quarta-feira, 3 de março de 2010

Incógnita

Quem és?
vens de uma noite
que ninguém entende
e dilapidas um dia
que ninguém viveu.

Quem és?
sorris ante a ignorância
e te serves dela como um trunfo
e te esqueces dela como um sábio.
Talvez sejas a solidão, a dor,
ou simplesmente a verdade
que não quero admitir
nem enfrentar. Quem és?

Ah, reconheço em teu aroma,
em tua obesidade, o volume
crescente de tua coragem
e, apesar de minhas negaças,
como o tempo, estraçalhas as mesmas
e surges imponente e grave
no manto que cobre tua nudez
e reduz o teu impacto.

Como uma artista de mil predicados
no strip-tease do tempo
deslizas o manto e te descobres
aos olhos curiosos do historiador.
Por que não me deixas tocá-la, agora,
tal como és, sem sombras ou dúvidas?
E em troca me dás, a minha certeza,
a verdade que os séculos cobriram de pó
e nem recompensas a minha procura,
ao contrário alimentas as minhas perguntas...
Quem és?

2 comentários:

  1. Prezado Itagiba, gostei do estilo e do conteúdo.

    Certa vez li que escrever e ler são rituais antropofágicos, pois aquele que escreve transforma sua carne e seu sangue em palavras. Logo em seguida, aquele que lê absorve as palavras lidas em sua carne e seu sangue, fazendo circular no corpo os pensamentos que antes eram do autor.

    Acho que que acabei participando disso ao ler os seus poemas. Devo acompanhar outras postagens.

    Forte abraço, Darwinn.

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  2. Ilustre poeta, vejo, no detalhe, a Ponte "De La Amistad", marco que não poderia deixar de estar presente tal referencial que efetivamente é, na sua vida, pois, é natural de Uruguaiana. Ao abrir o blog já encontrara símbolos do Internacional que é o Clube Desportivo do poeta, outro referencial impossível de não constar. E a citação dos tres livros que escreveu e que são o, digamos assim, passaporte do poeta. Os poemas entram como parte principal do blog e já conseguiram até um antropófago que, por manifestar-se com esta visão, quase certo que é mais um poeta na família dos que cultivam a bela arte. Parabéns por adentrares a este espaço na Rede, para levar a Poesia aos quatro cantos do mundo, embora o mundo não tenha cantos, sendo apenas, esta expressão, mais uma criação de um dos nossos (poetas) anônimos no tal mundo que habitamos. Quanto aos poemas, indiscutivelmente, não há o que comentar, pois falam por si próprios e, com qualidade ímpar. Quanto à antropofagia, é certo que existe, de parte dos que os leem. Mas, milagrosamente, não são devorados e permanecem intactos fisicamente para alimentar a humanidade. Luciana Carrero, Produtora Cultural, credenciada pelo Governo do Estado, reg. na Lei de Incentivo à Cultura, no RS.

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