domingo, 15 de março de 2020

OBLÍQUO


Percorreu sua existência como se fosse um morto,
um quase morto, um morto vivo, um vivo morto
e o que falou Zaratustra pouco lhe disse, ou diria
um nada bem maior que o nada, p'rá seu conforto
no trôpego andar de seu inenarrável dia a dia.
N'outro nível terno, amante contemplava estrelas
fazendo de tudo para encará-las, contê-las, vê-las,
beber a plenitude do estonteante brilho que cega,
cambaleante, vesgo, na tonteira da plena entrega.
Assim passou mirando céus, travando cancelas
em uma vida oblíqua, estremecida nos alardes
dos viscerais mais ou menos, ou cedo, ou tarde,
escondido no lusco-fusco de bruxuleantes velas.
Quando então seu coração e mente silenciaram
em meio às tormentas do se acordar quem sabe,
seu passar anônimo se fez palco do onde só cabe
a fantasia e os sonhos dos que realmente amaram.

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