terça-feira, 22 de março de 2022
MEUS "NUNCA MAIS"
Quanto mais velho fico, mais "nunca mais" tenho, /
restam poucos amigos de infância, de aulas tais, /
colégios, faculdade, trabalho, para além do cenho /
e o que sei desse restante é o mesmo "nunca mais" /
do durante, do depois e, certamente, do desenho /
da própria vida em seus rabiscos desiguais. ////
Enquanto esconderijos e curvas derrapantes /
teimam em brincar com meu próprio ceticismo, /
cinzentas nuvens teimam em brincar de céu /
que muito mais agora, muito mais que antes, /
desabam-se em gelo e neve no meu realismo, /
destruindo os últimos sonhos deixados ao léu. ////
E no baile da idade provecta, quase final verso, /
canções antigas tentam ressuscitar perdidos /
idos que egoísmo e erros deixaram na estrada /
mas outros "nunca mais" e bem mais perversos, /
açoitam às lembranças do que poderia ter sido /
como chicotes de "nunca mais" dizendo-me: És Nada!
sábado, 5 de março de 2022
UMA BRINCADEIRA DE ANJOS
No céu, anjos meninos e anjos meninas, //
sem medo ou culpa, em pueril traquina //
usando as asas nos pés, calçaram patins //
e foram dançar-patinar em nuvens de gelo. //
Realizando serelepes, moleques enfim, //
arco-íris e manobras de arrepiar cabelos. //
Divertiram-se tanto, sendo só sorrisos... //
// Enquanto isso, na terra caía granizo.
TRANSMUTAÇÃO
Olhei o sol através de uma gota d'água //
e ele se vestiu de sonhos, pétalas de flor, //
tornou-se mais belo pela gota d'água //
que, incrível, tão pequenina, incolor, //
mesmo assim o transmutou aos meus olhos.
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