segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Votos


Que não se fale em beijos...
eles devem ser dados.
Que exploda à vida desejos
realizados, a morte não venha
e o sonho seja intenso
Que o nascer dos anos tenha
o dom de te fazer mulher
(como eu entendo e penso!)
Toda. Universo. Doação.
Razão e sentir, viva e atuante.
Rainha e amante, enfim, um ninho
onde repouse o sonho e a graça
e o amor se faça na plenitude
do carinho, na simplicidade do agora
que passa leve e bem assim passa...
Que sejas a águia imperial
de longa plumagem, no vôo etereo
que te conduz ao ideal
que acreditas e sentes, no credo
e rumo dos que buscam tua luz...


FELIZ 2013 PARA TODOS QUE ME HONRAM
OU HONRARAM COM PRESENÇA E AFETO
EM MINHA VIDA. MUITA PAZ, SAÚDE, LUZ
E SUCESSO (INCLUSIVE ÀQUELES QUE POR
ACASO EU TENHA SIDO ALGOZ OU INJUSTO,
em qualquer tempo, DO QUE PEÇO PERDÃO).

            Itagiba José - 31/12/2012.

Nos olhos de quem vê


Dize-me que olhas e me reconheces
naquele verso lido, naquela miragem.
É a forma de olhar, vê se não esqueces,
que torna bela qualquer paisagem.

E assim me amas e por isso vês
o teu amor refletido em preces
que estão na alma, em toda você
cuja fortaleza acaricia e aquece.

Dizem tanto teus olhos, paisagens
de inusitada beleza nas passagens
sublimadas por cores do arco-iris

Deles saindo à vida, as mensagens
de vida, amor e paz em embalagens
das maravilhas que assim me dizes.

Miserabilidade


Pobre de mim, escudeiro
de poucos inteiros
e muitas frações
de maioria impróprias
que guardam bazófias
e contradições.
Sigo embriagado de vinho,
de mim, de sozinho,
de pão e de circo,
rodando no risco
do sim e do não.
Menor do nada que venho
é o nada que tenho
e me faz perdedor,
eu que saí do infinito
de um ventre bendito
como um vencedor.
Perdi em andanças vazias
as origens que tinha,
me fiz perdedor...
Pobre de mim, escudeiro
de poucos inteiros
de sonhos, de amor...

Fôlhas


Mesmo quando te perdi, saí ganhando
um sonho de criança e mais...
Cantavas no portão uma canção de amor
que falava em folhas mortas pelo chão...

Quantas despedidas vãs fomos morrendo
um dia, sempre e outro e mais...
Ficou no portão aquela canção de amor
que falava em folhas verdes do verão...

Passo na mesma rua e vou lembrando
aquele sonho de criança e mais...
Ouvindo no coração a canção de amor
que falava em estações e em jamais...

Vivificadas imagens vão se formando
por sobre um portão imaginário e mais...
e as folhas caídas no ora solitário verão
jazem no fundo da estação nunca mais...

Ventos gaúchos


O vento que paspa as pernas
é o mesmo que paspa os braços,
o rosto, as partes internas,
o resto e mais um pedaço.
Às vezes se chama Pampeiro
se da Patagônia vem
gelando nos aguaceiros
os ossos e a alma também.
Outras vezes é Minuano,
se dos Andes ele sopra,
português ou castelhano
é a milonga que ele toca.

Ai que preguiça, guria,
uma preguiça de morte,
quero uma sesta vadia
eis que sopra o vento Norte
que, se tem companheiro,
não é o Minuano, nem seria
o úmido vento Pampeiro
com sua neblina tão fria;
'tá na cara, é o Nordestão
que agita o Litoral
levantando todo o chão
que revoa em areal...

São ventos bem conhecidos
deste Rio Grande amado
abraçando embevecidos
as belezas deste Estado
sem paspar todas as pernas
muito menos todos os braços,
os rostos, as partes internas,
o resto e mais um pedaço.
Ventos que se dão ao luxo
de se cobrirem de acento,
de gauchos viram gaúchos
sem lenço e sem documento.

