sábado, 13 de junho de 2020

O QUE É DA ÁGUA...


Olhava uma gravura que despencou
De um calendário sem data ou rito,
Cena rural e a natureza a sangue frio
Falou-me do que fui e não mais sou,
Mais que em voz alta, além, aos gritos
Vociferou, desconectou meu desvario.

Choupana rústica, telhado de capim,
Córrego, ouço a acústica das águas
Passando sob o pontilhão de madeira,
Tudo simples como tudo fora em mim
E já não era, afogado pelas mágoas
Dos fracassos de uma vida inteira.

Perdi o que só eu tive e nem merecia
O ar que respirava, meu paraíso, ali,
A estultice cegou-me, o sonho feneceu
Sem ele, sem vida, sem o que seria,
Assassinei o que tive e o que não vivi
Em meio a estupidez desse tudo eu.

Quis mais quando tive tudo e não sabia,
Quis mais e tudo perdi e mais não tive
Entorpecido pelo fanatismo maleva
Quis o poder, do mundo toda riqueza.
Derrotado, que disso ninguém duvide:
Sempre, o que é da água, a água leva!

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