sábado, 27 de fevereiro de 2010

Ponto e vírgula

Estava na rua
e a frase surrada dita pelo velho amigo
soava aos meus ouvidos antes como advertência
do que consolo; não te preocupes, dissera ele,
se uma porta se fecha, dez se abrirão.
A fixação era que aquela porta fechada
ainda há pouco presente, agora era passado
e as dez referidas sem a precisão matemática
representavam um futuro incerto e não sabido
escondido no mutismo próprio do futuro
todavia encravado em tantas vicissitudes
que rigorosamente escapavam ao meu domínio.
Analisei a situação, poder-se-ia dizer
que me encaminhava às férias tantas vezes negadas
mas não era essa espécie de férias que desejava
e nada mais injusto do que tal descanso.
Não era ponto final, isto eu sabia,
no máximo aquilo representava um ponto inconsequente
interrompendo uma frase quase período.
Era evidente que gostaria de minimizar o fato
dando-lhe a amplidão restrita de um ponto e vírgula.
E lá estava eu, na rua, enfrentando a busca de,
pelo menos conservar o status adquirido,
sabendo de antemão que entre a oferta e a procura
eu poderia oscilar na defasagem do tempo
e me reter demais na indecisão.

As grandes questões econômicas e políticas
continuavam a gastar as energias do meu País
e a minha questão, de mera sobrevivência
gastava a energia do meu e de outros corpos
próximos, além de muita sola de sapatos.
E o mundo repassa em minha retina e percepção
voltadas ao jornal de empregos,
estava na rua como tantos outros
e o ponto e vírgula quase significava
um obstáculo gramático de rara proporção...
E a minha questão se confundia com a questão
maior do meu país subdesenvolvido,
lá estava eu, com mil portas por abrir!...

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