Hospital

Ofegante murmurio à vida perspassa
cerram-se olhos à espera da graça,
nasce uma criança, renasce o perdão!

Em contra-partida à vida que entra,
no quarto ao lado a morte adentra
e ceifa outra vida, final de oração.

Tristeza e alegria no branco avental
vida e morte co-existem no hospital
e a ansiedade do peito é opressão.

Passos distantes, o silêncio é pesado,
na luta incessante o minuto é contado
como tempo bastante, embora a duração.

As doenças e as dores ali tem lenitivo
abertos ou fechados caminhos cativos,
ida a eternidade ou volta a ilusão.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Cruzada

Aprenda um pouco
com este louco
que acredita em fantasia
e aperte o cinto
neste sonhar,
vem p'rá voar
por sobre a pampa
do impossível,
sob o encanto
do céu improvável.
E senta a pua
nessa tristeza
expulsa à rua
todas incertezas.
Apanhas as luas
do inumerável.
Vens acariciar
este universo
de realidade
que dança em ti
e está tão perto.
Deixa de lado
este cimento,
esta aspereza,
dos desenganos
n'água pura
dos puros anos
de toda infância.
Dai olhos e ouvidos,
demais sentidos,
para essa criança 
que se afogou
no lodo adulto

em que chafurdou.
Procuras a água
que se exauriu
secando ao sol
do não matar
a sede e a fome
dos humilhados
pobres de tudo,
dos desamparados.
Felicidade
é ser alado,
xucro, indomado
a espera e alcance
dessa vontade
de luta sadia
que se garante
na fé e na força
do todo antes,
da fantasia.
Aprenda um pouco
com este louco
p'rá se vestir
de alegoria,
p'rá se descobrir
sendo infinito
resto de estrada
rumo ao jamais
p'rá nunca mais
ser nunca mais!

COSMOS

Como sempre estou passando
alternando o meu compasso
ao desocupar espaços
ditos nunca ocupados.

Há no ego galopado
extremado de suores
desperdícios e valores
descartáveis e encartados.

E o hoje que hoje passa
passa em mim por travessura
deixa luz, deixa amargura,
leva ao ontem toda a graça.

Ser, não é, foi, virá a ser,
o fazer do que está pronto
gira à vida, sai do ponto
volta ao dito por dizer.

Espelho do tempo revela
pelo cosmo da verdade
há uma só eternidade
para todas as estrelas!

Joãos

Ando cansado de perder,
não ser, cair e levantar
para cair de novo
como aquele João-Bobo,
o brinquedo, o João-Teimoso.
Sei, não é só meu o privilégio
mas a teimosia arrefece
nem tudo é o que parece
e o mar deixa na praia
espumas a espantar tédio.

O desânimo toma conta
cada vez mais do espaço,
das nuvens densas, tontas
onde meu dia desmaia
nas franjas desse embaraço.
O que fazer, penso, agora,
quando a luz se vai embora
deixando-me só em mim mesmo?
Faz-se mais que necessária
a coragem de ser praia,
mar e festejada dança
de um futuro que se alcança
e se constrói desde o ontem
porque, sei, não há horizontes
quando se perde a esperança.

Mas, o cansaço que me pesa,
traiçoeiro cancer que lesa
as profundezas do ser,
é o verdadeiro João-Teimoso
que, sei, preciso vencer
ou pelo menos, enganar,
mudando o curso da história
porque no pêndulo do tempo
embalam-se os meus momentos,
latifúndios de derrotas
por grânulos de vitórias...

Transitando

E se fazem apressados
nesses dias efervescentes
mais o antes que o à frente
na essência do rimar
velhos sonhos requentados
com o filtro do perdido,
vesgos, frágeis, entumescidos
de céus que chovem o mar...

No cabide, desbotado,
vestido só de vencido
resta um ser ressequido
pelo sal do esperar,
vivendo do insuspeitado
contrabando desidratado
na tristeza de um andar
longas noites sem luar.

Urge pois, ao tempo exíguo
destes e em todos os acertos,
se nem tudo tem conserto
tentar ao possível ajustar
sonhos novos, sonhos antigos,
e mais àquele que se quis
como epílogo feliz
para este efêmero transitar.

