segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
SEM HORIZONTES
Em meio ao nada, A arma dispara
Um quase nada Na cara
Espera Da mata,
Outra coisa, Reluz a cruz
Outra estrada, Carregada
Quimeras! Em ombros
Zumbido Do tudo ou nada,
No ouvido, Nos tombos,
Poeira no olhar Nas quebradas
Alarido das feras Da monotonia,
Na capoeira Nas sombras do dia
O trejeito O mesmo de sempre
A esmagar Perdido, ido,
No peito Parido
A carga Pelo mesmo ventre.
DESMORONAMENTO
O que posso querer mais
Se o trigo que me ofereces
Reverte em pão e em prece
O que podes querer tanto
Se nada falta em ti ou comigo
Exceto o amor que em nós falece
Esqueces se o que foi nosso passado
Não mais consegue lubrificar egos
Turvar visões destes pobres cegos
Do pouco que nos resta do inusitado
Inexistem sobras, mais nada enxergo
Além do paradoxo assim consumado
Então, se bem sabes que trigo e pão,
Além do abrigo e prece, ao coração
Fenece em inalcançável absurdo
Habita em nós um desvirtuado tudo
Nesse medo que nos torna mudos,
Presos à heresia dessa destruição...
Se o trigo que me ofereces
Reverte em pão e em prece
O que podes querer tanto
Se nada falta em ti ou comigo
Exceto o amor que em nós falece
Esqueces se o que foi nosso passado
Não mais consegue lubrificar egos
Turvar visões destes pobres cegos
Do pouco que nos resta do inusitado
Inexistem sobras, mais nada enxergo
Além do paradoxo assim consumado
Então, se bem sabes que trigo e pão,
Além do abrigo e prece, ao coração
Fenece em inalcançável absurdo
Habita em nós um desvirtuado tudo
Nesse medo que nos torna mudos,
Presos à heresia dessa destruição...
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
ANOTAÇÕES PARA UM VIVER MELHOR
Votos de Feliz Natal e Próspero 2015, com muita Paz, Saúde e Sucesso para todos os amigos e seus (e meus) familiares. A propósito, segue texto/ensaio que expressa meu desejo de que tudo dê certo, sempre, para todos:
“Filha, em algum lugar li que se deve proceder como a
água, que contorna os obstáculos, superando-os sempre. Desejo que
assim procedas em tuas atividades profissionais, sociais e, mais
importante, afetivas. Que tua relação familiar não se deixe
contaminar pelos pequenos obstáculos cotidianos que, se não
contornados, podem finalmente ocasionar fortes danos ao
relacionamento; construa lar em tua casa o que todos anseiam, poucos
conseguem. A paz, a compreensão e o amor são luzes permanentes dos
justos de coração e desejo, sempre te acompanhem. Perdoe os que
erram pois são humanos e como tu sempre encontrarão abrigo em suas
próprias razões, cegueiras e medos. Despreze mazelas, “fofocas”
e maledicências, deixando fluir a bondade que te reveste e, bem
assim, haverás de vivenciar e aproveitar o dia, todos os dias, de
tua existência. Sê misericordiosa com os fracos, forte entre os
fortes, plena de amor, graça e perdão junto aos que te são caros;
não julgues nem mesmo quando, aparentemente, tenhas todos os dados
para fazê-lo, lembrando-te que, adiante, sempre se colhe o que se
planta. Conte sempre comigo que a amo mais do que a mim mesmo. Seja
Feliz, muito Feliz!”(Itagiba José).
ANOTAÇÕES
PARA UM VIVER MELHOR
Itagiba José
Ninguém nasceu para sofrer! Cada um recebeu
gratuitamente o sopro de vida que nos mantém plenos na graça. Cada
ser vivo é um vencedor. Sem saber, participou de uma disputa
ferrenha, inimaginável, inumerável e a venceu! Por isso somos
vencedores! Todos!
