sexta-feira, 27 de julho de 2018

SEM NOÇÃO


Sou um pouco mais do que quem sabe
Num muito aquém de uma proposta,
Mesa posta, burburinho de respostas
Num quase muito do que não se acabe.
Quase sozinho percorro meus descaminhos
Entre abismos de um quase sido e ido
Um surdo-mudo de solfejos e espinhos
Nada sei do tudo e muito já esquecido

Passeio em meio à harmonia e à algazarra
Deslizando por entre esquivas de quimeras
No compasso das formigas, canto cigarras
Destas retendo a maviosidade das esperas.
Tudo passa, como também passará meu passo
Enquanto arrasto, em mim, meus desatinos
Somados à cegueira de não me saber espaço
Dos amanhã e hoje do meu próprio destino.

GRATUITOS


Deixes fluir os problemas represados,
largues o verbo hemorrágico inconsciente
neste agora repetido e transformado
em presente sem futuro, novamente!

O que se tem além do torpor das coisas gastas
em eflúvios inconstantes, vis delírios,
senão fogo e cinza, brumas e fumaças
que escondem o céu, os mares e os rios?

E o sol, muito embora tudo isso,
continua em seu brilho, com seu viço
distribuindo calor e graça sem artifício
ou exigências para além de teu sorriso!

PEQUENO ENSAIO


Deixe as coisas ruins seguirem seu norte; esquece-as!
Às coisas boas, abriga-as e agradece por terem acontecido!

Os seres humanos são iguais em suas desigualdades! a afirmação
não é um paradoxo eis que todos, absolutamente todos os seres
humanos têm virtudes, têm defeitos não necessariamente coincidentes;
o defeito de um pode não ser o do outro que, por sua vez, pode ter
virtude que aquele não tem e vice-versa.

O ser humano é o único animal que, diz-se, racional; também possui o
polegar o que colabora para aumentar a vantagem com relação aos demais.
Não é só isso, porém, também o ser humano é o único animal que sorri,
que tem consciência da morte e, quem sabe por isso, é melancólico.

Apesar da consciência de sua finitude, o ser humano quase sempre está
preocupado com o amanhã, o futuro, ainda que ambos não existam,
esquecendo-se de viver o hoje, o agora, em sua plenitude e extensão.

Ao contrário, os demais animais, ditos irracionais, vivem o hoje,
o agora, sem preocupações do adiante e nisso, creio, se bastam!
Por isso devem ser mais felizes...

Conclusão, a ignorância nem sempre é nefasta...

quinta-feira, 26 de julho de 2018

MOMENTOS


Roçar de pés descalços sobre a relva
N’um lúdico momento, sem resguardo
Fugindo, corpo e alma, desta selva
De pedras, pesadelos, em que me guardo.

Seguir o rumo, solto e sem alarde,
De sonhos retidos por areias gastas
E realizá-los, sem importar-se, tarde
Ou, como antes, que por ser já basta.

E repercutir no arco-íris nosso universo
Do amor cantado ao infinito, ao reverso
De tanto amor que nos encanta a vida.

E assim, perenizados os atos, pensamentos
Na glória e êxtase dos nossos momentos,
Desatrelando os sóis das ilusões retidas!

GINETE


Gineteio meus alados sonhos varando cancelas,
Corcéis em manadas dispersas sem rédeas ou celas
Galopeiam em prosa e verso, rumos desabridos
Na Pampa, Mulher e Mãe, de onde fui parido.
Coxilhas de quimeras lambidas pelo Minuano
Lembram milongas na placidez e ternura
E mais que paisagens bem além da escultura
Extirpam às dores e desencantos dos enganos.
Gineteio assim por sobre todas as procelas
Nesse oceano gelado chamado indiferença
Que se consome em si próprio pela descrença
Sobrevivendo enfim, apesar das nossas mazelas!

OS OUTROS DE MIM


Como me pesam os tantos outros de mim mesmo
Porém mais leves são do que os outros tantos
Que já fui sem ser, tive sem ter, pleno do espanto
De haver desperdiçado tanto tempo a esmo...
Pouco importa entretanto nada disso reflui
Em teses complicadas, complexas do que fui,
Em amanhãs que tenho certeza outros de mim
Virão trazendo dissonantes ruídos de um agora
Que passará por eles como passara outrora!
... E serão quase sempre recomeços sem fim ...

