21/12/2021) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - "MENSAGEM DE BOAS FESTAS À VIDA - FELIZ 2022 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - O ser humano nasce para ser feliz. A felicidade está nele que muitas vezes se equivoca e a busca fora de si, como bem discorreu a respeito o grande poeta Vicente de Carvalho, no “VELHO TEMA (“ Só a leve esperança, em toda a vida,/ Disfarça a pena de viver, mais nada,/ Nem é mais a existência, resumida,/ Que uma grande esperança malograda // O eterno sonho da alma desterrada,/Sonho que a traz ansiosa e embevecida,/ É uma hora feliz, sempre adiada/ E que não chega nunca em toda a vida.// Essa felicidade que supomos,/ Árvore milagrosa que sonhamos/ toda arreada de dourados pomos,// Existe sim mas nós não a alcançamos/ Porque está sempre apenas onde a pomos// E nunca a pomos onde nós estamos.”). ------------ -------- Cada pessoa é um universo e todos, paradoxalmente, são iguais em suas desigualdades. Em algum ponto, “A” é melhor ou pior que “B” que, por sua vez, em outro será melhor ou pior que “A” e assim, sucessivamente, ocorre com todos, prenhes de defeitos e virtudes, sempre. Uma pessoa feliz, no mínimo, é um problema a menos neste mundo conturbado, ela não espera que outros façam por ela, ao contrário, busca fazer pelos outros. Uma pessoa feliz aprende que o mesmo esforço, negativo, que traz a inveja em seu bojo, pode e deve ser transformado, positivamente, em admiração e aplauso. Uma pessoa feliz, em si se basta plena de amor e fraternidade e logo descobre que tais sentimentos somente se realizam e se multiplicam infinitamente, em todo seu esplendor e eficácia, quando ofertados aos outros. Guardados, mínguam, fenecem; ofertados sem limites, vicejam e se reproduzem em quantidade e velocidade ilimitadas... --------------- ---------- Todavia, não esqueçamos nunca que para ser feliz é imprescindível estar vivo e em paz consigo mesmo. Viver o agora é solução mais do que adequada às agruras e desconfortos que criamos. Há muita luz e sabedoria no aforismo latino, “carpen diem” (aproveitem o dia), necessário que saibamos a profundidade e essência dessa diretriz. O poema “AGORA” (do autor: “O dia foi destinado para ser vivido. Ativo!/ A noite para o descanso. Brando./ Do destino virá a morte, sem aviso/ De quando e onde se fará o encanto./ E o descanso, dizem eterno será (?). Dia ou noite não importa o fim ocorrerá!/ Vive todos os momentos, noites, dias,/ Intensamente, sem queixume, satisfeito,/ Sem amarguras, ciúmes ou agonias,/ Neste mistério, vida, graça e fulgor/ Que o AGORA te oferece e insiste/ Desabrochado do amor de que és feito,/ Eis que o amanhã é mera fantasia/ Poderá vir, mas ainda não existe!”) salienta o quanto de luz e sabedoria está contido na vivência plena do “agora”; simples e objetivo, deixa claro que o amanhã não existe neste hoje em que celeremente passamos (diz-se “passamos” porquanto o tempo é imutável, inumerável, não passa, nós é que nele passamos), por isso, também nos equivocamos quando dizemos “não temos tempo...” pois não se pode ter menos ou mais daquilo que não temos, porque é o tempo que nos tem, marca e faz crescer como seres de luz ou em lastimável escuridão, a opção é nossa, consagra, desdobra e enlaça o tudo no nada e vice-versa, indo à frente, sem retorno, a caminho do sempre...). ---------- ----------- Acaso existentes problemas, seja como a água que contorna os obstáculos; mas, se não for possível e tiver de enfrentá-los, o faça com lisura e honradez e, ainda que se saiba uma pessoa derrotada de antemão por eles, ao fim e ao cabo terás vencido porquanto terás descoberto em ti forças que sequer sabias portar, necessárias a tua própria sobrevivência digna. Convença-te que de todas as atitudes, a pior é a fuga, ela te humilha e enfraquece, fazendo-te esquecer que nada, exceto um Tudo chamado Deus, é maior do que tu e que nada pode te derrubar para sempre, desde que te saiba, aja e te pense justo. A mente é uma fonte de fé e força, intransponível quando assentada na verdade e (quase) tudo pode. Também importante é sonhar em vigília pois que o sonho é, sem sombra de dúvidas, a antessala das realizações e o refúgio