Girassóis

Rasguem as entranhas do nunca
com a força da fantasia,
estalem os dedos da escuta
lambuzem a barra do dia.
Voem libélulas, efemérides, borboletas
nos arcos-íris das vindas
ou idas das despedidas
e enquanto o sino do tempo
badala o som do amanhã,
o hoje se faça consenso
na flauta doce do ser.
Voem libélulas, efemérides, borboletas
a vida é frágil cometa
no eterno céu do esperar.
E enquanto brincam de tédio,
enquanto buscam remédio
a vida se deixa estar
a vida se deixa viver.
Explodam o aperto do antes
em multicores facetas
reafirmando o durante
passeando neste cometa.
Voem libélulas, efemérides, borboletas,
libertem a alma, o sim
da fonte, de todo o iníicio
e se dando inteiras, assim,
despidas de artifícios
sejam canções benditas
na sempre-viva das horas
pois que frágil, ainda e embora,
a vida é infinita!

Gaiolas

No concreto da cidade
bate asas um passarinho
segue rumo ao verde raro
de uma praça cuja graça
escapou do imaginário.

Na gaiola, um ex-menino,
trinta metros do asfalto,
passa o tempo na desgraça
de não ter sequer uma praça
desgarrada da saudade.

No concreto da cidade
tantas são nossas gaiolas,
tem as que sobem e descem,
outras rolam sobre rodas
em cinzentos labirintos.

E o verde quase extinto
na poluição dos ares
repinta-se nas miragens
que retornam nas lembranças
desgarradas da criança.

Galopadas, movimentos,
nunca mais, pampa deserta,
o último dos passarinhos
neste cinza que não passa
se perdeu de sua praça...

Labaredas

Nem só desgraças, assim suponho,
de relancina chegam demais,
transformam sinas, derrubam sonhos,
matam o vivente, mil vezes mais.

Também paixões, nem é assim raro,
de relancina tomam de assalto
no improviso de uns olhos claros
raiam mistérios e sobressaltos.

Corcéis selvagens, galopes largos
sorvem espaços às talagadas,
presos aos abraços, livres do amargo
do ter limites dentro do nada.

Já nem se lembram, ali o abismo
onde despencam todas paixões,
do tombo feio no realismo
de um cotidiano sem ilusões.

Labaredas, como as labaredas,
tão rebocadas de loucura e alegoria
ardê-las sempre era tudo o que eu queria!

Esmeraldas

Ogivas de natureza,
pirilampos de paisagens,
de verdes pampas, certezas,
muito além dessas miragens.
Assovia um sonho leve
cujo andar pouco se atreve
a pulsar na realidade.
Há muito mais eternidade
no riso de tuas essências,
há cachoeiras, reticências
no mistério dos teus olhos
luminosos, radioativos
que em momentos, feito sonhos
ora ativos, ora passivos,
incendeiam meus arroubos.
É tal a luminescência,
mesmo vista em relancina
do fundo da inconsciência
que resplandece a menina
repartida em oferendas,
confetes, risos e serpentinas
dançando no olhar da prenda.
Esmeraldas, esperanças
de pura jaça pagã
teus olhos é verde pampa
é manhã dentre manhãs.

Orçamento

Valho o que penso
e no que acredito
e tanto valho
e tanto insisto
que acredito.
Embora o dito,
feio ou bonito,
sempre explicita
minha conquista
no que acredito.
Valendo assim
sou infinito,
não tenho fim,
não tenho início,
valho o que penso
e o que acredito.

Essas Crianças

Essas crianças
que vejo nas esquinas
pedintes de propinas,
na miséria total,
São bombas-relógio,
petardos de ódio
da hecatombe social.
De pouco adianta
meu olhar piedade
se o que me espanca
não move uma palha
e esta realidade
de meus braços cruzados
na anti-roda espalha
espaços para os pecados.

