sábado, 27 de fevereiro de 2010

Moleque engraxate

Tão cedo para a vida acordaste
moleque engraxate, tão cedo choraste
o choro que o mundo te provocou
moleque engraxate a ilusão terminou.
Caminhas inseguro, moleque engraxate
carregas na língua a fala que bate,
pequeno e sisudo, arguto e vilão,
apreendes e professas outro palavrão.
Proclamas a glória de saber lustrar,
tu que não sabes nem mesmo brincar
e o germe que viça no peito inocente
é o virus do ódio que por tudo sentes.
O amor, a infância, são coisas banais
sofres na carne da realidade punhais
e as feridas abertas não cicatrizarão
sucumbes ao vício, desconheces perdão.
Trabalhas agachado aos pés d'outra gente
por míseros centavos te tornas contente
e pensas que dinheiro, moleque engraxate,
a tudo e a todos convence e abate.
Ah! quando te olho assim na sujeira,
na altura do nada, criança fagueira
deploro esta vida de muitos madrasta
que divide homens em classes e castas.
Vejo-te moleque sem eira nem beira,
moleque engraxate entregue a fogueira
do mundo imundo que bate e tonteia
e te fez tão jovem conhecer suas teias.
É noite e ainda tu andas nas ruas,
perambulas sem dono, sem lar, continuas...
Apregoas tua fibra moleque falaz,
moleque engraxate, que pena me dás!

Nenhum comentário:

Postar um comentário