segunda-feira, 23 de abril de 2018

ALZHEIMER


Registram os vazios de tua memória
Ausências e estopins, cansadas liças
Vez em quando vem luz à tua história
Ressurgida de tuas areias movediças
Teu cérebro, então, como menino leve
Traz a vida antiga para este agora cego
E te refaz, na paz desse espasmo breve,
Em sons e imagens que eu não enxergo.
Consulto o médico, a minha e a tua vida
Não têm respostas, mesmo no improviso
Do teu silêncio a doença enlouquecida
Gera mais escuridão ao nada, sem aviso.
Já não és sombra da pessoa que existia
No fundo de tua alma, um desconhecido
Embaralha e dita as cartas do teu dia a dia
Apagando rastros do que já tenhas sido.
A doença que sentes, sei e sequer conheces
Com a mesma intensidade me sangra, abate
Matando não apenas a ti, o amor que destes,
Também a mim, tão impotente para curar-te...

sexta-feira, 20 de abril de 2018

QUÊ!


O que diria eu se a tarde
Caindo no colo da noite
Bradasse minha solidão?
O que faria eu se as notas
Musicais desaparecessem
De meus atos e restassem
Apenas neblinas, passos antigos
Perdidos rastros de minha solidão?
O que teria eu não fosse o tormento
De tua ausência, compasso e lamento
De tempos sofridos, de tempos idos,
De tempos do tempo do inaudível canto
Que trago comigo, acalanto,
Como triste balada de solidão?...

FOI-SE


FOI-SE

Fez-se tarde, bem antes de se fazer cedo,
na escuridão de minhas grotas, meus relevos
que tanto por ser bravios, tanto por sutilezas,
quem sabe muito mais por ser destreza,
apropriaram-se, despencando em cotovelos
em meio ao nada impróprio de meus medos...
Desenhos, curvas e mistérios, as entrelinhas
desnudam e ensaiam voos de andorinhas
e o vento, travestido de rugidos e segredos,
afugenta manhãs e tardes que eu não tenho,
mesmo que se faça com esmero meu engenho
larguei o ontem ao amanhã que já vai cedo...