sábado, 20 de fevereiro de 2010

De óculos escuros

Hoje, estou a olhar o mundo de óculos escuros
e vejo tudo cinza...
Desanimo ante a perspectiva de enfrentar meu dia
e a natureza contribui para esse desânio,
está quente, grave, abafado.
Apesar disso tenho de fazer o que faço sempre
agir no mesmo diapasão
e dedilhar o conhecidissimo teclado
da velha máquina de escrever,
cair na mesma rotina cheirando a mofo.

Quando menino colori meus óculos de cor-de-rosa,
depois várias cores alternaram-se nas lentes
exceto a rosa que, agora sei, não mais virá.
Ao verde da adolescência sucederam o vermelho,
o amarelo, o lilás e este cinza que me cerca
e me força a usá-lo cada vez mais
mantendo-o, possivelmente como símbolo
do azedume recolhido ao interior de meu ego
durante minha própria campanha na vida.

Espero que minha decadência física,
amanhã, seja minha ascendência moral
e possa cobrir de branco o contúedo inócuo
trazido nas lentes da reminiscência.

Por enquanto e pelo menos, hoje,
estou olhando o mundo de óculos escuros
e posso afirmar, com toda a certeza,
não há beleza no que vejo!

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