Anjos, espelhos
de refletidos insultos
que açoitam os adultos
escancarando seus erros.
Coquetéis de infortúnios
à margem das avenidas
floresceis no não à vida,
sem sonhos e sem rumos...
Narcisos inversos
da esperança, humanidade
o amanhã não traz saudade
nem luz ao teu universo
e este hoje-fome, triste,
do todo a maior trapaça
criança faz tua desgraça
na escuridão que persiste.

Cai o pano

Foram dias, foram anos...
Cai o pano... cai o pano.
Vergou a roda do tempo,
quebrou a última légua,
bateu de quina no vento
e na corredeira sem trégua
os moinhos de fantasia
que foram encantados, um dia
- confetes de nostalgia -
consigo foram levados.

Mas o passado não passa,
boleadeira que não gasta
a lo largo e/ou pelo avesso
torna o fim p'rá ser começo
pelo desfecho da ida
restando, enfim, no presente
transferindo nas despedidas
às ilusões dos ausentes...

E a existência é fumaça
espaço que só se abraça
no marujar deste agora
que desde sempre vai embora...
Foram dias, foram anos,
Cai o pano... cai o pano!

Jogo de Cintura

Certo! Estamos encalacrados,
a sorte nos foi madrasta
dentre todos da comparsa
somos os bodes expiatórios
e todo esse falatório
que corre pela cidade
- intriga de despeitados -
são lorotas, não são verdades!

O vento forte derruba
as árvores, as mais frondosas,
mas o arbusto que se verga
tem mais jogo de cintura...
Os remansos são traiçoeiros
e nem nos adianta o retovo
hoje, na boca do povo
bem no meio do formigueiro...

Mas, gaudérios e caborteiros,
sabemos que assim é a história,
O POVO NÃO TEM MEMÓRIA
nisso apostamos o jogo
e amanhã, olha nós de novo,
rente que nem pão quente,
engambelando, na manha,
nas promessa de campanha.

E o que a gente proponha
sem pejo ou  sem vergonha  
explode em corrupção,
e os bens e os contrapesos
são isentos de devolução
como o chefe do esquemão
(nem julgado) não vai preso.

Aprendizado

Olho, sinto, copio, refaço,
o começo não é fácil.
Vacilo, oscilo, duvido:
as pernas não aguentarão!
E vou ao chão... me arrasto...

Olho, sinto, copio, refaço
o começo não é fácil...
Eis que, inseguro
dou o primeiro passo
e vou ao chão, outra vez...
Vejam a seqüência de passos,
ainda agora não é fácil.

Desafios de todos os instantes,
vitórias, derrotas,
- pequenas e grandes -
cair, arrastar, levantar,
ainda agora, não é fácil...

Encruzilhadas, perspectivas,
tentar de novo, dar novos passos
ainda que a carne viva, ferida,
reassegure que não é fácil...

Fácil é a vida, milagre e estrada,
graça gerada do infinito,
vivê-la no corpo, vivê-la na alma,
voar é possível, tentar é preciso...

Além do além

Ah, desnudar-te como agora
e te acariciar fundo;
sentir teu jovem corpo
resfolegar pelo meu,
viscoso de quero tudo
e quero mais... e quero!

Tua boca quente
inundada de lascívia
percorrê-lo, repousada
no veludo de tua língua...

Sentir teu corpo, vibrante
catalizador deste prazer,
enlaçar-me na escaldante rosa
de todos os sentidos...

Nascer adulto desta morte
prematura, no feérico repouso
dos teus lindos seios...

Ah, desnudar-te como agora
e chegar no âmago da alma,
sendo nela o que corpo pede,
gerando o infindável gozo
que o infinito esconde...

Sem premeditação

Nada foi premeditado.
Imperceptíveis, nos aproximamos
além da conta. Sem nos darmos conta...

E o apêlo estava em teu corpo...
e no meu.

Como em um bailado
a inaudível música
nos impôs o quero

Tudo a ser vivido...

E tu, sem véus, desnudaste
o sim e o agora!
Sugando de mim o sumo,
colhestes o que querias...

E mais quiseste
ofertando-te inteira
e novamente e novamente...

Nada foi premeditado.

O fim, se vier,
também não o será!

