quinta-feira, 15 de abril de 2021

PREDESTINAÇÃO


Nem bem começara a tarde, nem a tradicional sesta,

o temporal anunciado em nuvens escuras no céu plúmbeo

desabou por sobre infelizes vítimas, prenhe de aleivosias;

daí em diante nada se sabe do que ou quando, tudo é festa,

do que ou quando se estancará toda água desse plenilúnio

forjado em grossas gotas ou flechas grávidas de ventanias.


Arrisque-se a sair de casa expondo-se como um fio terra

pensando não ser imã suficiente para atrair poderosos raios

que, quase certo terá à frente, um caindo em sua cabeça

e o seu nada atestará que raios não poupam quem se ferra

pensando ser maior por ter coragem de enfrentar desafios

pouco importando a importância do resultado que ofereça.


A vida é simples como um início de tarde, uma simples sesta,

a aproveite e sugue o sumo próprio de quem sabe vivê-la

mesmo sem ter, mais do que tudo seja, amando, sendo amado

e o seu ser atestará que em si se basta, sendo orgia e festa

em inesgotável plenilúnio de luzes e sonhos, sem represas

para o qual todos, sem ressalvas enfim, foram predestinados.

terça-feira, 13 de abril de 2021

CANTOS DE SEREIAS


Muitos ou todos diziam, certos,

que eras além do demais para mim

e diante de tua beleza, por certo,

por mais bonito que eu fosse e nem assim

que nunca fui, nem perto, enfim,

também eu sabia que eras demais para mim.

Porém, parece, somente nós sabíamos, decerto

O que um e outro era ou seria, sempre, para si.


No entanto, para nosso desencanto, o canto

dessas urbanas sereias presas nas areias

da ampulheta chamada destino, fez-se ouvido

resultando na dispersão de sonhos intumescidos

desenvolvidos n'outros caminhos e acenos

enquanto se dissolvia nossa trigonometria

não apenas em repetidos senos e co-senos,

para fora e além do infinito de nossa simetria.


E fomos de gole em gole do azedo embriagados,

Sem mais o doce do vivido e jamais esquecido

Que teimosamente permaneceu ali, ao nosso lado

Como dolorido espinho espetando os desatinos.

E foste embora, sem jamais ter ido em mim

Que conservo teu aroma no amor inenarrável,

Em meio ao imensurável da saudade e suas teias

Para muito além dos falsos cantos de sereias.