terça-feira, 3 de março de 2015

CIRANDADO


Guardei na bainha a adaga... àquela, ainda suja do sangue da vaca amarela:
Quem mandou fazer aquilo, um dilúvio na panela, mil quilos da amarela?
Perdi mais de mil rodas, sem perder rodas cutia,se p’rá alguns saiu de moda
Quero, só para as gurias, cantar verso pé-quebrado, de maçãs e melancias...
Quem mandou rodar o tempo esquecido da titia, perder noites, perder dias,
perder sopros, alquimias? Foi Jó que teve escravos, rosa, cravo, cachimbó!
A ciranda que foi “inha”, cirandou e fez passar, volta e meia, meia volta,
quem mais deu?.. quem mais vai dar?... os guerreiros da vovó?
Quem mandou perder os dedos pelo vidro do anel?
Quem mandou perder-se em medos e ser o bobo do quartel?...
Sou pobre, pobre, pobre, lá da ponte do Ibicui, passam ricos, os nobres, todos passam por ali... Tu também passa em mim pela ponte do Ibicui,,,
De marré, marré, deci *, pedir filha em casamento é negado ainda assim...
Quem mandou negar a fé se a riqueza está no sim? Oferecer ouro e prata
Até sangue de barata, sem conseguir ir até o fim
destes passa-passarás em que se quer passar, ficando com o que não vinha
de um futuro que estava além de lá, em amanhãs que a gente tinha...
- Quem mandou trancar porteiras às escoriações vividas?
Quem mandou fechar fronteiras sem curar todas as feridas?...
Por isso dona vida entrei dentro dessa roda rodando espirais de nada,
sem dizer frases bonitas, sem saber quando e quanto era a entrada...
Quem mandou viver saudades da infância que era tão minha?
O tempo não tem idade ou instância que eu nem sonhava que tinha...
E as brincadeiras antigas, de roda, prazer, cantigas, repassadas em folhetim
enquanto um inocente sorriso volta inteirinho p’rá mim...


*(Marais, bairro pobre de Paris, França; o de marré, marré, deci, da brincadeira é corruptela da expressão “marais je sui”, cuja tradução literal para o português é “de Marais eu sou”).

Nenhum comentário:

Postar um comentário