quarta-feira, 30 de setembro de 2020

DEBALDE

Ouço barulho de passos femininos na despetalada calçada do meu nada / e de novo, os sinto passando sem pausa, ou sutileza, ou pressentimento. / Apenas o toc-toc da batida dos saltos finos transmitem aos meus ouvidos / um nunca mais que teima em brincar de um esconde-esconde, sem sentido. / Do quase tido que nunca me abandonou, único flerte que não me abandona, / tatuando a pele com a desesperança e morte de sonhos que foram só meus / … e, quem sabe, e como acreditei e mais desejei, possam terem sido teus...! / Após o insensível ruído, de novo o silêncio retoma a cena e vem à tona, / não sei como ele explode tanto quanto o conhecido som do desalento / vestindo-se de solidão, íngreme estrada que se alimenta de tormentos. / Pequeno que sou, menor me sinto e, bem assim, muito menor eu fico / nesta modorrenta fase do nem sempre visto ou vivido, nem jamais dito, / calando a frase presa à garganta dessa infindável bruma em que me vejo, / ao relento das promessas vãs, agouro de pássaros, sem trinado ou solfejo / no horizonte impregnado dos fracassos produzidos por um idiota antigo / que teima em me mostrar como eu fui, como eu sou e o que eu fiz comigo!

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