Seixos

Solitário, passeio em meio a desordem do mundo
varando madrugadas, bebendo ilusões e infortúnios
no cálice dos aflitos, dos que têm pressa e fome
mas não se entregam, nem o medo os consome.

O nectar desse amanhã que ainda não existe
impregna o ar, umedece minha pele e goteja
formando alva e tangível a geada do crer
que a febre da decepção se encarrega de dissolver.

Doce andar por sobre a prata do luar cheio
que brinca de criar sombras fugidias que espantam
nada se compara, nem abala, esta silcenciosa ida
da dor marcada pela resignação do curar ferida.

Não há que aquietar-se ante dúvidas ou consolos
é preciso encontrar em meio a fadiga e o denodo,
o hiato do tempo certo, entre a  espera a realização,
pois o hoje e o adiante, trarão o ontem, desbotado,
na retrospectiva ineficaz do inventariar passado.

E o mundo regorgita de mistérios, nuances de paixão
enquanto varo a própria madrugada no improviso
de me sentir inteiro, quem sabe pouco além de vivo
para ofertar ao exterioro o sol que penso ter e tenho
como todo mundo e minha insensatez esconde.

Andar e brincar com a vida, mãos e pés esfolados
pelos talvez dos deserdados e mal traçados rumos
sobre úmidos e escorregadios seixos transitados
em busca daquelas manhãs que sequer consumo
pelas franjas do meu agora que não vem nem passa.

Sinuosos e repetidos cíclos que a morte espanca
com o inevitável epilogo desta vida que a graça
de um Ser Divino nos brindou e por fim estanca
na desordem do mundo material onde tudo perece
na infinita e presente surpresa que nos desvanece.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Atualidade (Era uma vez, na internet)

Transitar o impossível pelo cotidiano
esquecido do óbvio antes presente
sem receios ou medos perdidos anos
volatizando tédios enganando ausentes...

Voar na máquina eletrônica abrindo portas,
apertando botões, mecanizando o etéreo
matando apelos surdos em berros mudos
na jaula dourada civilizadamente imposta.


Tudo ao alcance do tudo na tecla, no tubo
nem mais talvez, não sei, ou folhas mortas
e dois e dois são mais que quatro e existe
onde o universo (des)encontra seu limite.

Essa vida

Ah, essa vida maluca
me espia do fundo de um cristal
sem timbre ou alvura,
de um diamante sem jaça,
de um ouro sem gema,
de uma pedra qualquer
coberta de limo...

Ah, essa vida maluca
me joga na luta
e disputa meus jogos,
aposta em si própria,
aposta na morte,
aposta comigo
jogando no jogo
de minha ilusão.

Corpo estranho

Não pretendo chorar e as lágrimas surgem,
não quero morrer mas a vida se extingüe;
quero ser e viver e sorrir e ter,
não quero o não quero mas o tanto é tão pouco
e o abrigar estradas absorveu meu limite.

Só e arrastado, somo momentos e a dor permanece
e o nada avança à boca da noite.
Driblo o repúdio e o escárnio do agora
com o sonho antigo de um amanhã esperado
jamais vindo, jamais passado...
E assim cresço, assim passo, assim morro
com um sorriso nos lábios
e uma lágrima seca no canto dos olhos
como um corpo estranho, dilacerado,
entregue, caído no passeio público.

Feliz Ocorrência (Sem culpas)

O que importa o antes e o depois
se é o agora que nos acena sem receio.
E o amor, impune e teimosamente,
brilha dentro de nós, explodindo
sem saber-se proibido, sem saber-se,
existindo e derrubando barreiras
inclusive as que sensatamente levantamos.

Como prever este agora? Aconteceu!
Repartamos as graças, carícias e gestos
deste momento furtado ao infinito,
sem culpas, exceto a de nos sentirmos vivos.

Novamente

E assim quando chegar a madrugada
direi mais nada, calarei tudo
e mudo esperarei que se faça o dia.

E quando a chama da estrada, assim,
refazer as pernas do amanhã em mim,
não sem mistérios estará o dia.

E a noite antiga que passei contigo
voltará de novo a se fazer abrigo
dos meus mais belos sonhos e alegria.