de todos os infortúnios (Do livro “Metamorfose”, do Autor). E se estiveres no fundo do poço, como muitas vezes nos traímos somente em assim pensar, saiba que a saída está acima de tua cabeça e por mais fraco que estejas ou te sintas, tuas mãos, pés, corpo e coragem são instrumentos que se encontram em ti, ao teu alcance, basta quererdes acioná-los. Não cometas o erro de esperar a ajuda de outros se tu mesmo antes não te ajudares, eles, os outros, virão trazendo sua ajuda e conforto quando virem que não te entregaste e bem assim mereces tanto. ---------- ---------- Não se deixe molestar por pequenas armadilhas que o cotidiano oferece. Pense grande, não faça de si um detalhe, seja a essência; não tropece ou se deixe contaminar por vírgulas, vá ao texto integral bebendo na fonte perene da fraternidade, compreensão e clareza, o que realmente importa. Todos os dias, estamos aprendendo! Por isso, não te julgues sábio e nem de perto te deixes vestir pelo horripilante manto da soberba. Em qualquer circunstância sejas tu mesmo, autêntico, sem subterfúgios e teu “eu” estará no teu retrato e tua estrada repousará em tua mão (trecho do poema Monólogo, do Autor). Não culpes o destino pelo fruto colhido; antes, olhes o que plantaste, que semente regaste, lembrando que tu és terra e o teu suor é o sal e o sumo de tuas realizações. ---------- ---------- Quando errares involuntária e culposamente, e errarás muitas vezes pelo simples fato de que és humano, seja uma pessoa misericordiosa consigo mesma, já bastam às pedras que outros jogarão, quem sabe até com um ranço de ódio e inveja, para remirem teus erros. Porém, se errares voluntária e dolosamente, seja uma pessoa dura consigo e não esperes de terceiros um perdão que nem tu mesmo poderás conceder-te sem que tenhas sorvido, até a última gota, o intragável líquido trazido pelo cálice do remorso... ---------- ---------- E quando te sentires atingido pela maledicência alheia, injustiçado e, adiante, tenhas a oportunidade de revidar, no mesmo ou em maior tom, não esqueças que és muito maior que a vingança, que ela tem o amargo gosto do fel, nada tem de bom e por isso não pode gerar qualquer tipo de felicidade. Mesmo a pequena vingança é inútil, descolorida, sem nexo ou efeito, como aquela praticada pelo menino (objeto do continho “Pequena Vingança”, do Autor, publicado no Blog) que até os dez anos jamais tivera sapatos e, um belo dia, ao receber de presente um par, calçou-o e, como primeiro ato, correu ao campo pisoteando, esmagando rosetas, mesmo sabendo não mais serem as mesmas que um dia feriram seus pés. Sua alma ficou menor, pois não percebeu a essência e significado para si daquele par de sapatos e deixou de vivenciar toda a magnitude, proteção e tudo mais que o calçado lhe trouxera e oportunizara. Não viveu a plenitude desse momento feliz, ao contrário, preferiu pisotear e esmagar rosetas... Inúmeros fazem isso de suas vidas e nela se comportam como aquele pobre e infeliz menino... ---------- ---------- O ódio é o amor doente, segundo a correta definição de Cardenal, poeta nicaraguense. Para odiar é preciso antes ter amado, por isso o mal que dele provém faz menos estragos do que a indiferença, esta sim a maior vilã de todos os tempos, pois que transforma o homem em icebergs a procura de “titanics” e, de uma só vez, expulsa a solidariedade, a fraternidade a real compreensão e grandeza que reveste ou deve revestir, sendo a essência do ser humano. A indiferença é o mal que se multiplica no espelho. Outro mal, a ingratidão, corrói e enferruja o que deveria ser o intocável ferro da graça e gera o infinitamente espúrio e condenável ácido da inveja. ---------- ---------- Infelizes àqueles que se deixam contaminar pelo fanatismo, seja ele de que natureza for. O fanatismo é aberração, negação de valores individuais pela desinformação radical que o professa e estimula. Revigora-se em si mesmo e transforma o homem na besta fera que, pretensiosamente, enxerga naqueles que não comungam de suas crenças e credos. Ele não dialoga, tenta impor pela força o que acredita. Por isso muitos compram “cadeiras no céu” e saem por aí, vendendo a ilusória condição que os leva a se