A disputa, no caso do
ser humano, é aquela em que milhões de espermatozóides são
lançados no fundo de uma mulher e somente um, aquele que carrega em
si as características que definem o zigoto e o embrião, o que, à
final, resulta em uma pessoa, fecundado o óvulo.
Segundo apurado pela
ciência, dessa disputa participam, em média, cento e vinte milhões
de espermatozóides. E só um consegue chegar à frente dos demais,
vencendo outros cento e dezenove milhões e novecentos e noventa e
nove mil e novecentos e noventa e nove. Fosse qualquer outro
espermatozóide a fecundar o óvulo, ambos compondo com seus gens o
zigoto, o embrião que resultará no feto e finalmente na pessoa que
és, o milagre e graça da vida se faria e resultaria em qualquer
outra pessoa, menos tu.
Nenhuma vitória, ou
quem sabe, quase nenhuma, supera esta. A vida quase ou totalmente de
graça. E nem sabíamos que participávamos disso, mas vencemos e
estamos aqui. Este é o primeiro dentre tantos outros milagres da
vida que temos e que pululam cotidiana e rotineiramente em nós, no
nosso ser, como um todo, processando-se uma quantidade enorme de
fenômenos que não dominamos e muitas vezes nem sabemos existentes,
mas que mantém o sopro de vida que recebemos e devemos cultivar. Um
exemplo, ninguém pensa quando respira, é automático. Tivéssemos
que pensar para respirar certamente muitos morreriam de distração...
Por isso o
ser humano nasce para ser feliz. A felicidade está nele que muitas
vezes se equivoca e a busca fora de si. Cada pessoa é um universo e
todos, paradoxalmente, são iguais em suas desigualdades. Em algum
ponto, “A” é melhor ou pior que “B” que, por sua vez, em
outro será melhor ou pior que “A” e assim, sucessivamente,
ocorre com todos... Reconhecer tanto é um dos caminhos para alcançar
a harmonia interior que logo adiante resulta na adequação do “eu”
com o “nós”, busca que todos devem realizar, afirmando-se como
ser humano útil, iluminado. Muitos se confundem e, ao contrário de
projetar à estrada a luz que detém, mostrando o caminho, preferem
focá-la nos olhos dos outros, cegando-os, esquecidos ou desprezando
o milenar aforismo expresso pelo milenar Confúcio: “Aquele
que sabe e sabe que sabe é um sábio, siga-o. Aquele que não sabe e
sabe que não sabe é um humilde, ajuda-o. Aquele que sabe e não
sabe que sabe está dormindo, acorda-o. Aquele que não sabe e pensa
que sabe é um idiota, afasto-o.”.
Uma
pessoa feliz, no mínimo, é um problema a menos neste mundo
conturbado, por nossa própria culpa, em que vivemos. Uma pessoa
feliz não espera que outros façam por ela, ao contrário, busca
fazer pelos outros.
Uma pessoa feliz
aprende que o mesmo esforço, negativo, que traz a inveja em seu
bojo, pode e deve ser transformado, positivamente, em admiração e
aplauso. Uma pessoa feliz, em si se basta plena de amor e
fraternidade e logo descobre que tais sentimentos somente se realizam
e se multiplicam infinitamente, em todo seu esplendor e eficácia,
quando ofertados aos outros. Guardados, mínguam, fenecem; ofertados
sem limites, vicejam e se reproduzem em quantidade e velocidade
ilimitadas...