A resposta sou eu!

Sou fatalista por definição
e otimista por natureza.
Creio na morte como o inevitável
dia, hora e forma, marcados
desde a eternidade, que não comando,
da qual sou mero instrumento.
Tenho poucos sentidos, portanto,
e não consigo reter o infinito
nem o entendimento pleno de meu ego
que, vinculado àquele, causa ou conseqüência,
tem uma missão sem conhecer a essência.
Daí, ter-me tornado filósofo
e buscado ao longo dos anos
resposta ao porquê que solidificaria
e transformaria minha incoerência
na coerência feliz dos eleitos,
dono de todos os universos.
Mas enquanto busquei respostas
recolhi novas perguntas, formei falácias
na vã tentativa de ser e interpretar
o poder, a vida e a fome.
Com isso me sobrepujo, sobreponho,
corrôo, ascendo, cresço, convenço, corrompo
e exerço sobre os iguais, ora desiguais,
os grilhões que a passividade da maioria
se encarregou de justificar e aceitar.
Conduzo-me assim, em busca das respostas
de todos e minhas antes de todos
e não desperdício idéias ou ideais,
maximamente desperdiço corpos e oponentes
que exigem individualidade no coletivo.
Não temo a morte, temo, isto sim,
que sua presença não me traga respostas
e a ambição de viver mais e mais
e, de qualquer maneira, viver,
faça-me cego e desaponte meu ego
retirando-me a derradeira chance
de conhecer-me e ser dono do meu todo.
No fundo e por mais egoísta que seja
quero deter a vida como na infância
de minha trajetória, simples, sutil,
sem pretensões maiores que ver o dia,
sentir o sol, amar e ser amado,
descobrir a via láctea de um sorriso
e o infinito mistério de uma noite;
olhar a vida como oferta imerecida
pela minha carne, inércia e virtude,
vasculhar-me e ter tempo para mim,
homem de todos os tempos que,
perdido na voragem do desconhecido
passeia a tempestade de seu ego
na irracionalidade de sua dor.

A vida e a morte, o bem e o mal,
tantas perguntas sem respostas...
E se os porquês que busco fora,
onde o gelo não derrete e queima
e o fogo não arde e nem gera calor,
estiverem dentro do meu próprio eu?
No homem que não percebeu ou sentiu
em séculos de história e erros repetidos
que inexistem incógnitas superiores
à maior incógnita que continua sendo...

Todas as respostas e todos os milagres
estão no universo chamado ser humano.

Conta-Gotas

Em gotas anuais
pelo conta-gotas do tempo
conto meus passos.
Refaço minha trajetória
e respiro meus gestos
bebendo a vida
como pura água, cotidianamente
na fonte do infinito,
dela fazendo imagens,
minha verdade e extensão.
E sigo o caminho dos eleitos
para continuar a caminhada
sem mesmo saber os porquês
que me assaltam e agitam
ou quando e onde o fim se fará.
Embora isso, sigo tranqüilo
rumo ao futuro, até a gota final.
E pensar que tudo iniciou
no acaso de um tempo
e a vida se fez em microns
e a morte virá por fim ao milagre...

... Ou será tudo eterno reinício?...

Sobre mim

Sobre mim os amigos dirão música,
serão generosos em demasia.
Dirão o que quero ouvir!
Eu direi o que minha vaidade deixar,
parcos defeitos, outras inverdades
que acreditarei verdadeiras.
Os inimigos dirão coisas que não sou,
exagerarão meus erros e faltas
extrapolondo negativamente conceitos e danos.

Como descobrir meu verdadeiro eu
aos olhos isentos da realidade?
Neste coquetel de extremos e meio-termos
embriago-me com a vida e sigo,
passos vacilantes, rumo indefinido,
desconhecido e desconhecendo-me,
sendo conseqüência e causa,
outro e eu mesmo simultaneamente,
real e artificializado carregando em mim

Um eu que até de mim escapa!

Singular

Sou feita de pó e espinho
de ritmo descompassado,
de olhar perdido, recheada
de riso morto e amargo.
Sou o resto, sou passado
em presente sem caminhos,
sou refúgio e insegurança,
venho de meu egoísmo
recriando mil abismos
nas agruras do futuro.

