sábado, 27 de fevereiro de 2010

O direito de estar só

Um dos gêmeos, revoltado resmungava;
o outro, mais humilde, permanecia quieto.
O primeiro estendeu-se comprimindo o outro
e tudo não passava de uma provocação.
Não estavam delimitadas suas áreas
e nem cabia acordo. Ao mais forte, tudo!

Enquanto se dilatava o ventre da mãe
um sugava o alimento, o outro a fome;
um o poder, o outro a servidão;
um a exuberância física, o acinte,
o outro a fraqueza, a humilhação;

E quando vieram ao mundo
ultrapassando o portal do indizível
o esfomeado engoliu o seu ódio,
o opulento engoliu seu orgulho
e mesmo assim conseguiram permanecerem sós.

Abortados, jamais viriam a saber
que repetiram em um ventre de mulher
o drama do ventre do mundo.

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