Todavia,
não esqueçamos nunca que para ser feliz é imprescindível estar
vivo e em paz consigo mesmo. Viver o agora é solução mais do que
adequada às agruras e desconfortos que criamos. Há muita luz e
sabedoria no aforismo latino, “carpen
diem” (aproveitem o dia), necessário
que saibamos a profundidade e essência dessa diretriz. O poema que
segue, salienta o quanto de luz e sabedoria está contido na vivência
plena desse “agora”; simples e objetivo, deixa claro que o amanhã
não existe neste hoje em que celeremente passamos (diz-se “passamos”
porquanto o tempo é imutável, inumerável, não passa, nós é que
nele passamos; por isso, também nos equivocamos quando dizemos “não
temos tempo...” pois não se pode ter menos ou mais daquilo que não
temos, porque é o tempo que nos tem, marca e faz crescer como seres
de luz ou em lastimável escuridão, a opção é nossa, consagra,
desdobra e enlaça o tudo no nada e vice-versa, indo à frente, sem
retorno, a caminho do sempre...). Eis o poema:
AGORA
O dia foi destinado para ser vivido. Ativo.
A noite, para o descanso. Brando.
Do destino virá a morte, sem aviso
De quando e onde se fará o encanto.
E o descanso, dizem, eterno será (?).
Dia ou noite não importa o fim ocorrerá!
Vive todos os momentos, noites, dias
Intensamente, sem queixume, satisfeito,
Sem amargura, ciúmes ou agonia,
Neste mistério, vida, graça e fulgor
Que o agora te oferece e insiste,
Desabrochando o amor de que és feito.
Eis que o amanhã é mera fantasia,
Poderá vir, mas ainda não existe... (Itagiba José)
Sendo fato e é que o
amanhã não existe, quando ele chega deve ser acolhido e saudado
como realmente se torna, um novo hoje, uma nova chance de nos
tornarmos melhor do que fomos naquele hoje que já é ontem e não
voltará jamais... Recebamos esse amanhã que chega e se torna hoje,
no mínimo, com o aplauso de quem se sabe vivo, pleno desse milagre
radiante e transitório chamado vida e ele não será vivido em vão,
como o fizemos com tantos outros “hojes” que já se tornaram
ontem, desperdiçados por nossa ignorância, vicissitudes e medos...
Saliente-se que o valor
de uma pessoa não está condicionado, para maior ou menor, pelo
quantum que materialmente detém, em contas bancárias, propriedades
ou finitos bens que possa possuir. Sob o prisma de olhos argentários
é certo que são importantes, pretensiosamente definitivos, todavia
a moeda do outro lado (e, para a grande maioria que acredita, existe
esse outro lado) não é o vil metal que nos sufoca e nos delega uma
reles importância que não tem, lá a moeda é outra, traduzida pelo
que realmente deixamos à posteridade, às ações desenvolvidas pela
alma e coração sem máculas, movidas apenas pelo simples prazer, o
maior deles creiam, de servir, de se dar sem pretender troca ou
vantagens. A dádiva provoca maior regozijo em quem a oferta do que
naquela pessoa que a recebe; isso, todos os que assim agiram, bem o
sabem e consagram.
Quando se encontrava em
desentendimentos que se tornaram graves pelo acúmulo de situações
comezinhas, diálogos interrompidos, palavras soltas que adquiriram
significado negativo ao serem retiradas do contexto que integravam e
outras situações que se enfrentadas, esclarecidas de imediato, não
geraria tanto desacerto e desunião a ponto de afastá-los, um pai,
com o amor que sempre acompanha e rejuvenesce todos, com compreensão
e meiguice que o passar em anos lhe trouxera, expressou, por escrito,
à sua amada filha a mensagem ora reproduzida:
O paternal conselho diz
bem do sentimento que o reveste; se existentes problemas, seja como a
água que contorna os obstáculos; mas, se não for possível e tiver
de enfrentá-los, o faça com lisura e honradez e, ainda que se saiba
uma pessoa derrotada de antemão por eles, ao fim e ao cabo terás
vencido porquanto terás descoberto em ti forças que sequer sabias
portar, necessárias a tua própria sobrevivência digna. Convença-te
que de todas as atitudes, a pior é a fuga, ela te humilha e
enfraquece, fazendo a pessoa esquecer que nada, exceto um Tudo
chamado Deus, é maior do que ela e que nada pode derrubar para
sempre, aquele que se sabe, age e se pensa justo. A mente é uma
fonte de fé e força, intransponível quando assentada na verdade e
(quase) tudo pode. Também importante é sonhar em vigília pois que
o sonho é, sem sombra de dúvidas, a ante-sala das realizações e o
refúgio de todos os infortúnios. E se estiveres no fundo do poço,
como muitas vezes nos traímos somente em assim pensar, saiba que a
saída está acima de tua cabeça e por mais fraco que estejas ou te
sintas, tuas mãos, pés, corpo e coragem são instrumentos que se
encontram em ti, ao teu alcance, basta quererdes acioná-los. Não
cometas o erro de esperar a ajuda de outros se tu mesmo antes não te
ajudares, eles, os outros, virão trazendo sua ajuda e conforto
quando virem que não te entregastes e bem assim mereces tanto.
