segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

ENSINAMENTOS DA VOVÓ ELOÁ

Da Série:

OS ENSINAMENTOS DA VOVÓ ELOÁ
Comecemos apresentando as partes protagonistas da série, de forma simples e sem muita firula eis que foi e é nessa forma direta, ao alcance do entendimento dos que são receptáculos das histórias narradas, que Vó Eloá, questionada ou não, ensina, indica, aponta rumos, relata fatos históricos ou míticos, às suas netas, uma de cada vez, à mais “velha”, Mellyssa, à do meio, Gabrielle e à caçula, Luize, todas, carinhosa e respectivamente apelidadas de “Mel”, “Gabi” e “Luli” ou “Leco-Leco”.
Dentre várias histórias que pretendemos narrar inteiras, oportunamente e uma de cada vez, iniciemos pela ocasião do Natal em que a Mel, tinha cinco anos, com a vó lhe contando que então se festejava o aniversário de Jesus Cristo que nascera em uma estrebaria com vários animais à volta, vaca, burro, ovelha, um monte de bichos de tudo quanto é espécie... - Tinha cachorro? - Perguntou a Mel - Não, acho que não, talvez porque naquela época não tinha cachorro. - Ah, bom. E burro, voava? - Não, nem naquela época burro voava. - Ahhn! E a vaca, p'rá que servia? - P'rá dar leite, mamá p'rá o menino. - Ahhn! E o Papai Noel deu brinquedo p'rá Ele? - Sim, só que foram três Papais Noel que na época se chamavam Reis Magos, uns dias depois Dele ter nascido. - Puxa, três, que sorte, hem! - Pois é.
Três ou quatro meses depois, chegava a semana da Páscoa, e a Mel, agora com quase seis anos e ainda possuidora da imensa curiosidade própria das crianças preparava-se, em ansiosa espera, para a chegada do Coelho e degustação dos saborosos ovinhos de chocolate no domingo quando ouviu, ainda na Sexta-Feira, Santa, que Jesus Cristo tinha sido crucificado, morto e, sepultado, deveria ressuscitar no Domingo de Páscoa, indo direto perguntar para a vó sobre o que ouvira. - Vó, eu ouvi uma história sobre morte de Jesussss!!! como pode ser isso?... Ele nasceu não faz muito tempo, no Natal, é um bebezinho, menor do que eu... como pode ter crescido tanto e, agora, morreu e vai ressuscitar... o que é isso,Vó, conta p'rá mim essa história de que mataram Jesus, é outro Jesus, n'é? não 'tô entendendo! - Não Mel, infelizmente não é outro Jesus, é Aquele mesmo que nasceu no Natal e tudo o mais que tu já sabe... - Mas, como pode... 

- Calma, vou tentar te explicar o que aconteceu: Jesus nasceu no Natal e se passaram trinta e três anos desde o nascimento Dele, por isso Ele tinha trinta e três anos de idade e se meteu n'uns rolos, aí prenderam Ele e lá no País onde Ele nasceu tem uma tal de pena de morte que é mais ou menos assim: prendeu, condenou, matou! e Ele foi preso, condenado e crucificado, morto enfim, sendo enterrado em uma caverna, uma gruta como chamavam. Três dias depois a Mãe Dele, que é também nossa, a Nossa Senhora que todos amamos, sendo a Mamãe do céu, ainda chorando a morte do Filho foi até o local e não encontrou seu Corpo, é que Jesus que havia ressuscitado horas antes, porque Ele é o Filho de Deus, renascera ou nascera de novo, então, três dias depois de Sua morte. Assim, Ele renasceu ou nasceu de novo, ressuscitou, no fundo fazendo repeteco, outro Natal, agora indo morar no céu com o Pai Dele. Entendeu?

 - Bah! Acho que 'tô entendendo... E, emendando de primeira, Mel perguntou para a vó - Coelho bota ovo? - Não Mel, coelho não bota ovo – Nem os de chocolate? - Não, nem esses! - Então de novo não entendo, o coelho, o ovo de chocolate, a Páscoa... - Bom, é bem mais simples do que tu imaginas, a soma do ovo, que é o símbolo de renascimento, com o coelho, que é símbolo da fertilidade, simboliza a Páscoa que quer dizer renascimento e fertilidade; renascimento é vida, o nascer de novo, ressuscitar como Jesus ressuscitou pois assim ele nasceu de novo, certo; fertilidade é multiplicação, criação e fonte de vida, de todas as vidas, como a minha, a do teu vô, do teu pai, da tua mãe, da tua tia, da tua própria, de toda nossa família, de todos os vizinhos, dos amigos, dos demais parentes, de todo mundo, de tudo... certo? - AAhhhnnn!