acreditarem portadores de uma verdade absoluta. A verdade absoluta não existe. E se olharmos com profundidade tudo isso, a gênese dessa verdadeira lavagem cerebral que atinge tantos fracos, lá estará alguém levando vantagem pecuniária, o bendito-maldito dinheiro dando cartas e jogando de mão. Ao que tudo indica não tem maior ou mais lucrativo negócio do que a comercialização da fé, quanto mais cega, melhor para os magos que transformam os incautos, tantos fracos e desassistidos, em fontes de barbáries, alto-falantes propagadores de panacéias e ilusões. Enquanto alguns continuam se exercitando e se consagrando como vendilhões em troca de moedas, outros, milhões, esquecidos de que o Deus e a Igreja que buscam fora, está dentro de si mesmos, se entregam ao fanatismo de que foram contaminados. Pior, saem por aí contaminando outros, na triste ilusão de que são enviados dos céus... Quanto desperdício de amor, boa-fé e caridade, por um nada ou quase nada... Milagres existem e cotidianamente acontecem. Basta observar a si próprio ou qualquer outra pessoa, todos são milagres ambulantes, ratificados a todo momento. O milagre de ter nascido, o milagre de continuar vivo, o milagre de realizar, por livre arbítrio, seu próprio caminho, o milagre de ser instrumento de geração de outras vidas, o milagre de se saber presente olhando e esperando o amanhã que ainda, neste agora, não existe, o milagre de se saber tão insignificante quanto um grão de pó e ao mesmo tempo tão imenso quanto o universo único e exclusivo que carregamos em nós... Porém, Não confundamos milagre com ocorrências impossíveis da qual resultariam o armagedom (batalha final entre o Bem e o Mal), por exemplo; à fé, efetivamente, dá para se creditar praticamente tudo, todavia nenhum milagre pode ser considerado tal se dele decorrer catástrofe maior que ele e que atingiria a tudo e a todos. A propósito, veja-se um recém-nascido, seja animal racional ou irracional ou vegetal, e o que se tem diante dos olhos é um livro aberto, sem página escrita que, todavia, em seu âmago traz em si as anotações e heranças genéticas que seus ascendentes lhe transmitiram. Porta o animal racional, o homem, o conhecimento e descoberta do sorriso, da lágrima, a extraordinária utilidade do polegar (que é só seu), acompanhados pelo conhecimento e consciência de sua própria finitude, da morte enfim (física, ao menos) e também desse monumental e corriqueiro equívoco de se pensar dono do tempo e, quiçá, eterno. Ignorando tudo isso, o animal irracional, não ri nem conta seus dias pelo fúnebre conta-gotas do menos. Por causa disso, refletindo sobre a ignorância do animal irracional, muitos creditam que teoricamente a ignorância é uma fonte de felicidade que pode tornar as pessoas que a servem bem mais felizes do que aqueles que se entendem ou são apontados como sábios. Ledo engano, pois àquela produz a escuridão, esta ao contrário, a luz; a pessoa ignorante é presa fácil às aves de rapina que dela se servem. --------- ---------- Ah! O sorriso, a gentileza, são chaves que abrem qualquer porta. Use-as sempre, desde que não te abdiques de teus princípios, sem resvalar à subserviência ou te deixar seduzir pelos pretensos poderes e ostentação gratuita dos poderosos. A humildade e a esperança são dádivas que jamais devem ser abandonadas ou subtraídas de teu ser. Não confundas, entanto humildade com humilhação e a esperança com sonhos tresloucados, lembrando-se que mais forte que o carvalho é o junco, pois que, este se dobra mas não se quebra à ventania. E quando estiverdes cansado, triste, deprimido, lembrai-vos do que José de Alencar expressou como última frase (mais que isso, um verso) de “Iracema”, “...tudo passa sobre a terra”. Tuas dores e alegrias também passarão, como tu. Não te decepciones se não conseguires firmar-te como uma árvore frutífera ou produtora de madeira forte necessária à construção de casas e sonhos, não esqueças que podes ser como o umbu (árvore oca, de madeira mole sem serventia e que também não produz frutos comestíveis) que em sua copa dá sombra e abrigo para terceiros, por isso mesmo não menos importante que as outras árvores... ---------- ---------- Não tenhas medo da