SEM RETORNO


Pululam manhãs por sobre teus ontens insondáveis
Regras de panos que o tempo rasga e dilacera
Na confusão desses tons cinzas, inumeráveis,
Os dias passam mais fera por entre as feras.
O que restou de mim, mais trapo ou vagalume
E o que se perdeu em ti, contraponto e castigo,
Fazem orgia, em nuance na vilania dos ciúmes,
Fazem as mortes, que nos ombros vão comigo.

Tudo se foi, sem volta, de nada valem quimeras
Desses sonhos puros, vis metais irrealizáveis,
Que sucumbiram intoxicados por tantas esperas.
E gira o mundo, a vida não é sequer desvelo
Agitados abismos se acrescem às irresponsáveis
Cinzas do ontem, restos de adeus, ao desespero
Desse amanhã que não virá por condenáveis
Nunca mais, do que passou sem nunca sê-lo.

COISAS DO FUTEBOL


Jogou bem mas não 'tô' satisfeito
Meu time perdeu, não teve jeito
Foi gol com a mão sem artifícios
O juiz não viu, que juiz ladrão! ...
Teve várias chances e desperdícios
Mas não fez gol, aí meu suplício
‘Inda tomou aquele gol de mão
Que o juiz não viu, juiz ladrão! ...
Mas não adianta é livre o choro,
Em coro outra torcida canta vitória
E será registrado para a história
Apenas o resultado, sem anotação
Do gol de mão, do juiz ladrão...
Só que o outro time foi campeão!
Deixa p’rá lá cabeça inchada, cabeça
Amanhã passa, o inchaço, a desilusão
O gol sofrido, gol ilegal, sem discussão
Quando perde não há quem não padeça
Dói muito o gol de mão, o juiz ladrão! ...
‘Inda assim, tudo e muito mais, esqueça...

TEMPO ABELHA


Era doida, assim p’rá todos parecia,
Embalando berço-carrinho, sem bebê
Cantarolando cantigas que repetia
Na aparência sem razões ou porquês.

A ouvi cantando assim naquela esquina
Versos em ritmos aleatórios, desconexos
Parecendo forjados em rimas meninas
Plêiade de côncavos sem os convexos:

“Asas que me faltam p’rá voar,
Sonhos que se acabam sem viver
Tudo o quanto mais podia estar,
Tudo o quanto mais podia ser!
P’rá onde foi o riso sem que dê
O mel que tempo abelha guardou
Hoje, mais que perfeito foi você,
Além do que a realidade sonhou”

Ali a escutei, por várias horas,
Tentando interpretar o que dizia
Nos versos explodidos desse agora
Além da noite e muito aquém do dia.

Talvez não fosse assim tão doida, não,
Repetindo em si a realidade que passou
Na qual ficara presa, perdendo a razão
No “... mel que tempo abelha guardou...”.

DESIRÉE


Desirée, Desirée
Dorme, dorme ao som de teu nome
Soa bom, mais que bom,
Ressoando em ouvidos insones...

De uma história real o teu nome surgiu
Era uma guriazinha, como hoje é você,
Que adorava, amava um gurizão
Napoleão, Desirée, Napoleão e Desirée...

Adultos, ele virou imperador
Desirée foi ser rainha de um outro País
Napoleão imperador, imperador sem seu amor
Desirée, Desirée, seu amor, rainha infeliz...

Desirée, minha Gatinha já é tarde demais
Princezinha dorme o sono do passo marcado
Por carinho, Desirée dentre dengos e ais,
P'rá você, sou apenas “Papai”!

MEDIDAS



Um algarismo caiu para zero
E se perdeu nesse universo,
Faço não faço, quero não quero,
Quanta certeza, quanto reverso.
A outro porém, bastou a unidade
Nem menos claro, nem menos escuro
Mas na torpeza da realidade
Deixou o sonho para o futuro.
A chuvarada de grossos pingos
No solo sedento em que caiu
Pareceu rala em seus respingos
E por entre frestas na terra sumiu.
Minhas lágrimas, também foram assim,
Saindo d’alma deixaram marcas
Na correnteza, correndo em mim,
Levando à pique ilusões e farsas.
Zero ou unidade, pouco importa
Continuamos mutantes e atentos
Fechando, abrindo janelas ou portas
Sem saber sequer medir momentos.

