Chovia.
A chuva açoitava,
com grossos pingos,
a vidraça da janela.
Um pingo
correu celeremente
em toda a extensão
do vidro frio ...
Perdeu-se no anonimato.
Outro pingo
recebeu companhia,
cintilou, reviveu
provou que, ainda,
dois é mais que um.
Tantos pingos,
alguns sós
outros acompanhados,
descendo açodados
a vidraça impessoal
para reunirem-se
na esquadria,
para perderem
a forma,
a individualidade
em holocausto ao todo,
ao infinito.
A humanidade é pingo
na vidraça do mundo.
A vida é a janela
para a eternidade.
Quantos pingos
correm celeremente
e se perdem
no anonimato?
Pingos desiguais
no formato
mas, no fundo
igualados
pela procedência,
todos irmãos da razão.
Pingos sós
e acompanhados
marchando
na lividez do tempo.
E, após percorrida
a vidraça impessoal,
chegar à esquadria
não importará o porte
e sim a substância
sem ânsia, na morte
da matéria
o nascer para a vida
que é o destino,
uma célula apenas,
do Universo divino.
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