morte, é desperdício inconsequente ter medo do inevitável. Viva de forma que, ao morrer, se confirme a expressão cunhada por Ernest Heminghuay no fecho do romance “Por quem os sinos dobram?”, que informa que toda humanidade perde quando a morte ceifa uma vida e àqueles que perguntarem por quem os sinos dobram, seja respondido que dobram por eles mesmos que mantém o sopro de vida que, então, te terá abandonado. Tenhas medo, sim, de não aproveitar o doce, amargo, salgado e adstringente sabor da vida. Ela está em ti, faça dela o melhor que puderes. Vive-a com o delírio dos que creem. ---------- ---------- Mantenhas sempre acesos teus ideais não importando às vicissitudes em que te vires jogado. Embora todos os desconfortos, a magia dos ideais te fará mais humano, atuante, vivo. Não dilapides teus sonhos de quando criança, porta-te como uma quando estiveres em meio a elas. Dá atenção e apreço às pessoas que fazem parte de teu cotidiano e mesmo àquelas que passam por teu destino, sem tempo de serem reconhecidas ou amadas. O mundo necessita de teu amor imensurável, não se deixe esturricar a alma pela falta dele que está em ti e muitas vezes pede socorro para viver toda sua plenitude e grandeza na entrega que deves ofertar a todos. Não te deixes intimidar ou diminuir diante dos infortúnios, tens a liberdade e o dever de vencê-los pois que és feito de um barro sobre o qual realizou-se o milagre do ser. Não tenhas, sejas; no andar, caminho e sonho dos outros, não sejas, estejas como um facho, distribuindo luz, compreensão, afeto e paz. ---------- ---------- Cultives a amizade, o melhor e mais divino de todos os sentimentos, sem outros interesses que não o bem estar da pessoa de quem és amigo. Esse amor não se explica ou justifica, apenas se doa sem prevenção ou entraves. ------ ---------- Sejas bom. A bondade, mais do que virtude, é obrigação. E bem assim, exercitando-a, estarás compondo a maravilhosa sinfonia do sim e cumprindo com louvor o que desde sempre te foi destinado. ---------- ---------- Ofertando os poemas (do Autor), infra, pretende-se enfatizar, demonstrar o supra afirmado na forma de prosa, buscando, através das metáforas e musicalidade que modestamente se entende neles contidas ampliar, ratificando, a universalidade da simplicidade que permeia o presente ensaio: ---------- ---------- RETRATO DO AVESSO ---------- ---------- De súbito, entendi!/ É o tempo o senhor / Sou apenas o súdito / Sem queixas ou pudor./ Então, assim, percebi / Que o sim e o não / Em qualquer versão / Ou mesmo endereço/ Não tem razão de ser / Ou ter, tudo é recomeço. / Minhas escolhas / São folhas soltas / Que reprimem orvalhos/ Do ontem, de atalhos/ Que, sem me dar conta,/ Despedacei em tédio./ Pretenso remédio / Que não faz a cura /Das tantas juras / Do inalcançável /Que, indisfarçável, / Em mim repousa./ Presas do tempo/ Todas as coisas / O bem, o mal/ Ir-se-ão sem ter/ O som do agora,/ Do meu sofrer/ E dos gozos meus,/Todos os sabores,/ Dos meus amores,/ De minhas dores,/ No agridoce do adeus! ---------- ---------- DEIXEM-ME O AMANHÃ ---------- ---------- Tirem-me tudo, se assim entenderem que mereço/ Exceto o amanhã que não tenho, nem conheço./ O homem vive de perspectivas,/ de fantasia, da utopia e seus adereços/ e o que paga pelo hoje que já vai ontem/ é o resultado de suas ações e omissões/ justo ou injusto, paga-se o preço./ O amanhã que nunca tenho, pode trazer/ em suas dobras o que me falta para só ser,/ ao final, inundando o leito seco do riacho agora/ com águas puras originadas d’outras auroras/ e meus excessos na dor que espanca/ nelas banhados renascerão esperanças./ Vida na vida, sonho encantado, o avesso/ destes tempos rudes que vivo e sei, mereço!/ Tirem-me tudo, menos o amanhã/ Que não tenho e nem conheço! ---------------------------------------------------- ------------------------------------------------------------ ------------------------------------------------------------ ----------------------------------------------------------- AOS AMIGOS, FAMILIARES, ÀS PESSOAS QUE ME HONRARAM COM SEU AFETO E PERDÃO, VOTOS DE FELIZ 2022 PLENO DE SAÚDE, SONHOS, REALIZAÇÕES, PROSPERIDADE E PAZ! Itagiba José (e Fam).