E lá se foi Mel a brincar, agora um pouco mais sabida, sem muitos mistérios e caraminholas na cabeça, afinal, logo ali, no domingo viria o coelho com seus deliciosos ovinhos de chocolate e outras gulosices (qualquer doce ou iguaria apetitosa)!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

UMA CANÇÃO (HISTÓRIA) DE NATAL

UMA CANÇÃO (HISTÓRIA) DE NATAL
A NOITE EM QUE O MOLEQUE SOLOU “NOITE FELIZ”

Aquele dia seria marcante; a história haveria de registrar que, à noite, em pleno estádio Felisberto Fagundes Filho, do E. C. Uruguaiana, o Canto Orfeônico Vila Lobos, do amado Colégio Estadual D. Hermeto, iria se apresentar, sob a regência da professora D. Ieda, que cultuava, além das músicas eruditas e clássicas, para corais, arranjos de músicas populares como “Chuá, Chuá”, “Maringá”, ambas de Joubert de Carvalho, também “Assum Preto” ou “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Guilherme Figueiredo e tantos outros clássicos da Música Popular Brasileira.
No início, ao cair da noite, foram acesas as luzes do estádio, único então que tinha iluminação noturna, precária se comparada com a iluminação atual do Beira Rio do querido Inter ou da Arena gremista, para a realização de jogos tendo ali jogado, com muito brilho é verdade, o inesquecível craque conhecido pelo nome, apelido melhor dizendo, de “Amarelo” (Luiz Amilcar Gimenez, querido primo do moleque) que iniciara sua carreira profissional no E.C. Ferro Carril, passando pelo E.C. Uruguaiana, ambos dos áureos tempos futebolísticos da cidade de mesmo nome e adiante brilharia e seria ídolo no Ipiranga de Erechim (à época da inauguração do Estádio Colosso da Lagoa), na Portuguesa de Desportos de São Paulo, no Glória de Carazinho, no Gaúcho de Passo Fundo onde, parece, encerrou sua vitoriosa carreira.
Entanto, após tal digressão em homenagem ao grande atleta, voltemos àquela noite, com “feéricas” luzes acesas também na árvore de natal ornamentada à caráter e o público chegando e se acomodando nas sociais e arquibancadas do estádio engalanado para o evento que se iniciou ao som da Banda da Briosa Brigada Militar que, solene e galhardamente abriu seu repertório musical com os Hinos, pela ordem, da Cidade de Uruguaiana (composto pelo carioca Sílvio Rocha) do Estado do Rio Grande do Sul (de Joaquim José Medanha e Francisco Pinto da Fontoura) e do Brasil (de Francisco Manuel da Silva e Joaquim Osório Duque Estrada).
Após executar canções militares diversas, a Banda da Briosa, entoou alguns marcantes e celebres hinos natalinos, começando pelas composição de Assis Valente “Boas Festas”, seguindo pela trilha americana do norte, com “White Christmas” (Natal Branco) de Irving Berlin, e outras canções de arrepiar, culminando com a majestosa, envolvente, terna, emocionante, “Ave Maria” de Charl Gounoud. Foi uma apresentação invulgar, digna do renome tido e havido pela Banda da Briosa que dignificava a Uruguaiana de então.
Tal etapa e prazer musical proporcionados pela invulgar Banda seria coroada na parte final da atuação da mesma e em continuidade ao show pela indescritível alegria da gurizada com a chegada do Papai Noel, vindo sabe-se lá de onde, em meio aos fogos de artifícios e canhões de luzes dirigidos ao céu marcadamente escuro até por terem os organizadores tido a brilhante ideia de apagarem os refletores do estádio e grande parte das centenas de lâmpadas que funcionavam como “bolas de enfeites” da gigantesca árvore de Natal postada bem no centro, onde se dá o primeiro pontapé inicial do jogo de futebol, e com a circunferência da base acompanhando a marca da cal respectiva. Foi esplendoroso, espetáculo digno e inesquecível para quem o acompanhou.