POEMA POBRE


Sem rima, segue a vida
Desde o início o pranto,
O riso, a despedida!
Estes tempos de senzala ingente
Marcam recantos, cantos e preces
No escuro que apronta labirintos
De vaidades que nos mentem
Nobres...
E tudo passa a ser o que se esquece
E tudo passa a ser o que pressinto
Pobre...
Como o sorriso que fenece,
No homem
O embuste prevalece
Em quem é forte e mais permanece,
A fome!
São duros os embates do eu sozinho
Neste singular, sem plural, descaminho,
De agruras.
Não há sol, nem socorro
Por isso morres como eu morro
Em amarguras.
Além, dobram sinos pelo que somos
Poema quebrado, pobre, desidratado
De amor que sequer e nunca fomos!

CONDIÇÃO HUMANA


Luz, luar, brinquedo, rua,
continua a prece nesta noite tenra
e lá se vão arestas, frestas, prendas,
quedando impunes ao raptar ternuras.
Ah, vaga-lumes de cores difusas
que enternecem escuros desfilando nuas
nas cordilheiras puras de esvoaçantes luas.
Raios perdidos, mal nascidos, têm,
dos sentidos cálidos deste nunca vêm,
aos poucos, a noite que aguça mistérios
enquanto plácida avança por invernos
resfriando os corpos, céus e infernos
em gélido abraço de cansaços pálidos...
No horizonte, buscando espaços,
aponta à barra tênue, uma luz confusa,
que, n’um crescendo partejar de musas,
rabisca traços da repetida festa do dia.
Assim é a vida, assim o é, repetia
o velho mestre ao discípulo atento,
sem preconizar ou refletir lamentos;
são vários ciclos dentro de um, apenas,
do mel das graças ao sal das penas
há que vivê-los, noites, dias e alvoradas,
pois todos passos dessa caminhada,
ao rumo frágil, que ao longe somem
deixam pegadas, formam universos,
verbos e versos que traduzem o homem...

NENHUM


NENHUM!
Eu, um nenhum, se algum dia conseguir ser um,
De nós eu quero ser,
Apenas um de nós!
Tão somente mais um, de nós...
E jamais seria só!

PAMPA

A PAMPA
No dicionário: “Pampa, adj. 2 gen. (bras.) Diz-se do cavalo cuja pelagem em duas cores distintas, ou do animal de cara ou focinho branco; s. m.* (bras) extensa planície**, rica de pastagem e coberta de vegetação rasteira, na região meridional da América do Sul (us. Também no feminino***); (zool.) espécie de gato do Paraguai; (bras.) cavalo Pampa.

*A abreviatura s.m. dá a indicação, de que Pampa seria um substantivo masculino;
** Todavia, a definição que segue diz tratar-se de “...extensa planície...” sendo pois totalmente contrária a definição trazida pela abreviatura;
*** Para amenizar ou corrigir o equívoco inicial, adiante informa-se que o substantivo também é usado no feminino.
Em verdade, enquanto trata e define a extensa região de planície que inicia na Patagonia, Argentina e encontra seu termo aos pés de Santa Maria no Rio Grande do Sul, Brasil, A PAMPA É UM SUBSTANTIVO FEMININO, PORQUE ELA É FEMININA SENDO A TERRA, A MÃE, A MULHER, A AMANTE, DE TODOS AQUELES QUE SÃO PRIVILEGIADOS EM TER NELA SUAS ORIGENS, FONTES E RAÍZES.

PAMPA (Grades)

Carrego-te em mim fazendo-te baluarte
nos descaminhos desse andar andejo,
ao reencontro ou, longe, sem deixar-te,
n'alma, pele e coração te sinto e vejo.
Lamento por não mais poder
pela Pampa mãe, mulher, terra, correr
na minha Uruguaiana, do meu carinho,
menos pela idade que avança acelerada
à morte, ao esquecimento, ao nada,
nem por grades que dividem caminhos
materiais, ilusões travestidas em calma,
muito mais por àquelas feitas de espinhos
cravados em céus que aprisionam almas ...