Não se deixe molestar
por pequenas armadilhas que o cotidiano oferece. Pense grande, não
faça de si um detalhe, seja a essência; não tropece ou se deixe
contaminar por vírgulas, vá ao texto integral bebendo na fonte
perene da fraternidade, compreensão e clareza, o que realmente
importa.
Todos os dias, estamos
aprendendo! Por isso, não te julgues sábio e nem de perto te deixes
vestir pelo horripilante manto da soberba. Em qualquer circunstância
sejas tu mesmo, autêntico, sem subterfúgios e teu “eu” estará
no teu retrato e tua estrada repousará em tua mão. Não culpes o
destino pelo fruto colhido; antes, olhes o que plantaste, qual
semente regaste, lembrando que tu és terra e o teu suor é o sal e o
sumo de tuas realizações.
Quando
errares involuntária e culposamente, e errarás muitas vezes pelo
simples fato de que és humano, seja uma pessoa misericordiosa
consigo mesma, já bastam às pedras que outros jogarão, quem sabe
até com um ranço de ódio e inveja, para remirem teus erros. Porém,
se errares voluntária e dolosamente, seja uma pessoa dura consigo
mesma e não esperes de terceiros um perdão que nem tu mesma poderás
conceder-te sem que tenhas sorvido, até a última gota, o intragável
líquido trazido pelo cálice do remorso... Não há desculpas, nem
as queira encontrar, para o mal que está sempre à espreita.
Cuida-te e afasta-te dele, não o releves, subestimes ou te torne
caixa de ressonância de sua desfaçatez e perdição. Para isso, no
mínimo é necessário que acredites em ti e nos princípios sadios
que um dia portaste e que vivências tortas, quem sabe, fez com que
os negligenciasse...
É preciso crer e
praticar, verdadeiramente, isso tudo, pode ser que assim não se mude
o mundo, todavia muda-se, para melhor, o universo que é próprio,
único, exclusivo de cada um e que é construído todos os dias por
nossas próprias mãos, gestos, atitudes e, bem o sabemos,
gostaríamos de o encontrar como imagem límpida, alva, cristalina,
pura e sem mácula, ao olharmos no fundo de nós mesmos.
E quando te sentires
atingido pela maledicência alheia, injustiçado e, adiante, tenhas a
oportunidade de revidar, no mesmo ou em maior tom, não esqueças que
és muito maior que a vingança, que esta tem o amargo gosto do fel,
nada tem de bom e por isso não pode gerar qualquer tipo de
felicidade. Mesmo a pequena vingança é inútil, descolorida, sem
nexo ou efeito, como aquela praticada pelo menino que até os dez
anos jamais tivera sapatos e, um belo dia, ao receber de presente um
par, calçou-o e, como primeiro ato, correu ao campo pisoteando,
esmagando rosetas, mesmo sabendo não mais serem as mesmas que um dia
feriram seus pés. Sua alma ficou menor, pois não percebendo a
essência e significado para si daquele par de sapatos, deixou de
interpretar e vivenciar toda a magnitude, proteção e tudo mais que
o calçado lhe trouxera e oportunizara. Não viveu a plenitude desse
momento feliz, ao contrário, preferiu pisotear e esmagar rosetas...
