terça-feira, 8 de abril de 2014

DIAS DE DERROTA


Abateu-se sobre mim a tempestade
e me prostrou...
sinto-me um quase nada, um nada
enquanto meu coração bate automaticamente,
a alma está morta, meu corpo fenece.
Sou lavoureiro que perdeu toda a colheita
e no desespero nem a prece é lenitivo,
nem o sonho é refúgio.
Subi a montanha para olhar o mundo e caí
agora é ele quem olha para mim.
A dúvida é cruel quando não se acredita
nem mesmo na esperança.
São dias de derrota, dias de tristezas
e o cinza habita minhas entranhas...
Estranha a vida, praticamente de incertezas,
me faz morrer mil vezes a cada instante,
sinto-me só, terrivelmente só, com meu fracasso.
A vida se renova, sei bem disso
e quando retornar a antiga claridade
e sonhos bons revestirem a realidade,
serei novamente eu, serei um riso,
e nem estarei tão sozinho,
minha face regozijará em Deus
e minha alma reviverá de céu!

PEDRA-HOMEM


Pela erosão a pedra ia sendo mudada,
adquirindo formas, dobras e contornos
Dia após dia diferenciada.da pedra que fora...
Um dia, o homem muniu-se de explosivos
e penetrou em sua intimidade. Fragmentada,
transformada em mil pedaços, a pedra
revestiu casas, assinalou caminhos
e, até, identificou os mortos.
E todos seus mil fragmentos, para sempre
mantiveram seus atributos, foram pedras!
O verdadeiro ser humano a que admiramos
é pedra viva, íntegra, sólida, imponente
que resiste às intempéries da vida
e permanece, apesar de tudo, um homem
mesmo se estraçalhado pela desgraça
ou reduzido à insignificância de um átomo.

PÓS-GUERRA


Desejo reinventar o amor
embora acreditasse tê-lo morto
e faz tão pouco tempo...
Desejo o riso que esqueci
nos tortuosos caminhos de tantas bocas;
desejo a paz que joguei fora,
no mito de minha crença, sem fé;
desejo soprar as cinzas que me sujam
e catar ilusões e sonhos que quis
e não consegui, apesar de tudo, expulsar.
...
Estou calmo, passou a tempestade
e a gargalhada da metralhadora
ou o troar do canhão assassino
não mais são minha extensão;
até meu ódio adormeceu, banido
pelo desejo de dialogar contigo,
com o mundo e comigo mesmo.
Amadureci, creio!
...
Sei, será difícil despir-me do egoísmo
enriquecido durante todo este tempo
em que fiz da antítese, minha tese
e compliquei a síntese de minha dialética.
Será difícil descer do pedestal
em que me coloquei quando fui justiça
e minha verdade era a única, verdadeira.
Será difícil esquecer minha ânsia doida
de conter em mim a posse da razão pagã...
foi o que nos separou e quase me destruiu!
Foi essa pretensão que me fez inimigo de ti,
do ser humano e o próximo meu inimigo,
quão louco eu estava...
...
Desejo esquecer tudo isso, afinal
compreendi que a razão de ser
está simplesmente em ser, apenas.
Entendo teu medo de tentar novamente
mas quero que entendas minha audácia:
a guerra que vivemos negou nosso valor,
entumecida de ódio regozijou-se no horror
e ascendeu nossa descrença,
fez-nos eremitas carregados de receios
pelo futuro e remorsos pelo passado.
Essa guerra diante de nosso assombro
pareceu-nos justa quando em verdade
fez-nos vítimas de nossas próprias vinganças.
...
Esquecer? sim desejo esquecer!
Comparadas com a solidão, a dor
e todas as tolices que nos afastaram,
sórdidas urdiduras de cérebros dementes,
não valem a pena de serem reprisadas.
O caminho escuro percorrido foi longo
matou e se fez morto, doloridamente,
diante de nossa própria estratificação.
...
Desejo tentar o início de outra caminhada,
desejo voltar a me sentir gente, vivo,
desejo a fé, o amor, comungar a estrada,
comungar o resto de mim contigo, no embate
a enfrentar nesta arena, no risco de ser apenas
o único ser interessado. Talvez, em ser me baste!

ARGUMENTO


E todo argumento que às vezes te falta,
da cara do mundo, da cara do tempo,
o dito argumento sempre te assalta.

E toda a ternura que às vezes te basta,
da cara do mundo, da cara do tempo,
o dito argumento sempre te assalta.

E todo este ódio que às vezes tu exaltas,
da cara do mundo, da cara do tempo,
não é argumento que este é a falta
que ao animal basta.

E todo o momento de dor, de alegria,
é a cara da vida que mostra seu dia,
é a cara do mundo que ri ou que chora,
é a cara do tempo que fala e que dança
por sobre a balança de tua própria cara.

OCASO


Onde anda o sorriso que transcendia minha ilusão?
Onde anda o olhar que incendiava meus átomos?
A eletricidade que fustigava o meu ciúme,
Onde anda?... Onde está?
Teu sorriso está morto como o orvalho
em presença do sol.
De tristezas e amarguras teus olhos me falam...

Tua eletricidade deixou de existir
e não mais aciona a alavanca
de tantos desejos, mistérios e medos
que, um dia, em mim viveram...

O que foi que te fez perder,
na voragem da vida, a fé,
a esperança que hoje alquebradas
de tanto testadas, não vejo em ti?
Que martírios impuseste a teu corpo e espírito
cujos horrores passados
retornam alternados e os fazem fremir?...

Já não crês em nada,
que pena, morreste tão cedo
e nem o amor guardado a medo
te fará reviver em centelhas de céu...

É tarde! o sol já baixou no horizonte
e a noite, sem lua, que foi não só a tua
mas também a minha vida
aí vem, nos envolver...

EU E A GUERRA


A batalha seguia enquanto homens matavam homens,
homens irmãos!
A morte sorria enquanto a guerra cantava,
cantava o canhão!
Ali estava eu com aquela arma cuspindo morte,
a morte na mão!
No fragor da procela o instinto me guiava,
auto conservação!
Olhos crispados, cabelos revoltos, desvarios,
qual a razão
da violência, da guerra, de estar ali lutando,
lutando feito um cão!
...
Estava eu tremendo com a carta na mão,
na mão inocente,
fora convocado, diante disso me perguntaram
"É medo o que sentes?"
Então papai disse: "A morte não escolhe lugar,
nem o seu cliente,
sentir medo dela, do mundo, dos homens, da guerra
é ser nada somente!"
Meu pai, respondi, só a guerra me assusta
pois transforma a gente
e faz com o que o forte e o fraco, o bom e o mau
matem legalmente
e se agora tremo não é pelo medo de dores ou morte
que terei de enfrentar
porém, papai, seu filho inocente, puro e amigo,
terá que pecar;
e mesmo que volte coberto de louros, um herói,
herói por lutar,
e mesmo que a história enalteça suas glórias
terá que acusar:
Este homem foi um grande guerreiro, um grande,
viveu a guerrear,
perde-se no tempo as batalhas e quantos (irmãos)
conseguiu matar.
....
E aqui estou eu de arma em punho, matando...
matar ou morrer!
O inimigo tem alma, rosto, família e também
deseja viver!
Que fenômeno é este que vidas consome a ao diálogo
põe a correr?
Cadê o raciocínio que ao instinto supera?
não consigo entender,
pois, vença quem vença, em se tratando de guerra
todos irão perder!