Transparente, misteriosa,
herança de amor vivido,
por vezes sou cortejada
sem ser dor e nem castigo,
outras, sou desprezada
por trazer a dor comigo.
Fogo brando ou labaredas,
realidade ou ilusão,
carícias ou bofetadas,
eu me chamo solidão.

Mensagem (de pai para filho)


Mensagem de um pai para um(a) filho(a) amado(a):
                                                                                 
                   Filho(a):

Em algum lugar li que se deve proceder como a água, que contorna os obstáculos, superando-os sempre. Desejo que assim procedas em tuas atividades profissionais, sociais e, mais importante, afetivas. Que tua relação familiar não se deixe contaminar pelos pequenos obstáculos cotidianos que, se não contornados, podem finalmente ocasionar fortes danos ao relacionamento; construa lar em tua casa (o que todos anseiam e poucos conseguem). A paz, a compreensão e o amor são luzes permanentes dos justos de coração e desejo sempre te acompanhem. Perdoe os que erram, pois são humanos e, como tu, sempre encontrarão abrigo em suas próprias razões, cegueiras e medos. Despreze mazelas, “fofocas” e maledicências, deixando fluir a bondade que te reveste e, bem assim, haverás de vivenciar e aproveitar o dia, todos os dias, de tua existência. Sê misericordioso(a) com os fracos, forte entre os fortes, pleno(a) de amor, graça e perdão junto aos que te são caros; não julgues nem mesmo quando, aparentemente, tenhas todos os dados para fazê-lo, lembrando-se que, adiante, sempre se colhe o que se planta. Conte sempre comigo que o(a) amo mais do que a mim mesmo. Sejas Feliz, muito Feliz!

Nômades

Até aqui, somamos desencontros
sob o manto da dispersão.
Em nós, reticências e metáforas,
mistérios, nuances dissipadas
da verdadeira força que nos une.
Nosso pontos de convergência
formam-se em perpendiculares
(cruzamentos que duram momentos
carregados de uma quase eternidade
em não assumir nossos sonhos).
Repetimo-nos no ritual do ir e vir
como nômades de nós mesmos,
com o desejo sedentário de ficar
repartido em circunstâncias e termos,
sendo distância e sonhos que preparam
a vinda de todos os encontros.
Que um deles seja, enfim, definitivo
final dos hiatos formados das ausências,
início de caminhos em eterna presença
do amor vivido além de suas essências.

Bem Vinda

Vens toda carne transitar meus braço
no espaço morno do cair da tarde
e feita nuvem, ao chegar a aurora
em rasgo insone, ao se ir embora
deixa a presença deste som de vida.

Vens toda mulher, caminho que abraço
dançar volátil na chama que arde
feita luz no chegar como a aurora
de uma noite insone que se vai embora,
de uma vida que voltou a ser vida...

O passeio

Ia Maria
Uruguaiana
a Porto Alegre
vendendo vida
e ria tanto
e como ria
a Porto Alegre.
Era o passeio,
carro do ano,
tão almejado,
anos inteiros,
a Porto Alegre.
Mas, de repente
bate em Maria
nos olhos turvos
a curva em frente
e o riso cessa
cessa o instante
e Porto Alegre
fica distante.
Perdeu o Porto
grande alegria
com a Maria
que chegaria.
Cheia de espera
toda Maria
que era linda,
de Porto Alegre
ficou na estrada,
nem vinte anos,
de Porto Alegre
cheia de espera.
Em geada fria
a Uruguaiana
retornaria
e o passeio
tão esperado
ficou Maria
Não consumado.
Curva em Maria
tanta existia
à curva nada
sobrou à estrada...

Indo

Nem mesmo é antigo esse repetir-se
em franjas de impossível ou inviável.
Vai-se indo e pronto... Vai-se!

No revestir-se, travestir-se e mais
reviravoltas do tanto realizável
cai-se de equilíbrio.. cai-se!

Nem só a madrugada é resultante
do repartir-se dessa noite crua
que se constrói a partir do dia.