Inúmeros fazem isso de suas vidas e nela se comportam como aquele
menino...
Guerra, violência,
ódio, são filhos dos mesmos pais, preconceito e intolerância. Não
existem guerras justas, santas ou com qualquer adjetivação
positiva; os motes que as produzem, individualmente ou unidos, são
questões religiosas ou questões econômicas, ungidas do aparato
vital à guerra, a prepotência. Violência se irmana à impunidade,
um portentoso mal que solapa, dilapida, extingue a moral e a ética.
O ódio é
o amor doente, segundo a correta definição de Cardenal, poeta
nicaragüense. Para odiar é preciso antes ter amado, por isso o mal
que dele provém faz menos estragos do que a indiferença, esta sim a
maior vilã de todos os tempos, pois que transforma o homem em
icebergs a procura de “titanics” e, de uma só vez, expulsa a
solidariedade, a fraternidade a real compreensão e grandeza que
reveste ou deve revestir, sendo a essência do ser humano. De todos
os sentimentos, o pior é a ausência deles que chamamos de
indiferença. O gelo gela e queima não apenas para confirmar a
dialética de Hegel, todavia para dar a extremada amplitude da
ausência de sentimentos, do não se importar com este nada que,
esquecemos, está contido no tudo que sempre buscamos.
Infelizes aqueles que
se deixam contaminar pelo fanatismo, seja ele de que natureza for. O
fanatismo é aberração, negação de valores individuais pela
desinformação radical que o professa e estimula. Revigora-se em si
mesmo e transforma o homem na besta fera que, pretensiosamente,
enxerga naqueles que não comungam de suas crenças e credos. Ele não
dialoga, tenta impor pela força o que acredita. Por isso muitos
compram “cadeiras no céu” e saem por aí, vendendo a ilusória
condição que os leva a se acreditarem portadores de uma verdade
absoluta. A verdade absoluta não existe. E se olharmos com
profundidade tudo isso, a gênese dessa verdadeira lavagem cerebral
que atinge tantos fracos, lá estará alguém levando vantagem
pecuniária, o bendito-maldito dinheiro dando cartas e jogando de
mão. Ao que tudo indica não tem maior ou mais lucrativo negócio do
que a comercialização da fé, quanto mais cega, melhor para os
magos que transformam os incautos, tantos fracos e desassistidos, em
fontes de barbáries, alto-falantes propagadores de panacéias e
ilusões. Em resumo, enquanto alguns continuam se exercitando e se
consagrando como vendilhões em troca de moedas, outros, milhões,
esquecidos de que o Deus e a Igreja que buscam fora, está dentro de
si mesmos, se entregam ao fanatismo de que foram contaminados. Pior,
saem por aí contaminando outros, na triste ilusão de que são
enviados dos céus... Quanto desperdício de amor, boa-fé e
caridade, por um nada ou quase nada...
A Bíblia,
por exemplo, o maior de todos os poemas, tem ou dá publicidades na
mesma dimensão dos relatos e verdades trazidas pelo Alcorão ou pelo
Tora que também, como ela, são sagrados. Todavia, se analisarmos
qualquer desses monumentos literários, poemas da maior relevância
plenos de metáforas e lições inesquecíveis, com isenção e com
um mínimo do conhecimento que hoje possuímos, apenas com os olhos
materiais, dissociados do contexto relativo em que foram criados,
afastados da idéia de que são poemas excepcionais, mesmo que, cada
um, tenha sido consagrado e ungido pelos mistérios de um Deus único,
logo chegaremos a conclusão que ali tem relatos que não são tão
sagrados assim e nem Deus, seja Jeová, Alá, ou Tupã o seu nome, os
assinaria ou daria como sua algumas dessas peripécias narradas.
