quarta-feira, 3 de março de 2010

Cavalos de batalha

As rodas de borracha deslizavam
mansamente na cidade grande
e nada chamaria mais atenção
naquela tarde de chumbo e sol
do que tanta miséria retratada
no todo daquela carroça.
Própria ironia como se buscando
um lugarzinho no asfalto,
se postara imediatamente atrás da carroça;
um carro importado buzinava,
queria empurrar o lixo à frente,
dobrar a rua, desviar, fugir ao contágio...
Percebido um gesto fugídio,
nervoso, da mão que varou o espaço
indicando entrada à esquerda,
o mundo parou como sempre
para a miséria atravessar a rua
sem saber qual o mais infeliz
se o cavalo ou o carroceiro
ambos desnutridos, desolados
puxando seus infortúnios,
um atrelado a uma carroça
o outro, sem saber como ou por que,
atrelado ao chumbo e sol da vida.

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