Lá, todas as trevas, relutantes
absorvem luzes, estrelas frias
nos infindáveis quartos de outras luas.

E se repassam os ecos percorridos
até o instante do eterno outrora,
no ir e vir do misterioso agora...

Enquanto me amas

Enquanto me amas
eu sou a essência
e a substância
do sonho.

Enquanto me amas
a saudade fica de fora
e o vazio se ausenta.

Só tu existes. Só tu és mundo.
Eu vivo o doce de teu beijo
e o linguajar sublime
do teu corpo.

Enquanto me amas
eu sou o amor
e nós, o infinito!

terça-feira, 19 de junho de 2012

MILAGRES

(Um poema guardado por minha amiga Ione Kusnecoff, escrito em 30/12/1988):

Caminha por sobre os perigos
Seguindo as luzes do amor,
Em volta estão os amigos
Adiante aquilo o que for.
Destranca dos lábios o sorriso
A vida é milagre, é amor,
Apreenda de seus improvisos
Ou o sumo daquilo que for.
E siga a estrada do sempre,
Limites não há para dois,
Acenda o infinito no ventre
Do antes, durante e depois.
É o sonho que acende a manhã
Do hoje, do sim, do que for,
Creia, há sempre uma canaã
Basta viver para o amor.
Mantenha os olhos abertos
Pois são tantas as armadilhas
Que o mal, o fácil, põem perto
Nas encruzilhadas da trilha.
Levanta após cada queda,
A dor também é bendita,
É pedra que junto a outras pedras
Forma a escultura da vida.
E quando não sobrar caminhos
E o sol esconder-se por fim
Lembra ainda terá passarinhos,
Lírios no campo e a mim.
Caminha por sobre as guerras,
Nas mãos a oliveira da paz
Expulsa o terror que se encerra
No ódio doentio que ela traz.
E quando morrer de cansaço,
De dor, de não ser assim,
Venha colher dos meus braços
Tudo o que reste de mim.
Caminha no sonho dos livres
A vida é milagre, é amor,
Aprenda ela é o que se vive
Antes, durante e o que for...

domingo, 17 de junho de 2012

AMOR DE ADOLESCENTE


Nuvenzinha travessa que meu sonho leve
buscou de longe, de outro amanhecer,
alva e gelada quanto um floco de neve
bela e distante, te tenho a não ter.

És carícia perdida da brisa do mar
tens n'alma oculto dos olhos o perdão
e teu lindo corpo pela vida a passar
dá ao amor materialista nova dimensão.

És, isto penso, a própria austeridade
e nos ritos pagãos de minha puberdade
muito pouco eu sei de real ou de dor.

Contudo, em minha particular realidade
nós somos iguais em tudo, na idade
e ainda que não ossa, te chamo: amor.

sábado, 16 de junho de 2012

PASSAGEIRO


Um rio desgarrado de seu leito
Inundou o meu não sei na oração que não rezei
Em meu peito o turbilhão das perdas e ganhos
Impulsionou as águas da insensatez,
Doce veneno que usei através de estranhos
Sons perdidos no talvez que virá do quem sabe...
E se me dei mais do que devia no durante
Ao partejar de arrebóis antes que o dia acabe
Desaguado no nunca mais desse nada adiante
As noites parirão outros sóis, outras vertentes
baixando águas, secando barros e mais
trazendo gente e gente à deriva do meu cais...

Tantas sombras, desenganos nestes rumos que venci
Pouca luz, o que me assombra é ter chegado até aqui
E o sol em meio à tarde, às vezes ao amanhecer,
Mágico, ilusionista, iluminando o sem tempo
A destempo faz-se pálido, sem jamais permanecer
E afugenta só por instantes as sombras deste silêncio,
Deixando-me só com a noite, herança desse sofrer
Sem luar, com a indiferença do nada com desdém...
E a claridade já era, não há nós, há medo e ninguém
Na espera de um novo amanhecer que nunca vem,..
Geme o cobertor do sempre sem distância percorrida
N'um nunca chamado morte, n'um breve chamado vida...