Exemplifica-se, para
não cair no vazio tal afirmação: a certa altura, assevera uma
Bíblia que li, que Joel, um dos profetas menores reproduzidos pelo
Aleijadinho na escultura perenizada em pedra sabão em Minas Gerais,
teria parado o sol, o que não pode ser verdade pelos menos se
analisado dito feito sob o prisma e conhecimento portados pelo homem
atual. À época, dentre uma mão cheia de teorias equivocadas,
acreditava-se que a terra era o centro do universo, com o sol, como
os demais astros, orbitando em seu redor. Pois bem, agora que se sabe
que o sol é uma estrela de quinta grandeza, ocupando em nossa
galáxia o centro, e que a terra gira em si mesma e em torno dele, e
que o sol é a verdadeira fonte de luz, calor e vida, etc, etc,
tem-se a certeza dessa impossibilidade relatada, por isso, falaciosa.
Para comprovar tanto nem precisamos alçar vôo, basta observar os
efeitos de uma boleadeira girada e impulsionada pela mão humana à
cata das patas, queda e prisão do rápido e arisco inhanduí (como o
gaúcho da pampa denomina o avestruz). Fosse a terra o centro, as
bolas dessa boleadeira celeste nada sofreriam pela paralisação de
uma delas, o sol; imagine-se porém o contrário, sabendo-se, como
agora sabemos, que é o sol o centro... Todos os planetas de nossa
galáxia, inclusive a terra, se chocariam, nem Joel ou seu povo
restariam vivos, muito menos nós que não estaríamos aqui para
contar qualquer história, porque não existiria sequer história
para ser contada.
E não se venha com o
argumento de que o profeta menor, Joel, teria realizado um milagre e
por isso, por ser milagre, não tem explicação e bem assim ele de
fato, por milagre, teria parado o sol. Não confundamos milagre com
uma ocorrência impossível da qual resultaria o armagedon, acaso ela
se verificasse; à fé, efetivamente, dá para se creditar
praticamente tudo, todavia nenhum milagre pode ser considerado
milagre se dele decorrer uma catástrofe maior que ele e que
atingiria a tudo e a todos; sim, porque fosse verdadeiro que Joel
teria parado o sol, a terra e a humanidade, por efeitos desse milagre
teriam sofrido um colossal, catastrófico, irrecuperável revés.
Milagres existem e
cotidianamente acontecem. Basta observar a si próprio ou qualquer
outra pessoa, todos são milagres ambulantes, ratificados a todo
momento. O milagre de ter nascido, o milagre de continuar vivo, o
milagre de realizar, por livre arbítrio, seu próprio caminho, o
milagre de ser instrumento de geração de outras vidas, o milagre de
se saber presente olhando e esperando o amanhã que ainda, neste
agora, não existe, o milagre de se saber tão insignificante quanto
um grão de pó e ao mesmo tempo tão imenso quanto o universo único
e exclusivo que carregamos em nós...
A propósito, veja-se
um recém nascido, seja animal racional ou irracional ou vegetal, e o
que se tem diante dos olhos é um livro aberto, sem página escrita
que, todavia, em seu âmago trás em si as anotações e heranças
genéticas que seus ascendentes lhe transmitiram. Porta o animal
racional, o homem, o conhecimento e descoberta do sorriso, da
lágrima, acompanhados pelo conhecimento e consciência de sua
própria finitude, da morte enfim (física, ao menos) e também desse
monumental e corriqueiro equívoco de se pensar dono do tempo e,
quiçá, eterno. Ignorando tudo isso, o animal irracional, não ri
nem conta seus dias pelo fúnebre conta-gotas do menos. Por causa
disso, refletindo sobre a ignorância do animal irracional, muitos
creditam que teoricamente a ignorância é uma fonte de felicidade
que pode tornar as pessoas que a servem bem mais felizes do que
aqueles que se entendem ou são apontados como sábios. Ledo engano,
pois que àquela produz a escuridão, esta ao contrário, a luz.