Concomitantemente à volta ou religação da luz nos refletores e na árvore de Natal, nas sociais e arquibancadas foram servidos à gurizada sacos de pipocas, balas Cremalin (caramelos de doce de leite –dulce de leche- fabricados pelos “hermanos” argentinos), brinquedos como bolas e bonecas, os mais comuns. Imaginem a o rebuliço criado... Imaginaram? ... pois, sem exagero, era o dobro, o triplo, o quádruplo, ou muito mais do que isso ou do que se consegue imaginar, para uma festa de Natal, em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, naqueles tempos de inocência e verdadeira solidariedade exercida por todos habitantes daquela cidade tão pródiga e generosa com todos que tiveram o privilégio de conhecê-la, vivenciá-la, amá-la! ...
Em meio àquela balbúrdia, ouve-se o som límpido, harmonioso e alto da Primeira Banda Mista do Brasil, conforme atestado passado pelo programa “Lira do Xopotó” da antiga Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a Banda Vila Lobos do amado Colégio Estadual D. Hermeto; a canção musicada, naquele momento, era “Jesus Alegria dos Homens”, de Johann Sebastian Bach, seguida logo adiante pela música “Jingle Bells” (Bate o Sino) de domínio popular, e outras. Repentinamente a Primeira banda Mista do Brasil para em pausa dramática, no céu espocam fogos de artifícios e não mais do que três minutos passados, reinicia, “atacando” em volume baixo a introdução da música de Barbosa Lessa, “Negrinho do Pastoreio” e todos ouvem o vigor da vozes maravilhosamente afinadas e harmoniosa do coral Vila Lobos entoando a letra com a dramaticidade exigida pela mesma. Um encanto!
Sucedendo a tanto, sempre com o acompanhamento musical, de fundo, da primeira banda mista do Brasil, a próxima música cantada, com magistral arranjo e regência da professora e maestrina D. Ieda, “Luar do Sertão”, de Catulo da Paixão Cearense, acoplada, se é que é esse o termo correto, à música “Felicidade” do grande poeta e compositor gaúcho, rei da “dor de cotovelo”, Lupicínío Rodrigues.
Dentre outras interpretações do Canto Orfeônico volta à cena a música “Papai Noel”, culminando a apresentação com o maior de todos os clássicos natalinos de todos os tempos: a música serena, maviosa, harmônica, aconchegante e terna, “Silente Night”, de Franz Gruber, “Noite Feliz”, para nós, brasileiros... O Canto Orfeônico como um todo segue à risca o arranjo e assim, em determinado momento da música, reverbera sons de sinos natalinos e acordes de harpas vocais, enquanto acima disso, surge a voz do moleque qualquer, então possuidor de textura vocal entre o tenor e o barítono que seria logo adiante, vencida a etapa da “voz de taquara rachada” que a adolescência haveria de brindá-lo, com clara e afinada dicção, solando a canção, sendo acompanhado, quase em uníssono, por quase todos os espectadores daquele evento...
Ao que se sabe, nunca mais houve evento como àquele em Uruguaiana, as pessoas foram deixando de lado o Grande Aniversariante, o Natal, o mito do Papai Noel, a solidariedade, a fantasia e ilusão que, ao fim e ao cabo são os grandes tesouros da vida pois que, como dizia repetidamente nas manhãs geladas de Uruguaiana o grande locutor da Rádio Charrua (não sei se também o foi da Rádio São Miguel, a emissora do quero-quero), o saudoso Antônio Souza: “...o que gente leva da vida é a vida que a gente leva...” o que se acentua com a afirmação axiomática de que uma vida sem sonhos é um grande, infeliz e tenebroso deserto, um nada ao quadrado e por isso que convém e faz um bem enorme a todos, sem contraindicações, acreditar e vivenciar o que foi dito, escrito e sentenciando pelo poeta, o que ora se transcreve, relembrando para os amigos: “Amo o sonho que é a antessala de todas as realizações e o refúgio de todos os infortúnios!”... Façamos Natal em todos os dias de nossas vidas, começando pelo que ora transita travestido de hoje! …