quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

CAMINHADA

Venho de longe, de viagens repetidas
resultante que sou de vindas e idas.
Chego onde o braço me alcança
e a criança que fui torna-se adulta.
Não trago migalhas ou vetos,
nem portas ocultas ou gestos de nada,
sou apenas minha própria história
de pureza entretida e pecado formal.

Sou um pouco distante do tempo de espera
e agito o vernáculo na ânsia de ser ouvido,
rebatizando o cotidiano na fé e na força,
trazendo o inusitado como incerteza.
Venho do meio da plebe, assumindo os riscos
dos tempos verdades, etapas concretas e rimas.
Sem prevenções, não me visto de alegorias
que não a do pão, do circo e da vida.

Venho e continuo vindo como tudo que passa.
Olho a destreza do sonho e da realidade
vagando em meio às minhas tormentas.
Sou parte, jeito, antídoto e veneno
sou todo e todo me entrego, me abro, me fecho,
caminhando meu rumo, no rumo de tantos.
Sou o que sou, o que fui e serei,
venho e continuo vindo como tudo que passa...

Pedido

Não quero ser resposta de tudo
nem metrificar o infinito,
antes quero transitar o verde
e viver o simples. Só isso.
Para que mistérios e sofismas
se a vida é gratuita?
De que vale o brilho, se cega
e afasta os outros de mim?

Não quero ser mito, nem mitificar-me,
antes quero ser eu, e viver-me.
Para que mistérios e sofismas
se o amor é gratuito?
De que vale o ódio, se corrói
e expulsa a luz de mim?
Não quero ser o só de agora,
sem a fantasia do tudo adiante.

Requiem para Ezolda

Quisera ser doçura
pintar de cor-de-rosa
toda esta amargura
estampada, dolorosa...

Mas, que dizer enfim
senão banalidades
a dor desta verdade
dilacera tudo em mim.

Quando um coração pára
calam-se as palavras
e a chuva da saudade
irriga a realidade.

É um sonho que termina
na vida que se vai,
silêncio que alucina
no frio do nunca mais...

Mas que fazer enfim
senão juntar momentos
guardá-los aqui dentro
e continuar tua vida em mim!

Adeus

Vai,
caminha na abscissa do tempo
e na vertical da vida
da resultante faça a tua extensão.
Ascende-te ao firmamento,
porém nao tentes esquecer
que na horizontal
viveste e viverás
teus melhores momentos.
Anda ordenada,
na desordenada devassidão
do deus social,
não esqueças o bem,
não penses no mal.
Prove o tempero da distância
ou a ânsia da volta,
não lastimes a espera,
mantenha o otimismo,
pois o sal usado no batismo
dá a pureza,
o usado na vida, o mérito.
Delicia-te com a doçura do reencontro
ou do descobrimento.
Vai,
o teu passado tornará
na curva do caminho
e o teu futuro é a incognita
da perfeita equação
que é a tua (a minha) vida
e que enjeita a solução
barata ou incoerente.
Anda durante, pelo menos,
um segundo na felicidade
ilimitada e terás vivido bem mais
do que muitos pensam tê-lo feito.
Não mudes porque as coisas mudam
e sim pela necessidade, pela procura
da autenticidade. Não sejas poliédrica,
mantenhas uma face!
Tente sempre a perfeição
embora ela seja também, imperfeita
por nao dar nenhuma chance
a qualquer de nós alcançá-la.
Busque o amor sem explicá-lo,
o perdão sem defini-lo. Se possivel,
busque o prazer de viver
sem a passividade dos fracos,
com a vitalidade dos fortes,
todavia evite exageros
- os extremos são perigosos.
Se acreditares, siga para o norte,
apesar de te apontarem o sul.
Ajudar a quem sofre é uma forma
de evitar a própria dor,
mas se ela teimar em conviver em ti,
abriga-a como uma dádiva,
ela será a chuva que regará
o teu jardim, revigorará tua crença
e reflorescerá tuas cinzas.
Vai,
a despedida não existe
quando levas de mim uma lembrança
deixando de ti, esta saudade.