Ademais disso, a pessoa ignorante é presa fácil às aves de rapina
que dela se servem. Paradoxalmente, entanto, os verdadeiros sábios
são conscientes de que sabem bem menos do que gostariam, entendendo
que a sabedoria é um deserto cheio de oásis e, no máximo, em sua
existência conquistarão um ou alguns desses oásis e que se dele ou
deles se descuidarem, as areias, ervas daninhas do obscurantismo,
virão soterrá-los. Por isso o verdadeiro sábio espalha o
conhecimento que possui, pois se não der a devida publicidade, de
nada o mesmo terá valido e no oásis descoberto evaporará a água
sem que a humanidade possa bebê-la.
Ah! O sorriso, a
gentileza, são chaves que abrem qualquer porta. Usem-nas sempre,
desde que não se abdique de seus princípios, sem resvalar à
subserviência ou se deixar seduzir pelos pretensos poderes e
ostentação gratuita dos poderosos. A humildade e a esperança são
dádivas que jamais devem ser abandonadas ou subtraídas de teu ser.
Não confundas, entanto humildade com humilhação e a esperança com
sonhos tresloucados, lembrando-se que mais forte que o carvalho é o
junco, pois que, este se dobra mas não se quebra ao vento. E quando
estiverdes cansado, triste, deprimido, lembrai-vos do que José de
Alencar expressou como última frase (mais que isso, um verso) de
“Iracema”, “...tudo passa sobre a terra”. Tuas dores e
alegrias também passarão, como tu. Um dia o amanhã não virá para
ti e nem por isso o sol deixará de nascer com todo seu esplendor
para os que continuarão aqui até ali adiante. Não te decepciones
se não conseguires firmar-te como uma árvore frutífera ou
produtora de madeira forte necessária à construção de casas e
sonhos, não esqueças que podes ser como o umbu (árvore oca, de
madeira mole sem serventia e que também não produz frutos
comestíveis) que em sua copa dá sombra e abrigo para terceiros, por
isso mesmo não menos importante que as outras árvores...
Não tenhas medo da
morte, é desperdício inconsequente ter medo do inevitável. Viva
de forma que, ao morrer, se confirme a expressão cunhada por Ernest
Hemingway no fecho do romance “Por quem os sinos dobram”, que
informa que toda humanidade perde quando a morte ceifa uma vida e
àqueles que perguntarem por quem os sinos dobram, seja respondido
que dobram por eles mesmos que mantém o sopro de vida que, então,
te terá abandonado. Tenhas medo, sim, de não aproveitar o doce,
amargo, salgado e adstringente sabor da vida. Ela está em ti, faça
dela o melhor que puderes. Vive-a com o delírio dos que creem.
Mantenhas sempre, não
importam as vicissitudes em que te vires jogado, acesos teus ideais.
Embora todos os desconfortos, a magia dos ideais te fará mais
humano, atuante, vivo. Não dilapides teus sonhos de quando criança,
porta-te como uma quando estiveres em meio a elas. Dá atenção e
apreço às pessoas que fazem parte de teu cotidiano e mesmo aquelas
que passam por teu destino, sem tempo de serem reconhecidas ou
amadas. O mundo necessita de teu amor imensurável, não se deixe
esturricar a alma pela falta dele que está em ti e muitas vezes pede
socorro para viver toda sua plenitude e grandeza na entrega que deves
ofertar a todos. Não te deixes intimidar ou diminuir diante dos
infortúnios, tens a liberdade e o dever de vencê-los pois que és
feito de um barro sobre o qual realizou-se o milagre do ser. Não
tenhas, sejas; no andar, caminho e sonho dos outros, não sejas,
estejas como um facho, distribuindo luz, compreensão, afeto e paz.
Cultives a amizade, o
melhor e mais divino de todos os sentimentos, sem outros interesses
que não o bem estar da pessoa de quem és amigo. Esse amor não se
explica ou justifica, apenas se doa sem prevenção ou entraves.
Sejas bom. A bondade,
mais do que virtude, é obrigação. E bem assim, exercitando-a,
estarás compondo a maravilhosa sinfonia do sim e cumprindo com
louvor o que desde sempre te foi destinado.
Independentemente de
posição social ou poder do agente, o futuro é um obstáculo escuro
e sem legendas, como um pântano a espera de ser drenado. Embora se
possa desejar, para si ou terceiros, apenas o que na páscoa se
efetiva, nela não se chega sem antes passar pela dor da Sexta-Feira
Santa. Por isso, necessário entender que a dor, o sacrifício
cotidianamente presente em nossas vidas e sob diversas formas
vivenciados pelo ser humano funcionam como catalisadores de nossas
próprias mazelas e resultantes de nossos próprios erros assim
cobrados, porém e também, esse caldo de cultura pode ser
transformado como início de futuras realizações.
Ofertando os poemas,
infra, pretende-se enfatizar, demonstrar o supra afirmado na forma de
prosa, buscando, através das metáforas e musicalidade que
modestamente se entende neles contidas ampliar, ratificando, a
universalidade da simplicidade que permeia o presente ensaio.
RETRATO DO AVESSO CONTINUÍSMO
De súbito,
entendi! A humanidade, no alvorecer do terceiro milênio
É o tempo o
senhor geme à busca, por qualquer meio, dos inteiros
Sou apenas o
súdito sempre perdida em emaranhados de problemas
Sem queixas ou
pudor. Prostra-se à eternidade dos esquemas fracassados
Então, assim,
percebi Nada vê além do umbigo, momentos no escuro,
Que o sim e o não o egoísmo corroendo o agora, futuro, pensamentos
Em qualquer versão pensa inocente que nada fica na corrida dos segundos
Ou mesmo endereço exceto a dor que estraçalha os trajetos deste mundo.
Não tem razão de
ser
Ou ter, tudo é
começo.
Minhas escolhas E o escárnio estancou o riso, fez do abraço o açoite
São folhas soltas e do latifúndio da ironia brotou o espaço da noite
Que reprimem
orvalhos dilacerando o dia que morreu triste, sem
aviso,
Do ontem, de
atalhos, preso às queixas do cotidiano, sem improviso.
Que, sem me dar
conta, Assim se esfola inteiramente a humanidade
Despedacei em
tédio. em tristes e obtusas figuras de jogos difusos
Pretenso remédio dos seres gregários que arrastam pelas cidades
Que não faz a
cura os pesados fardos de seus egos sós, confusos.
Das tantas juras
Do
inalcançável DEIXEM-ME O AMANHÃ
Que,
indisfarçável, Tirem-me tudo, se assim entenderem que
mereço
Em mim repousa. Exceto o amanhã que não tenho, nem conheço.
Presas do tempo O homem vive de perspectivas,
Todas as coisas de fantasia, da utopia e seu adereços
O bem, o mal e o que paga pelo hoje que já vai ontem
Ir-se-ão sem
ter é o resultado de suas ações e omissões.
O som do agora, justo ou injusto, paga-se o preço.
Do meu sofrer O
amanhã que nunca tenho, pode trazer
E dos gozos
meus... em suas dobras o que me falta para só ser
Todos os sabores, ao
final, inundando o leito seco do riacho do agora
Dos meus amores, com águas puras originadas d’outras auroras
De minhas dores, e meus excessos na dor que espanca
No agridoce do
adeus! nelas banhados renascerão em esperanças.
Vida na vida,
sonho encantado, o avesso
destes tempos
rudes que vivo e sei, mereço!
Tirem-me tudo,
menos o amanhã
Que não tenho e
nem conheço!
(Itagiba
José)
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